Estava tudo preparado para esta viagem de moto, há muito tempo sonhada. Saí de casa às 9h, deixei minha filha no serviço e às 9h30 entrei na rodovia Anchieta, tendo como destino Delfinópolis (MG), para conhecer a Serra da Canastra.
Foram pouco mais de 500 km sem muitas novidades. Paradas apenas para esticar as pernas, comer alguma coisa e desfrutar da viagem.
As estradas estavam muito boas. No estado de São Paulo não é cobrado pedágio de motos. Em Minas passei por um pedágio na cidade de Cassia, onde paguei R$ 2,70.
Enfim, cheguei a Delfinópolis. Atravessei a balsa e fui procurar um local para acampar. Na primeira noite fiz acampamento selvagem, só ouvindo o barulho de uma cachoeira próxima, os grilos e uma paz enorme. O céu estava um pouco nublado, mas mesmo assim dava para ver a lua.
Acordei cedo, levantei acampamento, passei na cidade, tomei um café e abasteci a moto. No trajeto do dia anterior a branquela fez uma média de 29 km/l.
Parti para conhecer algumas cachoeiras. Entrei na estradinha de terra e tive que murchar os pneus, pois havia muito areão, mas a moto foi bem tranquila.
Entrei no vale da Gurita e passei por uma cachoeira, que não descobri o nome, mas muito bonita. Depois de me refrescar em suas águas, segui para a cachoeira da Maria Concebida. Segui as placas e fui passar por uma ponte bem show. Parecia que ia cair em algum momento, mas valeu a pena.
Fiz uma caminhada tranquila de + ou – 1500 metros e cheguei ao sitio da Dona Maria Concebida, uma senhora muito simpática e conversadeira. Lá eu fui conhecer as cachoeiras, muito lindas, com águas cristalinas e geladas. Na primeira tem uma bica de onde sai água a uns 32° (segundo a Dona Maria). Uma delícia. Voltei e perguntei a Dona Maria se havia outro modo de se chegar lá, pois havia visto na internet, que atravessaria um rio e eu não havia visto. Ela respondeu que tinha e me deu as dicas. Fui lá, pois queria muito passar com a moto por dentro do rio. Quando cheguei para atravessar, reconheci o lugar que tinha visto nos vídeos do Youtube. Só que devido às chuvas de março, estava intransponível.
Voltei para a estrada e meu destino era a cachoeira do Ouro, só que peguei uma estrada errada e sai numa serra com alto grau de dificuldade para ultrapassa-la, muito difícil mesmo. Fiquei preocupado, pois não cruzava com ninguém fazia muito tempo.
Em certo ponto, em uma subida muito íngreme, a moto tombou e acabei ficando embaixo dela. A sorte é que tinha protetor de carenagem e alforjes, então tive espaço para as pernas e não me machuquei. Só que tive muita dificuldade para levantá-la, pois estava muito pesada. Tive que tirar a mochila, que estava amarrada, a barraca e o baú traseiro. Só deixei os alforjes, pois ficou difícil tirá-los. Depois de várias tentativas, pois escorregava muito, consegui colocar a moto de pé. Deixei as bagagens ali mesmo, terminei a subida com a moto e depois desci a pé para pegar as bagagens. Suei bastante. Estava bastante calor, acho que a temperatura estava próxima aos 30°.
No topo da serra tive a recompensa: um lugar muito lindo. Parecia que estava sozinho no mundo, só eu e a natureza. Parei ali mesmo para fazer meu almoço.
Depois de andar por muito tempo sem ver uma alma viva, cheguei ao Condomínio de Pedras, no alto da serra Preta. São formações rochosas calcárias, que parecem com prédios. Lugar maravilhoso para contemplação. Acho que há milhares de anos atrás ali foi um rio, pois o terreno tem uma areia muito fina e branca, parece praia. Muita dificuldade para passar com a moto carregada. Encontrei dois senhores que me disseram que pela estrada por onde vinha, nem Deus passava. Ela é extremamente deserta. Só de vez em quando passam motoqueiros fazendo trilha, com motos apropriadas, então não aconselho ninguém a fazer este trajeto sozinho. Eu tive muita sorte, porque Deus resolveu passar por ali naquele dia (amém) e minha branquela foi guerreira.
Enfim, com a ajuda de Deus, consegui chegar à BR-464. Percorrendo 60 km de estrada de terra, rumei para São João Batista do Glória, aonde cheguei por volta das 17h. Como estava muito cansado, resolvi ficar em um hotel que encontrei na cidade, muito bom e barato, apenas 60 reais, tudo novinho e limpinho.
No dia seguinte acordei cedo e revigorado, tomei um belo café da manhã, lubrifiquei a corrente da moto, reorganizei as bagagens e fui conhecer a parte baixa da Serra da Canastra. Queria chegar neste dia a São Roque de Minas.
Segui pelas estradas de terra da Serra da Canastra, que inclui um parque nacional com área de proteção que cobre + ou – 1/3 da serra e o restante por áreas particulares. Toda a parte baixa é de áreas particulares, então você passa dentro de fazendas, sítios, pastos e tem que pagar para visitar a maioria das cachoeiras.
Mas vamos ao passeio: atravessei córregos, passei por paisagens maravilhosas e subi serras. Um lugar extraordinário. Passei por lugares que pareciam outro país em um período medieval. Atravessei o vale da Babilônia, subi a serra Calçada e a serra Branca, onde encontrei uma subida muito difícil. Aconselho só subir se for de carro 4X4 ou moto trail. Mas quando você chega ao topo é amplamente recompensado pela paisagem.
Cheguei à portaria 4 do parque, onde a entrada custa R$ 10,00 e dá acesso à parte baixa da cachoeira Casca D’Anta, a primeira e maior queda do rio São Francisco, com 186 metros de altura. O rio nasce dentro do parque e deságua no litoral nordestino. No dia seguinte fui até a nascente, onde passei várias horas admirando a queda, que estava magnífica devido ao volume de água. Depois tomei banho no rio.
Saindo da cachoeira, rumei para Vargem Bonita, a primeira cidade banhada pelo rio São Francisco, onde almocei. Depois fui para São Roque, aonde fui procurar um camping logo que cheguei. Depois de instalado fui até a cidade procurar um jeito de me comunicar com a família, pois minha operadora não pegava nem gripe. Por fim consegui usar o wifi de uma padaria.
Acordei cedo no domingo, tomei café com o famoso queijo da canastra feito pelos proprietários do camping e depois levantei acampamento.
Queria visitar a parte alta da serra. No parque tem vários lugares para conhecer e várias cachoeiras. Por aqui também se tem acesso à portaria 4 do parque.
E lá fomos nós, eu, a branquela e Deus nos guiando e protegendo. Várias subidas íngremes, valetas, atoleiros e enfim cheguei à nascente do rio São Francisco. Depois de várias fotos, mais estradas e trilhas, cheguei ao Curral de Pedras. Era cedo e tinha chovido à noite, por isso estava coberto de neblina. O local parecia com as paisagens do filme O Hobbit, bem medieval devido à formação e arrumação das pedras. Depois rumei para conhecer a parte alta da cachoeira Casca D’Anta, mas quando cheguei havia muita neblina, que cobria quase tudo. Decidi voltar para a cidade, almoçar e voltar mais tarde. De novo, muita ribanceira, cascalho, areão, barro e atoleiro, que exigiu muita perícia para conduzir a moto.
Assim que cheguei a São Roque, voltei à padaria e me comuniquei novamente com a família. Minha esposa falou que surgiram alguns problemas em casa, então resolvi voltar e deixar o restante dos lugares para conhecer com mais calma em outra oportunidade.
Na volta passei pela cidade de Capitólio, que achei muito bonita, um lugar para uma próxima trip.
Continuei viagem tranquilo, parando algumas vezes para abastecer, esticar as pernas e comer alguma coisa.
Chegando próximo à cidade de Aguaí (SP), o céu caiu em forma de tempestade. Eu já tinha visto as nuvens com antecedência e tinha colocado a capa de chuva, então reduzi a velocidade e continuei viagem.
Após passar por Campinas (SP), a chuva parou e eu continuei direto para casa.
Cheguei à minha casa são e salvo, graças à proteção de Deus. Cansado, mas revigorado e ansioso por uma nova aventura e, se for possível, para novamente visitar a serra da Canastra.
Durante esta viagem de moto eu rodei em torno de 1500 km. Destes, cerca de 300 foram de fora de estrada. A moto não apresentou nenhum problema, nem precisou esticar a corrente, só uma boa lavagem para tirar todo o barro. Na volta eu percorri mais ou menos 600 km. Saí de São Roque às 13h30 e cheguei à casa um pouco antes das 21h.
Dizem que o banco da Ténéré 250 não é confortável, mas não senti muito não. Acho que por estar sozinho conseguia me apoiar nas pedaleiras do protetor de carenagem e esticar as pernas. Ela fez na volta uma média de 29 km/l. Uma ótima moto.
Até a próxima.
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