Cheguei a Deal’s Gap por volta das 11 horas e decidi descansar por 1 a 2 horas antes de fazer o circuito. Ainda que tenha atravessado o Smoky Mountain National Park com o dia ensolarado, em meio a uma paisagem belíssima, apressei o passo para poder dedicar mais tempo ao Rabo do Dragão.
Convenham que é muito difícil resistir a essas paisagens sem paradas para fotos.
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O “Tail of the Dragon” fica na US-129, em um trecho de 11 milhas que liga a Carolina do Norte ao Tenessee. Este nome foi adotado devido à quantidade (318) e ao formato das curvas, semelhantes ao serrilhado do rabo de um dragão. Pelo gráu de dificuldade das curvas tornou-se um “point” para os motociclistas da região e logo ganhou fama internacional, atraindo motociclistas e turistas de todas as partes do mundo. Vale ressaltar que toda a região tem estradas sensacionais para os amantes do motociclismo e vale a pena prolongar a estada para curti-las.
A estrada é de uma única e estreita pista de mão dupla, sem acostamento. As curvas variam mas em sua grande maioria são de raio fechado, algumas em cotovelo, tanto em aclive como em declive. Na maioria dos trechos existem barrancos de um lado e grotões do outro, sem nenhum guard-rail ou mureta de proteção. Árvores de ambos os lados, em determinadas épocas do ano, coalham o chão de folhas que podem prejudicar a aderência dos pneus, especialmente de motos. Tudo isso com o transito aberto a automóveis, moto-homes, caminhões e carretas. O fato é que muitos loucos vão para lá com suas motos e carros esportivos (Corvette, Jaguar, Ferrari, Porsche, etc) com o único objetivo de fazer o trecho no menor tempo possível (existe até um ranking clandestino, segundo soube). Muitos já perderam a vida ali, existe a relação no site oficial www.tailofthedragon.com
Enquanto descansava circulando pelo imenso estacionamento que abrangia hotel, posto de gasolina, restaurante e loja de souvenir, observava o burburinho e a agitação que denunciavam a carga de adrenalina presente.
Uma coisa que me chamou a atenção foi a forma como cada motociclista, ou grupo de motociclistas, iniciava o circuito. Eles aguardavam de 2 a 3 minutos quem largou na frente se distanciar antes deles mesmo partirem. Comecei a bolar uma estratégia para fazer a minha passagem. Eu sabia da quantidade de curvas, com poucas e curtíssimas retas e que fortes reduções e acelerações seriam uma constante. Optei por utilizar apenas 3 marchas para fazer o circuito, na realidade apenas a 2ª e a 3ª. Buscava com isso reduzir ao mínimo a necessidade de utilizar os freios. A idéia era acelerar nas saídas de curva, jogar uma 3ª. quando possível e nas entradas das curvas reduzir para 2ª. Quando o raio da curva fosse muito fechado, bastaria fechar o punho reduzindo a velocidade para que a moto inclinasse de forma a tangenciar o lado interno da curva. Ao ver o ponto de saída acelerar e tirar a moto da inclinação. Tudo isso usando o contra-esterço, mantendo o foco, sem distrações, olhando para onde quero que a moto vá e respirando corretamente.
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Ainda assim adotei uma estratégia bem conservadora, iria andar a uma velocidade que não atrapalhasse ninguém mas também sem bancar o Giacomo Agostini (esse é da minha época) pois estava sozinho, longe de casa e se caio num grotão o risco de ninguém me ver é grande. Atento aos retrovisores, era hora de colocar em prática a estratégia e colher os dividendos das horas de aulas e treinamentos com o meu amigo Cyro França. Devo dizer que foi mais fácil do que imaginava. O momento mais tenso foi exatamente na saída, com todos os olhares (pelo menos é o que imaginamos) se concentrando em mim e na Angelina mas assim que entramos na estrada tudo ficou mais tranqüilo. Não havia carros nem motos à minha frente, a decisão de utilizar apenas 3 marchas se mostrou acertada facilitando e tornando mais segura a pilotagem. À medida em que as curvas iam sendo vencidas a adrenalina era substituída pela alegria de estar realizando um sonho. Após algum tempo vi um “overlook” com várias motos e carros parados. Curioso parei e fui recompensado. Era uma vista maravilhosa: a represa Calderwood Dam formando o lago do mesmo nome.
Após alguns minutos contemplando a belíssima paisagem, baterias devidamente recarregadas, continuamos nosso circuito. Desse ponto em diante, o “Rabo do Dragão” vai ficando mais civilizado e termina quando encontra a State Highway 115. Fiz o retorno e com os mesmos cuidados da vinda voltei para Deal’s Gap. Parei para comer algo pois a fome chegou avassaladora. O restaurante fica lotado de motociclistas, todos com suas traquitanas eletrônicas (I-pods, GPS, etc). Como eu já tinha sido avisado da previsão de neve nas montanhas aproveitei, enquanto não chegava a comida, para traçar um roteiro de volta. Liguei meu notebook e abri um imenso mapa em cima da mesa. Fez-se um silencio absoluto nas mesas em volta da minha, acho mesmo que ouvi um “-Ohhhhhh”. Os gringos olhavam espantados para mim, para meu mapa e para o notebook, acho que esperavam que eu sacasse um sextante a qualquer momento. Foi muito engraçado.
Com a ajuda do mapa e do notebook tracei um caminho de volta. Inúmeras anotações foram feitas no mapa, sempre sob o olhar espantado dos gringos e eu rindo por dentro. A única coisa que me incomodava é que não havia feito fotos no meio do “Rabo do Dragão”, principalmente pilotando a Angelina. De repente, vejo uma propaganda do site www.killboy.com e lembrei-me de que o Cyro já havia me falado sobre eles. Procurei um cara com a camisa deles e fui informado que eles tinham fotógrafos em alguns pontos do circuito que colhiam flagrantes e colocavam os melhores para venda através do site. Bastava eu saber o dia e hora aproximada que fiz o circuito. Dei sorte, os caras fizeram uma sequência de 4 fotos em uma das curvas:
Essa sequência de fotos deixou-me feliz por dois motivos: em primeiro lugar por registrar minha passagem pelo Tail of the Dragon. Em segundo por mostrar que os ensinamentos não foram em vão pois desde a primeira foto, onde estou saindo de uma curva e prestes a entrar na segunda, percebe-se a trajetória correta e o olhar para o ponto de tangência da curva seguinte. Na segunda foto, a moto exatamente no ponto de tangência e o olhar no ponto de saída. A terceira foto mostra a moto já começando a sair da inclinação em direção à próxima curva. A última foto mostra a moto em direção ao ponto de entrada da curva seguinte, que era para a direita. Acho que, sem querer, ficou didático.
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Quando terminei o “Rabo da Lagartixa” (a essas alturas me permiti uma certa intimidade com o Tail of the Dragon) peguei o caminho de volta abandonando a maravilhosa Blue Ridge Parkway além de evitar o caminho mais curto, a US81. Por causa da ameaça de neve numa e pelo transito pesado na outra. Optei pela US29 que fui encontrar lá em Gransboro, depois de seguir a US40. Tudo isso dicas de uma equipe de retaguarda que cuidou de mim como verdadeiros anjos da guarda, avisando-me sobre o tempo, sugerindo roteiros, reservando hotéis e, principalmente, torcendo e vibrando com minhas conquistas. Ouso dizer que formamos um time, e que time ! Cristiane, Bob e seus dois filhos: Tatiane e Jonatah além do meu mestre e incentivador, Comandante Cyro França. Não posso esquecer de Bear e Gus, que me receberam com saltos e latidos de pura alegria quando retornei à linda Charlottesville. Jamais vou conseguir externar toda minha gratidão.
Hélio Rodrigues Silva
http://heliorsilva.blogspot.com/
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