20º dia – Caleta Olívia – Bariloche

Acordamos por volta das 6 horas da manhã. O sol ainda estava tímido e saímos para tomar café pelo caminho. Tiramos fotos com um nascente à beira mar muito show de bola. E o frio comendo a gente pelas beiradas.

Estávamos com o propósito de rodar naquele dia 1.100 quilômetros até Bariloche e eu com o pneu dianteiro novo, animava mais ainda. Mas quando andava a 160 por hora, um imprevisto, o pneu não estava balanceado e a moto vibrava como um liquidificador. Não pude passar de 160 por hora, e as vezes que passei segurei a tremedeira no braço. Mas o que não sabíamos era que iríamos passar pela maior tempestade de vento das nossas vidas. Desde muito cedo, quando saímos de Caleta Olivia, percebíamos que a região desprovida de qualquer montanha, morro ou superfície, e por estar localizada geograficamente num canal, tinha ventos capazes de levantar uma moto com piloto como se fosse uma folha de papel ao léu. Na minha frente seguia Oliveira e à frente dele Kadim, quando percebi algo muito além do normal e vi Kadim sendo levado pelo vento da pista dele para a outra pista a esquerda e quase chegando no acostamento do outro lado que é de pedras, mas ele conseguiu retornar a pista, e Oliveira mesma coisa, porém menos. Eu estava abaixado, com o corpo completamente colado na minha moto e em quarta marcha, consegui deste modo me manter na minha pista com a moto completamente inclinada. Naquela hora, pedi muito a Deus para todos nós e cantei a musica… “Segura na Mão de Deus, segura na Mão de Deus e vai…”

Conseguimos passar por aquele momento e seguimos lutando contra o vento, usando a terceira e quarta marchas das motos. Oliveira chegou a dar km na moto dele em quarta marcha e não sabia o que havia acontecido, pois a moto dele havia desligado, daí ele percebeu que estava com o giro no máximo fazendo a XT 660 andar contra o vento.

Seguimos forte mesmo assim, atingindo as vezes 180 por hora mesmo contra o vento. Os ventos continuavam nos surpreendendo e os rodas-moinho se formavam ao nosso lado nas areias do chão árido do deserto argentino e sumiam como vieram, de repente, e logo se formavam outros.

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Paramos para abastecer as motos e encontramos três motociclistas com BMW e Varadero, todos empinados e marrentos. Paramos conversamos e seguimos em frente.

Uns 12 km depois eles passaram por nós como um foguete. Um deles, o da Varadero ficou para trás e nos acompanhou por um tempo, até ficar definitivamente para trás.

Mais à frente encontramos um desvio e com ele o famoso rípio para andar por uns 5 km. Comecei a andar com cautela, Kadim e Oliveira foram mais à frente. De repente os três motociclistas que estavam desta vez para trás, passaram por nós como se estivessem brincando com as pedras no caminho. Segui atrás de um caminhão que ia socando as pedras por uns 2 km e depois percebi que poderia andar mais rápido que ele e o ultrapassei. Depois vi que no desvio tinha uma trilha que saia onde a estrada estava sendo construída. Não pensei duas vezes, atravessei o ripio e subi pela estada à esquerda do rípio que estava sendo construída sem ripio e deslizei pelo chão batido e próprio para se andar com a moto que eu estava, a minha Bandit 1.250 com pneu esportivo. A galera paralelamente a mim cuspia pedras pelas ventas no rípio e eu andando numa boa, sem me matar e me estressar.

Chegamos ao final da obra e ficamos esperando o Oliveira que não aparecia. Eu disse que havia passado por ele. Uns 15 minutos depois apareceu o Oliveira se explicando todo. È porque o galão de gasolina que ele levava havia caído duas vezes da moto e ele resolveu parar e colocar a gasolina que tinha no galão na moto e assim esvaziar o galão. Reunimo-nos outra vez e saímos.

Os caras que encontramos no caminho eram muito inconstantes. Não sabiam o que estavam fazendo, se correndo, se mostrando, ou não sei o quê.

Andamos 234 km e a gasolina de todos estava no limite do limite. Encontramos o cara da Varadero no meio do nada, parado, sem gasolina. Arrumamos da nossa, um litro para ele chegar até o posto da cidade mais próxima.

Minha moto se comportou muito bem no quesito autonomia. Meu pneu continuava a vibrar como um louco dizendo não, não, não…

Chegamos a Bariloche por volta das 7 horas. Ainda era dia. Conseguimos nossa meta de 1.100 km naquele dia.

Procuramos hotel até enjoar, até que consegui achar o Kilton Hotel que fez um preço de 210 pesos argentinos um quarto triplo com cochera, que é assim que se chama as garagens na Argentina.

Alojamo-nos e em seguida saímos para comer alguma coisa, mas acabamos por comer novamente Parrilla.

Até então a famosa cidade de Bariloche não passava de uma cidade favelada e pobre com asfalto e ruas quebradas.

Voltamos para o hotel.

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