Um passeio até Barra do Guaicuí

Viagem de R$100

Iniciar um novo ano com otimismo e boas energias é muito bom, fazendo o que mais se gosta, então, é ótimo. No primeiro dia do ano, aproveitando a “folga” (forçada) da família, resolvi seguir a indicação dos amigos Fernando Barros (que indicou) e Fernando Brasil Paez Junior (que me marcou) para fazer um passeio com a minha moto e conhecer a igreja de pedra em Barra do Guaicuí em Minas Gerais.

Pois bem, saí para “meditar” às 9h30min, sol atiçado, peguei a estrada somente na companhia de Deus, e não há melhor, sem desmerecer os amigos que sempre fazem falta, claro. Após abastecer (R$49,80), parti na minha introspecção, mas logo fui desconcentrado pela beleza da Serra do Cabral, maciço montanhoso que insistia em me fazer companhia ao longo de vários quilômetros. Quando finalmente consegui despistar o “velho Cabral”, já eram por volta de 11 horas e o sol estava poderoso, com o termômetro do painel indicando 34°C. Foi impossível retomar a concentração para meditar, que é a causa e/ou a consequência das viagens “solo”, como aprendi com o amigo Rômulo Provetti.

Cheguei ao pitoresco povoado de Barra do Guaicuí, às margens do Rio das Velhas, distante apenas 23,8km de Pirapora, mas pertencente à mais distante (77,8km) Várzea da Palma, como pouca gente sabe, por volta das 11h40m, e já na chegada, me diverti com a imagem de um morador “trepado” na torre do sino da igrejinha da praça central, único lugar onde o celular consegue captar o sinal da operadora.

Do centro até a atração principal, que é a Igreja Senhor Bom Jesus do Matosinho, ou simplesmente igreja de pedra, como é conhecida, supostamente construída por ordem do bandeirante paulista Fernão Dias (cujo corpo também supostamente está enterrado ao lado da igreja), que não chegou a ser concluída por razões desconhecidas, são longos 500m, tão grande é o povoado.

A igreja é uma atração à parte, por ser totalmente construída de pedras e por ter em sua parede na parte de trás (a frente é virada para o rio, que passa bem próximo e também proporciona bela vista) uma enorme gameleira cujas raízes descem do teto até o piso, e, segundo a lenda, “há muito tempo atrás (sic), o Velho Chico, em uma de suas cheias, cobriu com suas águas essa antiga igrejinha, que guardava, entre suas paredes, a triste memória de um pai que havia matado enforcado o seu filho naquelas terras. Talvez o São Francisco, pai de tantos ribeirinhos, tenha se revoltado com a violência e resolveu limpar com suas águas a lembrança desta tragédia familiar. Não se sabe… O Velho Chico, no entanto, depois de sua silenciosa varredura, um dia resolveu recolher seus braços e deixar a história seguir seu curso. Com a seca e com o nível do rio mais baixo, a igreja reapareceu depois de sua longa temporada entre as águas e os peixes, trazendo em seu telhado uma gigantesca Gameleira.”

Apesar de plausível a parte da lenda que fala da cheia e baixa das águas, o rio que margeia a igreja é o das Velhas, e não o São Francisco, portanto, se for realmente verdade a estória, quem lavou a triste lembrança da tragédia não foi o Velho Chico, mas o “Velho Velhas”, justiça seja feita.

Após apreciar por vários ângulos essa magnífica obra de arte feita a duas mãos pelo homem e pelo Criador, meu companheiro de viagens, rumei para Pirapora, pois já passava das 12h40min, e o meu estômago já ameaçava exigir aos berros um pouco de sustância para o corpo. Cheguei a Pirapora com a “agradável” temperatura de 35,5°C e o sol à pino, pelo menos era o que eu achava (“sabe de nada, inocente”).

A razão de procurar almoço em Pirapora foi não ter encontrado sequer um boteco que servisse o famoso peixe frito fresco, como me havia sido recomendado. Mas mesmo sem saber, eu não me arrependeria, pois voltando à vaca fria, na verdade, vaca quente, ou melhor, voltando a Pirapora, encontrei logo no início da avenida beira rio (agora sim, o São Francisco, que infelizmente jaz à míngua de chuvas nas suas nascentes) o “Bar & Restaurante Gruta do Peixe”, onde fui seduzido pelo conforto de um grande ventilador e cadeiras confortáveis, além do ótimo atendimento e um sensacional curimatá sem espinhos, em forma de iscas, acompanhado de limão e molho tártaro, esse último dispensado para não “estragar” o sabor sublime do peixe fresquinho e crocante. Dispensados maiores comentários, pois a boca já encheu d’água só de lembrar.

Passados bons minutos bebendo água de côco gelada, comendo o aperitivo e “jogando conversa fora” com o simpático dono do estabelecimento e com um falante senhor idoso que por lá almoçava e me brindou com alguns “causos”, foi chegada a hora de pagar a conta (R$21,30 – incluído o côco gelado, uma água mineral com gás e 1\2 porção de peixe que servia tranquilamente duas pessoas, mas não sobrou)).

Depois disso, dei uma rápida passada pela longa e antiga ponte de ferro sobre o Velho Chico que já foi (a ponte) travessia de trens e automóveis, mas hoje só comporta pedestres, ciclistas e motociclistas. Passar pela ponte e quase não enxergar o rio, de tão pouca água existente, é muito triste, mesmo de moto, que deixa tudo mais alegre e divertido.

Após deixar de contemplar o rio que um dia foi e hoje se esvai, recobrei-me da tristeza e iniciei o retorno à minha querida Curvelo, não sem antes verificar, às 14h:30min/15h, que agora sim o sol estava à pino, irradiando “deliciosos” 36,5°C e fazendo o asfalto tremer. Cheguei a pensar que estava no Saara, é sério, tive mesmo algumas perdas momentâneas de consciência e vertigens devido ao calor, mas aí parei para beber uma água (R$3,00) e reaprumar o corpo (e a consciência) para chegar em casa, precisamente às 16h15m, após percorrer um total de 401,3km(com um único tanque) e gastar R$74,10. O saldo foi super positivo, a única coisa chata é que foi tudo asfalto, não deu nem pra sujar a moto, mas tá valendo.

Dizem que o que se faz no primeiro dia do ano se repete ao longo deste, tomara que se revele verdadeiro esse dito popular e que eu possa contiuar conhecendo e mostrando novos lugares durante todo o ano de 2015 e seguintes.

Agradeço a Deus pela oportunidade e companhia, e também aos amigos Alexandre Benony Oliveira Santos pelas informações sobre o lugar (Barra do Guaicuí) e aos amigos Edgard Adv Cotait, Dircélia Camilo e Elvia Maria Antonio Antonio, que me incentivam a fazer esses relatos, além dos já citados no texto acima, pelos motivos ali declinados.

*informações coletadas em sites diversos na internet.


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