Olá, você aí no futuro !
Vou contar-lhe deste meu tempo, movido a gasolina. Sim, combustível fóssil… dá pra imaginar? Calor, fumaça, barulho, trepidação, engasgos e oscilações… acho que isso descreveria minha moto, uma Harley-Davidson, mas seria incompleto.
Você nem imagina que ainda saímos por estradas desertas, sentindo vento no peito, sem que necessariamente ninguém saiba, nem nós mesmos, aonde e quando vamos chegar ou porquê.
Podemos ter e dar apelidos, podemos andar sós ou em bandos, parar em qualquer lugar e simplesmente olhar ao redor. Ainda sabemos o que queremos, sentimos e criamos nossa própria música, cozinhamos nossa comida e podemos dormir sob o céu.
Paramos num posto de abastecimento, enchemos o tanque, tomamos café e comemos a porcaria que quisermos. Qual problema ?
Nestas estradas nos sentimos livres, desconhecidos, desconectados do virtual. Nossas máquinas nos carregam enquanto nossas forças se esvaem e cedemos ao cansaço, às intempéries ou às necessidades elementares.
Levamos mapas, eu e minha mulher na garupa, corpos colados sob risco de morte e isso não nos amedronta, pois ainda nos cabe escolher, arriscar e pagar por isso.
Alguns de nós têm tatuagens, outros usam cabelos longos ou barba, brincos, ou adornos metálicos. Muitos vestem couro natural e veem nele a melhor proteção na estrada.
Mas não há proteção !
Você aí no futuro está nos invejando e lamento dizer, tem razões pra isso. Já podemos sentir o aroma do seu tempo, controlado, insípido, previsível..
Acelerando nossas montarias de metal deixamos até o futuro pra trás.
Resta apenas agora, um horizonte real, vasto, infinito que nunca desistimos de alcançar.
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