Amigos, motos velhas, estrada e as cachoeiras da Serra da Canastra

Quem não gosta de viajar? Já estávamos querendo fazer isso há meses, mas as complicações do dia a dia nunca permitiam uma brecha para pegar a estrada. No final do ano, finalmente surgiu esta oportunidade, para fugir do turismo caótico que se instala em Floripa nos primeiros dias do ano. O destino de fuga foram as cachoeiras da Serra da Canastra. Saímos às 5 horas da manhã do dia primeiro, três motociclistas e três senhoras. Não, as esposas não foram, e sim as motos, três clássicas: Uma RD135, uma Sahara ano 96 e uma CB400 83. Uma aventura por si só viajar com estas ‘experientes’. O plano era tocar até o sul de Minas Gerais numa viagem de moto de uma semana.

Munidos de ferramentas e barracas, partimos para a viagem. Logo no início a bateria da Sahara deu problemas e fez o primeiro dia todo sem elétrica, com farol e piscas zerados. Pegamos muita chuva desde Curitiba até Registro, passando pela Serra do Bananal completamente embaixo d’água com rios correndo pelo acostamento. Ficamos num hotelzinho de beira de estrada. Abrimos o carburador da CB pois estava vazando e diagnosticamos conector quebrado na Sahara, por isso a bateria não estava carregando.

Saímos de Registro debaixo de chuva, a idéia era contornar o Rodoanel sentido Jundiaí, mas claro que entramos errado e demos uma pequena volta na Marginal Pinheiros para conferir o trânsito de São Paulo. Conseguimos vazar na manha e almoçar em Jundiaí. A idéia era comprar uma bateria nova para a Sahara em Jundiaí, mas descobrimos uma oficina em Campinas que tinha.

Tocamos o pau nesses 40km, chegamos lá as 13h59 e consegui a bateria! Luzes de volta, feliz da vida, seguimos viagem. O plano era chegar até Delfinópolis em Minas Gerais neste dia, cerca de 650km saindo de Registro. De repente a luz cai e fico novamente sem elétrica. A bateria não carregava! Porra! Em uma próxima parada, consultei o grupo da Sahara na internet para pedir uma ‘luz’. Eis que me sugerem checar os conectores do CDI embaixo do banco… e lá está! Bingo! Tudo desconectado. A partir dali a Sahara não deu mais problema até o final da viagem! Já era hora de começar a curtir !

Final de dia, aquela canseira, passamos direto pela entrada de Delfinópolis via Cássia por 18 km, vimos o retorno e voltamos putos. Foi entrar no acesso da cidade e a RD135 morreu sem razão aparente. Nisso já eram mais de meia noite. Estávamos tranquilos pois sabíamos que a balsa funcionava 24 horas e tinha gente no camping, mas mesmo assim o Caio ficou ali uma meia hora tentando descobrir o que era. A primeira idéia foi deixar a moto ali e ir de garupa até o camping e voltar no outro dia para resolver, mas a proposta a seguir não era esperada.

Ainda restando aproximadamente 60km e uma balsa para chegarmos a Delfinópolis, a solução para a situação foi rebocar a moto até o camping e lá descobrir com calma o que aconteceu. Foi uma aventura à parte, rebocar outra moto noite adentro em uma estrada desconhecida, passando pela balsa, bateria do celular já no final e sempre aquela dúvida se estamos ou não indo no caminho certo. Após mais duas horas de estrada, já de madrugada, passamos pela cidade de Delfinópolis e rumamos para o camping 9 km à frente, só pegar a direita no trevo e seguir reto. Eis que acaba o asfalto! Depois de 8km de estrada de chão, com buracos, subidas e descidas, totalmente no escuro, chegamos ao camping quase 4 horas da manhã para montarmos as barracas. Adrenalina na veia que foi preciso um banho gelado com água das cachoeiras para conseguir dormir.

Conhecemos as cachoeiras da redondeza no terceiro dia e de noite fomos comer uma pizza no Jeferson, o restaurante mais bacana da cidade. Aproveitamos para comprar um queijo canastra em uma vendinha. Decidimos que iríamos entrar parque adentro com as motos no outro dia pela manhã! A verdade é que descobrimos que o parque é muito maior e mais selvagem do que imaginavamos. Para chegarmos a Roque de Minas, outra entrada do parque, seriam longos e desafiadores 80km de chão. A Sahara até ia, segundo o guia local, mas resolvemos poupar as motos pois estávamos a mais de mil quilômetros de casa. Conseguimos entrar incríveis 9 km estrada adentro, passando por formações rochosas, riachos e córregos, até que a estrada apertou legal e resolvemos parar por lá. Pura energia da natureza desbravar aquelas estradas. Final de dia clássico com aquela pizza na cidade e planejamos começar nosso retorno até Itu.

O que pegamos de chuva na ida, foi sol na volta. Belo dia de passeio até o cabo do acelerador da RD135 arrebentar. Tuxo resolveu com 3 línguas de sogra que eu tinha na bagagem. Chegamos ao camping de Itu e fomos surpreendidos ao saber que só aceitavam famílias, três rapazes com motos velhas não estavam inclusos no público alvo! Tivemos que desenrolar com a dona, depois de dizer que viemos de longe e que não iríamos fazer baderna. Pegamos um canto para armar nossas barracas. Show de bola, jantamos e cama. No outro dia acordamos com calma, compramos cabo extra, banho nas motos, almoço no camping e estrada rumo a um camping dentro do Petar, na cidade de Iporanga.

Passamos pela recente ‘famosa’ estrada do Rastro da Serpente, que está sendo cotada no meio motociclístico como uma estrada bacana por causas das curvas. Parada rápida no bar do portal, uma partida de sinuca, muito bacana, tocamos direto até Apiaí. O camping marcava 35 km de onde estávamos e a noite quase caia, eis que ela, a famosa, estrada de chão apareceu. Foram 28 km no escuro dentro do parque, que mais parece o filme do parque dos dinossauros. Já cansados, encontramos o Camping do Dema, no meio do parque, onde pudemos relaxar e montar nossas barracas. Gente boa e 20 pilas, final de noite feliz, ninguém precisou comer de tão cansados e fomos logo dormir.

Acordamos para o último dia com o objetivo de passar por Curitiba depois do almoço e tocar direto até Floripa. O trecho Apiaí – Tunas, continuando pelo rastro da serpente, realmente é um trecho especial que vale a visita. Pegamos muitas curvas com sol e poucos caminhões, condições perfeitas para um retorno. Sem grandes surpresas, todo mundo já sentindo o cheiro do mar. Chegamos na boa a Curitiba por volta das 15 horas. O último trecho foi cansativo, mas já estávamos quase em casa.

Show de roda chegar a Floripa depois de aproveitar o contrafluxo de final de ano! ;Encontramos poucas pessoas no caminho, pelo visto o pessoal não gosta de rodar nos primeiros dias do ano. Mesmo assim, todo mundo que nos encontrava ficava surpreso com a viagem das ‘senhoras’. Fica a sugestão para arriscar-se este ano e pegar uma estrada com sua amada. Rodamos 2.700 km sem nenhum susto no trânsito. Estradas relativamente boas. Bora rodar este Brasil.

Abraços de Gabriel, Caio e Tuxo!


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