O piloto acordou cedo, mas como sempre acontecia, Fernando continuava dormindo. A chuva continuava caindo, agora com menor intensidade, mas não parara desde o dia anterior.
Antes de saírem, limparam a lama que vez por outra está prendendo o pistão do carburador, fato que representava grande perigo para eles.
Às 8h30 colocaram mais gasolina e pegaram estrada. A chuva continuava miúda, mas dentro em pouco cairia um “toró” que faria a estrada ficar totalmente mole, parecendo estarem trafegando sobre doce de leite e obrigando andarem somente em 2ª marcha e só vez por outra em 3ª marcha. Na 4ª e última, nem pensar. Neste momento fizeram uma parada e estão agora sozinhos e abrigados num posto de gasolina abandonado, descansando e dando um tempo à chuva que estava caindo mais pesada.
A provisão de comida, pelo visto, deveria acabar naquela noite. Água não tinha e nem arriscavam beber as dos rios por estarem totalmente imundas por causa das chuvas. Para aliviar a sede, chuparam umbu (apanhados na beira da estrada) que tem suco azedinho e tapeia bem a sede.
Por volta das 11h passaram próximos à Fazenda Santa Luzia e às 12h chegaram ao povoado de Placas, onde comeram a carne de sol que levavam. Este trecho de estrada era também ruim, com vários atoleiros que tomavam toda a largura da estrada, obrigando-os a sair e irem para o mato (quando possível) ou então subir pequenos barrancos para afastarem-se dos atoleiros.
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Novamente aconteceu de saírem da moto, deixando-a em pé para fazerem os mesmos procedimentos adotados lá atrás, quando estavam perto de Caruaru.
Falando em Caruaru, agora na volta não entraram nessa cidade para rever o pessoal hospitaleiro por causa da chuva que estava terrível na oportunidade e também pelo fato de terem errado a estrada, caindo inclusive no atoleiro onde pela primeira vez fizeram a esteirinha de gravetos para poderem passar.
Naquele dia quase não havia trânsito na estrada. O pouco que havia era para o deslocamento de um povoado para outro próximo, pois quem se atrevia ir mais longe chegava num ponto em que atolava ou tombava. E carro, ônibus ou caminhão atolando, só quem tira do lugar é trator, mas até trator atolado e virado viram pelo caminho.
Passaram por vários lugares onde só motocicleta passava e mesmo assim tinha de ser “artista” para controlá-la no barro. Viram pelo caminho muitos caminhões, ônibus, carros e pessoas presas na estrada. De trecho em trecho passavam por grupos de motoristas, que se juntaram a fim de se protegerem contra algum assalto e também sobreviverem quanto à alimentação. Souberam também que muitos desses grupos invadiram casas, sítios e fazendas próximas a eles a fim de furtarem animais para matá-los e depois comê-los como instinto de sobrevivência.
Quando vagarosamente passavam por esses grupos na estrada o pessoal dava vivas e gesticulava saudando-os, mas os dois não paravam, simplesmente acenavam e iam passando ao largo.
Com muita dificuldade, às 17h chegaram a um pequeno povoado de nome Peba e lá pernoitaram.
Em alguns povoados por onde passaram ouviram comentários que o presidente Juscelino Kubitschek mandara jogar víveres de paraquedas nessa e em outras regiões a fim de evitar invasões dos desabrigados na busca por comida. Ouviram, também, que a ponte em Petrolândia sobre o rio São Francisco havia sido destruída pelas forças das águas do rio (aonde na ida eles jogaram uma pedra da ponte até ao leito do rio).
Então pensaram:
“se isso aconteceu houve um dilúvio, uma verdadeira catástrofe”. Até lembrando a histórica Arca de Noé.
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Motociclistas Invencíveis
Semanalmente vamos publicar, aqui no Viagem de Moto, capítulos do livro Motociclistas Invencíveis, romance extraído de uma viagem com moto ocorrida em 1960.
Conduzindo na garupa da moto um amigo, piloto sai do Rio de Janeiro por estradas de terra a fim de encontrar sua linda namorada, que saindo de Itabuna (BA) para morar no Rio de Janeiro, de repente, da noite para o dia, desaparece sem deixar rastros. Chegando a Itabuna, o piloto descobre que ela fugia de assassinos (contratados para matá-la), pelo fato dela ser testemunha do assassinato de seu pai, ex-cacaueiro na região.
Por acontecerem muitas aventuras e novos amores pelo caminho, foram até a Paraíba.
Enfrentaram sol, poeira, chuva e lama. Ajudaram, foram ajudados, acontecendo inclusive que, por levarem uma garota (estava num leito de morte) entre eles dois até ao hospital, salvaram sua vida. Em si, a história mostra como eram os motociclistas Nos Deliciosos Anos Dourados.
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