Toda história tem um começo e, pra ser sincero com vocês, essa viagem de moto até Ouro Preto e São Thomé das Letras originalmente era pra ter sido feita de carro com minha namorada. Porém quis o destino que eu saísse de férias e ela não, e como não queria de maneira alguma passar essas férias enfiado dentro de casa, olhei para minha velha de guerra Bros e pensei comigo mesmo, por que não?
Em fevereiro comecei os preparativos: troca de pneus, filtro de ar, limpeza do carburador, revisão completa. Um mês depois foi a relação e, testa daqui, testa dali, compra isso, compra aquilo e, quando finalmente chegou abril, tudo já estava pronto.
Porém, caro leitor, antes de finalmente iniciarmos o diário dessa viagem de moto, preciso atualizá-los de algumas outras informações de suma Importância:
– Moro em Marilândia no Espírito Santo, cidadezinha de interior, sabe onde é?
– A viagem deveria durar 12 dias, o que infelizmente não aconteceu e os motivos serão explicados no texto.
– O trajeto original compreendia Ouro Preto, São Thomé das Letras e São João del-Rei, mas como será explicado muito em breve, teve de ser encurtado para Ouro Preto, São Thomé das Letras e Ipatinga. Ainda assim, foi uma senhora viagem.
Dito isto, vamos iniciar nossa aventura.
Sair de casa é sempre uma tarefa difícil e se torna ainda mais quando a saída em questão é para uma grande viagem de moto, minha primeira grande viagem de moto, diga-se de passagem.
Milhares de coisas passam por nossa cabeça: medo da moto quebrar, medo do desconhecido, de sofrer um acidente, ser assaltado, pessoas agirem de má fé… Enfim, coisas que podem acontecer, coisas que podem não acontecer.
Não vou negar, minha namorada, minha família, a família da minha namorada, ninguém me apoiou a fazer essa viagem de moto. Os motivos já foram citados, e foi preciso uma boa dose de coragem e teimosia para bater o pé e dizer: “- Vai ficar tudo bem meus amores”. No fim, acho que compreenderam que não conseguiriam me impedir e me desejaram boa sorte.
E foi assim que no dia 15 de abril, às 4 horas da manhã, eu já estava de pé e pronto para partir. Eu confesso, acho que nem cheguei a dormir de ansiedade.
Bora lá…
Dia 01: Marilândia – Ouro Preto – 500 km percorridos
Acordei (ou levantei) às quatro da manhã, comi uma maçã, amarrei a bagagem na moto, me despedi dos meus pais e por volta das cinco horas peguei a estrada.
O tempo estava um pouco ruim e peguei uma garoa nos primeiros quilômetros. Mal presságio? Acho que não.
15 km depois parei em Marilândia, na casa de minha namorada, para outra despedida. Essa coisa de se despedir é mesmo complicada, mas tranquilizei-a de que seriam por apenas 12 dias e de que tudo correria bem.
Seguindo viagem, passei por Colatina, peguei a BR-259. Um trecho muito bom, muitas retas, porém bem movimentado pela hora que estava, mas em pouco tempo já estava em Baixo Guandu, município capixaba que faz divisa com Minas Gerais.
Pouquíssimos quilômetros após Baixo Guandu eu já estava em solo mineiro, Aimorés pra ser mais exato. As duas cidades são quase coladas, acho que são menos de três quilômetros de distância entre uma e outra. Aimorés é uma cidade pequena e com poucos atrativos. Algumas ruas são mal pavimentadas ou não têm pavimento algum e nada de muito interessante a se ver. Segui pela BR-474 rumo a Ipanema.
Passando por Conceição do Capim (um distrito de aimorés) vi uma pequena lanchonete na beira da estrada e resolvi parar pra tomar um café de verdade. Comi uma esfirra e um suco de limão por apenas R$ 6, uma pechincha se posso lhe dizer.
Continuei pela BR-474 até Ipanema. Um bom trecho, diga-se de passagem, com muitas retas e a rodovia impecável. Deu pra manter 100 km/h tranquilo, e o melhor, a rodovia é pouquíssima movimentada.
Chegando a Ipanema, a primeira surpresa: a moto pegou reserva antes do previsto, com apenas 180 km rodados, e o mais estranho, na hora de abastecer couberam só 7,5 litros quando na verdade deveria caber mais de 8,5. Um pouco estranho, mas enfim, pode ser porque a moto ficou um pouco de lado na hora de abastecer, ou ter andado forte neste trecho possa ter influenciado em algo. Whatever.
Em Ipanema percebi como a gasolina em Minas está muito mais cara que no Espírito Santo. Paguei R$ 4,69 o litro, mas esse preço não iria se repetir até Ouro Preto, ficando quase sempre perto dos 5 reais. Conversei com o frentista a respeito de qual seria o melhor caminho para Ouro Preto e ele me confirmou o que já estava no meu roteiro: MG-111 até Manhuaçu. Partiu então.
Mas antes, parei na igreja da cidade pra tirar uma foto, bem bonita por sinal, a cidade de Ipanema me pareceu de modo geral muito mais bem estruturada que as anteriores.
Já na MG-111, apesar de ser um trecho bonito, pude constatar o péssimo estado da rodovia, cheia de remendos mal feitos, trechos que cederam por causa da chuva, muitos deslizamentos sem sinalização e, pra ajudar, muitas curvas. Tive que ir mais devagar por segurança e minha chegada a Manhuaçu demorou um pouco mais do que o previsto.
Em Manhuaçu me assustei um pouco com a cidade. Apesar do tamanho considerável, é uma cidade incrustada na montanha e sem estrutura de crescimento nenhuma. A impressão que se tem é de estar dentro de uma grande comunidade do Rio de Janeiro, mas isso não quer dizer que tenha os mesmos problemas. Talvez até tenha, mas enfim, seguimos viagem.
Um fato engraçado é que parei para bater uma foto da cidade no cantinho da rodovia em Manhuaçu e, por descuido ou desatenção, não reparei que do outro lado havia uma viatura da PRF fazendo uma blitz. Tirei a foto rapidinho e dei linha na pipa, não por estar errado, jamais viajaria irregular, apenas para evitar o estresse mesmo haha.
Peguei a BR-262 pra Rio Casca, e aqui a fome bateu. Parei num restaurante de beira de estrada e, apesar do cardápio um pouco restrito, eu até que acertei, R$ 15 o prato no estilo coma à vontade, comida bem gostosa por sinal.
Abastecido, voltei pra estrada e segui até Rio Casca. Boa rodovia, porém, com muito movimento.
Após Rio Casca peguei a MG-329 até Ponte Nova e nessa parte do trajeto confesso que já estava cansado, parando para esticar com mais frequência.
A intenção era passar por fora de Ponte Nova e seguir pela BR-262 até Mariana. Até fiz isso, mas estava mais uma vez na reserva e, por medo, alguns quilômetros depois resolvi perguntar a um local sobre um posto de gasolina no trajeto e ele me orientou a voltar e abastecer em Ponte Nova. Voltei alguns quilômetros e abasteci para então seguir viagem.
Foi uma boa escolha, pois só encontraria um posto nesse trajeto uns 40 ou 50 km depois, e apesar de conseguir chegar com certa folga, eu ficaria agoniado de rodar 50 km sem saber se encontraria um posto de combustível ou não.
Esse último trecho foi bem complicado. Rodovia boa, porém, além do cansaço, começou a chover. Parei para esticar e esperar a chuva passar, porém depois de uns 15 minutos vendo que a chuva não ia ceder. Coloquei minha roupa de chuva e toca a viagem.
Trecho lindo, mas não filmei por causa da chuva e porque não queria parar pra por a action cam dentro da case impermeável. Passei por um trecho em obras e depois comecei a subir uma linda serra. Lá em cima ficou um pouco tenso, pois se formou neblina e a visibilidade ficou bem ruim.
Próximo a Mariana a chuva deu trégua, a pista secou e parei pra tirar a capa, acoplar a câmera no
capacete e filmar o resto desse trecho maravilhoso.
Passei por dentro de Mariana. Deus, a cidade é linda. Não parei pra fotografar nada, infelizmente, pois muitas ruas estavam interditadas por causa da semana santa, mas filmei tudo com a action cam.
Toquei pra Ouro Preto e a chuva voltou. Por teimosia (e por estar muito perto), não parei pra vestir a capa de novo. Cheguei ensopado à cidade e pouco depois estava no Trilhas de Minas Hostel. Conheci meus colegas de quarto e fui logo tomar um banho. Infelizmente não filmei minha chegada a Ouro Preto por causa da chuva.
Cheguei exausto, mas feliz.
Ainda arrumei uma forcinha pra dar uma volta pela cidade. Parei no bar barroco, tomei uma Heineken bem gelada com 2 aperitivos e antes das 20 horas já estava no hostel para dormir. E dormi que nem uma criança.
Foram 500 km percorridos. Quem disse que a gente não chegava?
Dia 2: Turistando em Ouro Preto
Acordei cedo, por volta das 7 horas. Chovia, por isso fiquei na cama até mais tarde. Levantei, tomei café, peguei umas dicas com a Jussara (dona do hostel) e, partiu conhecer Ouro Preto.
Minha Primeira parada foi na praça Tiradentes. Queria ir ao museu da Inconfidência, mas como aparentemente ainda não estava aberto, fui à igreja de Nossa Senhora do Carmo, logo ao lado. Três reais a visita. Estilo rococó, bem legal.
Logo após, rumei para o museu da Inconfidência. R$ 10 a visita. Dá pra se perder muito tempo aqui, pois o museu é grande, dois andares e tem muitas e muitas peças de época. Bem legal!
Saí por volta das 11 horas, com fome. Ao receber um cartão de indicação de um rapaz, decidi dar chance à sua dica: restaurante Tiradentes, ali perto. Local bem bacana, comida boa e o melhor, com o cartão ganhei desconto. Coma a vontade por R$ 15 (risos).
Após o almoço, fui à igreja São Francisco de Assis, tida como obra máxima de aleijadinho na cidade. Tem guia próprio na igreja que explica tudo com muito entusiasmo (pelo menos eu acho, ou peguei carona com um guia de um grupo qualquer). Valor da visita, R$ 10. Local disputado e muito bonito.
Logo após, a chuva voltou a apertar e tentei comprar uma capa de chuva com um ambulante, sem sucesso. Ele não tinha troco pra cem reais, então fiquei um bom tempo num ponto de ônibus.
Uma hora depois sai com o intuito de visitar a mina do Chico Rei, mas no caminho um rapaz me convenceu a conhecer as minas do Palácio Velho, que ficam bem ao lado. São R$ 30 a visita, e o guia explica tudo muito bem, mas achei o valor meio incoerente pra um passeio de no máximo 20 minutos. Eu sei que a culpa não é deles, já que segundo o nosso guia, existem muito mais galerias que poderiam ser abertas ao público, mas elas precisam de laudo, serem catalogadas e o principal, de investimento, mas a prefeitura não ajuda em nada e a secretaria de turismo menos ainda. Paciência então. Ainda assim achei legal, apesar de ficar com aquele gostinho de passeio pega turista.
Por último, resolvi visitar o museu Casa dos Contos. Ouvi falar que era legal, mas não achei tão legal assim. Tem várias exposições de moedas de época e algumas obras de arte. Talvez a parte mais legal seja a senzala. O bom de tudo é que é de graça.
Voltei pro hostel, tomei um banho e esperei anoitecer.
À noite procurei um lugar pra comer. Por indicação da internet, fui ao Porão Bar. Sim, o bar funciona num porão. A decoração é legal, mas é quente de doer (ou de suar) lá embaixo, e olha que estava um friozinho de 18 graus em Ouro Preto. Tem uma variedade de cerveja, mas o preço é salgado, inclusive da comida. Queria provar o famoso pastel de angu, mas só serviam em porção de dez. Tentei argumentar com a garçonete se poderia pedir meia porção, já que estava sozinho, não consegui, sem graça. Tomei duas cervejas, comi uma porção de batata à moda da casa (que era a mais barata) e fui embora.
Na volta para o hostel descobri que haveria uma via sacra e que sairia da igreja de Nossa Senhora do Pilar. Excitado com a possibilidade, sai rumo à tal igreja, e andei um bocado, chegando ao final da missa todo suado de tanto sobe e desce. Acompanhei a procissão até a praça Tiradentes. Foi uma experiência bem legal. Diferente do Espírito Santo, a tradição aqui é bandinha. Em cada parada os cânticos são em latim, eu acho.
Cansado, retornei ao hostel e fui dormir.
Dia 3: Ouro Preto – São Thomé das Letras – 406 km
Acordei cedo, por volta das 06h30 e chovia. Havia chovido forte à noite, um temporal, e isso me deixou preocupado. Arrumei minhas coisas, desci, tomei café, fiz uma horinha e a chuva passou. Me despedi da Jussara e por volta das 8 horas estava na estrada.
Sai sentido Ouro Branco pela MG-129, estrada regular, mas que passa por um trecho de serra bem bacana. Em Ouro Branco odiei a cidade, muito mal sinalizada, muito mesmo, precisei ligar o GPS (que mal havia utilizado até agora) pra encontrar a saída para Lobo Leite.
Após Lobo Leite, entrei na BR-383. Muito boa rodovia. Andei um bom trecho e passei por um par de cidades menores: São Brás do Suaçuí, Entre Rio de Minas, peguei a MG-270 e continuei seguindo até Desterro de Entre Rio de Minas, Passa Tempo e finalmente Carmópolis de Minas. Fiz boa parte da BR-270 na reserva, pois a gasolina estava muito cara nessas cidades, e ficava sempre pensando: quem sabe na próxima? Dei sorte, porque em Carmópolis de Minas achei gasolina a 4,79, então acho que valeu a pena.
Após Carmópolis, cheguei ao trecho mais difícil da viagem, a BR-381, mais conhecida como Fernão Dias. Como estava com fome, parei logo pra comer algo antes de enfrentar esse Dragão.
Bucho cheio, lá vamos nós. A rodovia é tipo, muito movimentada, muito mesmo. Mas como é toda duplicada, deu pra andar bem com minha Brosinha 150. Consegui manter uma média de 100 a 110 km/h durante todo o trajeto. Ultrapassei todos os caminhões sem muita dificuldade e espero não ter levado nenhuma multa (risos). Sim, ela assusta, principalmente um caipira com uma moto de motor pequeno, mas é só ter cuidado nas manobras e ficar sempre de olho no retrovisor. Engraçado é que não vi um único motociclista na rodovia, acho que eu era o único doido por essas bandas nesse dia.
Paguei 3 pedágios. Felizmente todos baratos. Lá pelas duas da tarde estava eu em Três Corações, cidade do rei Pelé, uma cidade de porte considerável, mas não parei, pois queria chegar logo a são Thomé.
Pega a MG-862 e sobe a montanha. Mais 40 e poucos quilômetros de uma ótima rodovia, e lá estava eu, no portal da cidade, cansado, mas feliz.
Cheguei ao Hostel (que não vou citar o nome, por não ter curtido muito), conheci o dono e me instalei. Lugarzinho simples, sem muito regalia, mas bem limpo e aconchegante, suficiente pra minha estadia. O engraçado é que logo de cara o dono me pergunta “você fuma?”, fiquei na dúvida se ele estava falando de cigarro ou erva, então falei que não mexo com isso, aí ele começou a falar dos pontos turísticos da cidade e, papo vai, papo vem, e ficou por isso mesmo.
Nesse dia eu era o único hóspede do Hostel, mas fiquei sabendo que isso ia mudar, primeiro por causa do feriado, segundo por estar acontecendo um festival de música na cidade durante o fim de semana. A cidade iria lotar, superlotar pra falar a verdade.
Como já era tarde resolvi ir ver o pôr do sol na pirâmide, cartão postal da cidade. E tome caminhada pedra acima. Cheguei um pouco cedo e ainda havia pouca gente, mas já de cara vi um cidadão ou outro fumando um “cigarro” escondido. Me sentei no piso inferior da pirâmide e lá fiquei. Conforme o tempo passava a galera foi chegando em peso, a malucada toda (hippies), turistas, galera alternativa, e tudo mais. Os hippies são um show à parte, começaram a puxar um som, tiozinhos vendiam bebida, a galera começou acender um cigarro, mas a maioria acendia uma ponta mesmo. A pirâmide virou uma chaminé e o clima descontraiu de vez. E quando o sol se pôs a galera foi ao delírio. Vale ressaltar que eu não fumo capim cubano, não tenho nada contra quem fuma, vim pra são Thomé sabendo o que iria encontrar, mas confesso que aqui comecei a ficar um pouco incomodado. O uso de entorpecentes estava demais, muito além do que estava prevendo, e é tudo muito explícito, sem nenhum pudor, saí de lá brisado por tabela.
O sol se pôs, então resolvi descer pra cidade. Procurei um lugar pra comer e encontrei O Alquimista, restaurante muito bem recomendado em São Thomé. Preços um pouco acima da média, mas como já estava lá, pedi um filé à parmegiana e uma garrafa de Heineken. Valor final, R$ 46. Mas valeu a pena, prato muito bom, bem saboroso e caprichado, acompanha o bife (óbvio), arroz e batata frita.
Na volta pro hostel, um hippie me parou pra puxar assunto. Sabia que ele estava tentando me vender algo. Depois de papo vai, papo vem, ele me oferece um artesanato. Como o cara foi gente fina resolvi comprar uma lembrancinha por R$ 5.
De volta ao hostel, fiquei algum tempo com minha namorada ao telefone. Depois, vencido pelo cansaço, fui dormir.
Dia 4: Turistando em São Thomé
Acordei por volta das sete disposto a conhecer as cachoeiras da cidade, que são muitas. Arrumei minha bolsa, tomei um café rápido, peguei algumas dicas com o dono do Hostel e lá fomos eu e minha magrela pelas estradas de São Thomé.
Minha Primeira Parada foi na Cachoeira da Eubiose. R$ 5 a entrada na propriedade. A cachoeira é composta por pelo menos 3 quedas pequenas e várias prainhas menores, dizem ser muito movimentada por ficar próximo à cidade. Cheguei cedo e fiquei até às onze horas explorando o lugar, gravei uns vídeos, escorreguei numa pedra e bati com tudo no lado direito da coxa, está dolorido até hoje (época que escrevi o relato). Mas o mais difícil mesmo era encarar o frio da água. Algum tempo depois os turistas começaram a chegar. Normalmente grupos de jovens e novamente comecei a ficar incomodado com o problema de antes, consumo de entorpecentes explicitamente.
Resolvi seguir pro meu próximo destino, Cachoeira do Flávio. Queda de água única e mediana, uma única prainha no meio do lago da cachoeira. Pouco movimento aqui, não muito interessante.
A próxima parada foi na Cachoeira Véu da Noiva. Porém antes de conhecê-la resolvi almoçar no bar do Flausino ali perto. PF muito bom por apenas R$ 13. O véu da noiva é uma queda d´água bem grande e estava bem movimentada naquela hora. Não fiquei muito ali, muitos jovens barulhentos em busca de curtição.
Voltei para a cidade e fui para o outro lado, agora rumo ao Vale das Borboletas, provavelmente a cachoeira mais famosa da cidade, com boa estrutura, estacionamento, bares, restaurantes, lojas de artesanato e tudo mais. Paguei R$ 2 para estacionar a moto. Linda, linda de morrer, palavras não são suficientes para descrevê-la. O problema é que se a Cachoeira Véu da Noiva estava cheia, essa estava super cheia, repleta de grupinhos de jovens bebendo, fumando, gente “viajando” pra todo lado e a minha animação pelo lugar foi pro ralo rapidinho.
Voltei pro Hostel, tomei um banho e, apesar de já muito desanimado com a cidade, resolvi ir ver o pôr do sol de novo.
Na pirâmide, pude perceber que a cidade estava começando a lotar. O número de pessoas hoje havia quase triplicado em relação ao dia anterior. Apesar de ter sido outro lindo pôr do sol, o consumo explicito de entorpecentes na cidade já excedera o suportável por mim há muito tempo. Sério, estava me sentindo muito desapontado ou deslocado na cidade.
Já era noite e resolvi ir comer em outro lugar badalado na cidade, a Pizza na Pedra. Entrei e pedi uma pequena que na verdade nem é muito pequena (4 pedaços generosos) e uma cerveja. Quando cheguei o lugar estava vazio, mas lotou rápido. Mas minha Pizza não demorou tanto a chegar, e estava tão deliciosa que não tive como não comer tudo.
Na volta pro Hostel, conversei com minha família e minha namorada e comuniquei-lhes que estava de saída da cidade no dia seguinte, três dias antes do previsto. Não me levem a mal, a cidade é linda, tem muito a oferecer, mas infelizmente 90% dos turistas, pelo que percebi, são jovens que querem passar o fim de semana bebendo loucamente, fumando uma erva, tomando chá de cogumelo e talvez outras coisas mais. Não é pra mim. No fim todos concordaram com minha saída. Avisei o dono do hostel e tudo ficou acertado que partiria no dia seguinte.
Naquela noite chegaram ao hostel duas meninas pro festival, bem simpáticas afinal.
Dia 5: São Thomé das Letras – Ipatinga – 570 km
Nesse dia acordei cedo, tomei um café rápido e fui pro centro da cidade, pois queria comprar algumas lembrancinhas. Ainda não havia comprado nada.
Aproveitei pra tentar entrar em contato com o Hostel que havia reservado em São João del-Rei, pois o plano a princípio era ver se conseguia adiantar minha estadia e passar o fim de semana na cidade. Liguei três vezes e nada de alguém atender. Mandei um e-mail explicando a situação.
Nesse dia pude perceber que a cidade ia mesmo superlotar. Muitos ônibus e carros chegando o tempo todo e muita gente pelas ruas. O primeiro dia do festival havia sido na noite anterior e os efeitos na cidade também eram nítidos. Muitos jovens chegando da festa completamente embriagados, alguns carregados pelos amigos, inclusive.
O comércio abre tarde e, quando finalmente consegui comprar as lembrancinhas, já passavam das 8h.
Retornei ao Hostel, arrumei minhas coisas, me despedi do dono e, quando finalmente parti já eram mais de 9h.
Resolvi seguir o itinerário planejado. Iria até São João del-Rei e até lá o hostel poderia me responder ou eu iria bater lá à porta e na hora decidiria.
Resolvi pegar uma rota completamente diferente da do GPS. Saí por São Bento Abade. Peguei uma estrada de terra até Luminárias, depois asfalto até Carrancas e por fim estava em São João del-Rei umas 2 horas e meia depois.
No meio do caminho o Hostel me ligou, mas como estava impossibilitado de atender, segui viagem por uns 5 minutos, quando encostei a moto e retornei a ligação. Adivinhem, não me atenderam (mas o que será que esse povo está fazendo?).
Em São João reavaliei minhas opções. O Hostel não me atendia, não responderam meu email enviado 5 horas antes e eu já estava um pouco aborrecido com isso. Poderia ir lá na porta deles, mas pensei, pensei, olhei o mapa, avaliei muitas possibilidades, liguei pra minha namorada e comuniquei minha nova decisão: estava voltando pra casa, iria passar a páscoa com eles.
Dentre todas as possibilidades de roteiro, escolhi subir até Ipatinga, por ser uma cidade melhor estruturada e ter bastante opções de hotéis. O problema é que já era mais de meio dia e seria uma boa esticada. Chegaria no início da noite.
Sem tempo a perder, resolvi iniciar a viagem de volta. Cara, eu praticamente não parei pra nada, só fiz uma parada (fora abastecimento) muitas horas depois pra tomar água e comer uma barra de Snickers, pois estava com muita pressa e já estava me sentindo mal por pilotar tantas horas de forma intermitente.
Era Sexta-feira Santa, feriado prolongado e muita gente viajando. Vi muitas Triumphs, BMWs e Customs pelas estradas.
Fiz boa parte do meu trajeto de ida de novo: Entre Rio de Minas, Ouro Branco, Ouro Preto, Ponte Nova e Rio Casca. Aqui eu fiquei em dúvida se realmente iria para Ipatinga ou faria o mesmo trajeto de volta e pararia em alguma das cidadezinhas pra dormir. O problema é que todas as cidades eram pequenas (30 a 50 mil habitantes em média) e pouquíssima hotelaria. Fiquei com medo de dormir na rua (risos) e resolvi esticar até Ipatinga.
Foi aí que começaram os problemas de verdade. Em algum momento o GPS me jogou para a MG-760, que é uma rodovia na teoria, mas na prática é 90% estrada de chão. Quando cheguei a Ipatinga já era noite. Haviam muitos animais na pista, percorri mais de 60 km num trecho bem sinistro que quase não passa carro, escuridão total, não se vê uma casa, uma luz, nada. Fiquei com muito receio da moto quebrar naquele fim de mundo.
Felizmente deu tudo certo e por volta das 8 h da noite estava em Ipatinga. Parei pra dar uma olhada no Booking em algumas opções de hotel. Todos por volta dos R$ 100, alguns mais simples por um pouco menos. O que mais me chamou a atenção foi o Grande Hotel Ipatinga e como o Booking não dizia se estava esgotado ou não, resolvi ir bater lá na cara e na coragem.
Cheguei na recepção e perguntei por um quarto ao recepcionista. De primeira resposta tive: “- cara, é feriado e estamos lotados. Mas pera aí que parece que uma cliente desistiu de última hora, deixa eu checar pra você”. Vocês não vão acreditar na sorte que tive. Felizmente havia um quarto, só que de casal. Falei que não havia problema. Paguei R$ 145 e fiquei com o quarto.
Hotel enorme, quarto enorme e muito bem decorado/mobiliado. Achei um luxo total pelo valor pago. Tomei um banho e desci pra comer alguma coisa. O cara da recepção me indicou uma lanchonete bem ao lado. Comi um lanche e tomei uma cerveja.
Voltei pro quarto completamente exausto. Conversei um pouco com a minha namorada e apaguei.
Dia 6: Ipatinga – Marilândia – +/- 360 km
Acordei bem cedo e tomei café no hotel. Muito bom e diverso por sinal. Arrumei minhas coisas e por volta das 07h30 estava na estrada, pois queria chegar cedo, no máximo às 14 horas.
Peguei a BR-458, depois a BR-116 até Caratinga, depois a BR-474 até Ipanema, Aimorés, Baixo Guandu. Bem, vocês já conhecem o trajeto.
Nada de muito relevante a comentar aqui, apenas a grande vontade de chegar e matar a saudade das pessoas que amo.
E como eu disse, exatamente por volta das 14h eu estava de volta à minha cidade para passar a páscoa com meus entes queridos.
E assim, caros leitores, chegamos ao fim desse relato. Espero que tenham aproveitado, assim como eu. Apesar dos contratempos, também aproveitei. Tive muitas expectativas quanto a São Thomé, que infelizmente não se concretizaram. Mas faz parte da vida, bola pra frente. Quanto à moto, apresentou zero problemas durante a viagem. Ela é muito robusta, mas infelizmente está chegando a hora de aposentá-la. Estou me programando para trocar de moto no fim de ano/inicio do ano que vem. Ainda não sei o que vou escolher como substituta, mas veremos o que o futuro me aguarda.
Pra finalizar, uma frase do Senhor dos Anéis que tem tudo a ver com viajar:
“É perigoso, Frodo, sair porta afora, você pisa na estrada e se não controlar seus pés não há como saber até onde você pode ser levado.” – Bilbo Baggins
Atualização: Minha Bros guerreira foi vendida em dezembro de 2019. Agora possuo uma Ténéré 250, 2011, muito bem conservada, por sinal, que estou equipando para futuras aventuras.
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