Na noite anterior à viagem, arrumamos nossa bagagem nos alforjes e fomos dormir ansiosos pelo início da aventura. Cada alforje continha roupas e objetos pessoais de cada um, como se fosse uma mochila – as ferramentas, coloquei em uma pequena bolsa cilíndrica que tenho na dianteira da moto. Na mala do piloto, além das roupas, um litro de óleo e um tubo de reparador de câmara de ar para o caso de um furo.
Antes de iniciar a viagem, fiz alguns contatos com hotéis no caminho onde pretendíamos passar e já saímos com um planejamento das paradas na viagem e a primeira perna foi de Floripa (SC) a Camaquã (RS).
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Saímos de Florianópolis às 7 da manhã da sexta-feira 29 de agosto e, apesar do sol, fazia um friozinho de arrepiar. Fizemos uma parada rápida na primeira hora de viagem para colocar as roupas de chuva para nos proteger do vento frio que atravessava até os ossos e seguimos viagem quentinhos e confortáveis.
Chegamos a Camaquã às 16h40, ligamos para nossos amigos de longa data que já nos esperavam e logo estávamos confraternizando à mesa depois de alguns anos sem nos ver, muito assunto para colocar em dia. Nesse dia, havíamos rodado perto de 600 km direto, e a Intruder correspondeu muito bem.
Partindo de Camaquã para o Uruguai.
Na manhã do sábado 30/8, por volta de 8 horas, partimos em direção a Jaguarão, agora acompanhados pelo casal de amigos em uma BMW 650 que iriam conosco até Treinta y Três, no Uruguay. Meu amigo e eu já havíamos providenciado a Carta Verde com antecedência, através de um corretor em Jaguarão que nos atendeu eficientemente via mail – o nome dele é Marcelo (botelhoterramarcelo@gmail.com), para quem precisar.
Chegando a Jaguarão, procurei o Hotel Rios onde o corretor deixou o documento e, de posse da Carta Verde, cruzamos a fronteira. Almoçamos em Rio Branco e visitamos alguns shoppings antes de seguir viagem rumo a Treinta y Três, onde pretendíamos chegar antes do anoitecer.
Na saída da cidade de Rio Branco fica a aduana uruguaia e ali apresentamos a documentação necessária para seguir viagem – Passaporte ou Identidade, CNH, Documento da moto e Carta Verde – e continuamos em direção ao interior do Uruguay, rumo a Treinta y Três.
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A estrada é muito boa, não havia trânsito e tampouco polícia rodoviária – durante toda nossa viagem em nenhum momento fomos abordados pela polícia rodoviária, no Brasil ou no Uruguay.
Chegamos a Treinta y Três por volta das 18 horas, estava escurecendo, mas nossos amigos conheciam bem a cidade e fomos direto para o hotel – até aí a Intruder já havia rodado cerca de 1.000 km sem apresentar qualquer problema.
O Hotel 33 é um bom hotel; o concorrente (La Posada) é mais barato, mas não tem estacionamento, o que nos levou a optar pelo primeiro. À noite, fizemos um passeio pela cidade e reconheci alguns lugares, eu havia estado lá em 1970 e achei que não mudou muito. Fomos comer um suculento e exagerado prato de carnes num restaurante bom e barato chamado Dom Pepe, na mesma rua do Hotel 33.
Feira “tem de tudo”, em Treinta y Três.
Na manhã do domingo, tomamos um supercafé no hotel e fomos visitar uma feira de rua que acontece em Treinta y Três todo final de semana. É muito interessante e vale a pena visitar, tem de tudo, desde alface até peças de motos antigas. Ao meio-dia, nos despedimos, e o casal de amigos retornou para Camaquã enquanto tomávamos a direção de Montevidéu, distante cerca de 290 km de Treinta y Três.
A viagem estava tranquila, até que o pneu dianteiro começou a esvaziar e não notei porque a estrada tinha longos trechos com uma espécie de arranhões no asfalto, algo para preparar uma nova camada e a dirigibilidade ficava comprometida, mascarando o problema do esvaziamento lento do pneu. Ao entrar em uma zona urbana, na pequena cidade de Mataojos, notei que o pneu estava bem baixo e tentei retornar a um posto de gasolina que eu havia passado – não deu certo, o pneu foi ao chão. Utilizei o tubo de reparador, mas cometi um erro por desatenção: apliquei sem chacoalhar para fazer a mistura e o líquido não cumpriu a função, complicando ainda mais minha situação. Resolvemos retornar a um posto de gasolina que havíamos passado e que tinha pneu e câmara à venda. Tomamos informação em um posto policial sobre onde encontrar uma gomeria (borracharia) aberta no domingo, missão difícil. O policial resolveu nos ajudar, pegou uma moto e me deu carona até um borracheiro, quase fora da cidade. Foi a salvação. Comprei a câmara no posto, o borracheiro trocou e logo estávamos na estrada novamente. O borracheiro, um senhor bem simpático chamado Perez, me recebeu dizendo: “si no hablas castellano no es cristiano” (algo assim) e rimos um pouco aliviando o estresse da situação. Na próxima viagem vou levar, além do reparador e da câmara sobressalente, um conjunto de espátulas.
Pneu furado, em Mata Ojos, cerca de 80 km de Montevidéu.
Perdemos duas horas com a história do pneu e acabamos chegando a Montevidéu ao anoitecer do domingo. Foi fácil chegar à cidade pela rota 8, que termina onde inicia a avenida 8 de Outubro, que termina na 18 de Julho, onde ficava o hotel – melhor impossível.
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O Hotel América é um bom hotel, com uma diária honesta (U$50), tem um bom café da manhã e está localizado no coração de Montevidéu. O hotel tem convênio com um estacionamento a meia quadra de distância e cobra U$5 ao dia por um Box, tanto faz carro ou moto. O estacionamento é um edifício-garagem com vigias 24 horas, muito bom.
Mercado do Porto, Montevidéu
Passeamos bastante pela cidade no domingo à noite, segunda o dia todo e terça pela manhã, quando partimos em direção a Punta del Este, nossa próxima parada planejada. Jantamos em um lugar próximo ao hotel, chamado Bar Hispano, que além da fartura de carne ainda tem uma torta de clara de ovos que deixa com água na boca só de pensar – recomendo. Outra dica é pagar o restaurante com cartão, você tem 18% de desconto na fatura, o que compensa o IOF e ainda sobra dinheiro. À noite, comemos um “chivitos compartido” no Del Navio, que fica na 18 de Julho esquina com a Rio Branco, um prato na medida para duas pessoas famintas.
Monumento ao afogado, Punta del Este, Uruguay.
Bem cedo, na manhã de terça-feira, quando estávamos nos preparando para descer para o café, escutei na TV o homem do tempo que falava rápido, mas pude entender as palavras “vento” e “tormenta” e identifiquei no mapa a costa uruguaia por onde pretendíamos passar. Não deu outra, choveu durante todo o trajeto Montevidéu–Punta e menos mal que a estrada é excelente e a roupa de chuva Pantaneiro também – nos manteve sempre sequinhos e protegidos do vento. Chegamos a Punta por volta das 15 horas debaixo de chuva e paramos para abastecer e fazer um lanche. Durante o lanche conversamos e decidimos cortar a parada que faríamos em Punta e tocar direto para o Chuy. Antes, porém, demos uma volta pela cidade e tiramos umas fotos no monumento ao afogado. A chuva alternava entre estiagens rápidas, chuvinha leve e pancadas também rápidas – assim fomos até perto do Chuy, quando a chuva parou e entrou um vento que não nos deixava ir além de 90 km com o cabo todo enrolado.
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Chegamos ao hotel por volta das 17 horas, guardei a moto, trocamos de roupa e fomos conhecer os shoppings da fronteira e procurar um lugar para jantar. O Hotel chama-se Turis Firper e fica no lado brasileiro, em um local que a princípio dá um pouco de medo, mas que logo passa, a gente acostuma. Voltamos ao hotel à noite, depois do jantar, com receio de caminhar por aquelas ruas mal iluminadas e mal cuidadas da cidade do Chuí – muito feia a cidade, dos dois lados.
Preparando para voltar para casa.
Na manhã seguinte, quarta dia 3/9, fomos procurar um pneu dianteiro para a moto porque o que tinha já estava ficando liso, comprei um Pirelli por 130 reais em uma loja chamada Mileño, no lado uruguaio. A loja não troca pneu de moto e tive que procurar um borracheiro para fazer o serviço, que custou 10 reais.
Tudo pronto, resolvemos tocar direto para Camaquã, onde faríamos uma parada na casa dos amigos que foram conosco até Treinta y Três. Chegamos à noitinha porque fizemos uma parada no “Paradouro Grill” para matar a saudade de fazer um lanchinho naquele local, que é muito bom. A parada foi longa porque tomamos café, descansamos e conversamos um bom tempo.
Na manhã de quinta-feira partimos para Porto Alegre, onde faríamos uma parada também planejada para visitar nossa filha e meus pais. Foi uma viagem curta e chegamos por volta de 11 horas da manhã, houve um atraso porque pegamos a ponte sobre o Guaíba com o vão levantado para a passagem de algum navio – uma fila imensa.
Manhã de sexta-feira, 9 horas, partimos para Florianópolis com tempo ruim, ainda não chovia, mas durante o trajeto pegamos alguma água. O vento estava terrível na Freeway, na margem da lagoa era difícil manter 80 km, vento muito intenso e o jeito era aninhar-se atrás de alguma caminhonete de modo que, além de “puxar” a moto permitisse a visão da estrada. Assim viemos até Floripa e chegamos em casa, no sul da ilha, por volta de 17 horas – fizemos apenas paradas para abastecer a moto e o estômago e por isso viemos rápido mesmo com todo o vento contra.
A moto se comportou maravilhosamente bem, confortável, manteve boa média de consumo, não apresentou qualquer problema mecânico, nota dez!
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Havia trechos em que eu precisava carregar meu celular e então a tomada USB que coloquei na moto justificou o investimento. Eu colocava o celular no bolso, com o cabo conectado à tomada no guidão, quando fazia uma parada conferia a carga do fone e retirava o cabo. Meu fone é um Nokia com GPS independente da operadora e foi muito útil na viagem. Também tínhamos um intercomunicador com fio, que dei de presente aos meus amigos de Camaquã, e fizemos bom uso dele durante a viagem – apesar de em certos momentos eu ficar ouvindo o barulho do vento pelo microfone da garupa.
Os alforjes de lona impermeável não deixaram a água entrar, mas mesmo assim guardamos toda a nossa roupa dentro de um grande saco plástico.
Estimo que o peso total que a moto levava tenha ficado em torno de 130 kg – piloto, garupa e alforjes. A moto “babou” um pouco de óleo, o que é comum nas Suzuki, mas nada que comprometesse o motor, de resto foi só alegria.
Minha Intruder 2002 estava com 79.800 km quando saímos de Floripa e rodamos 2.700 km nessa viagem. Agora estou pensando seriamente em atravessar os Andes, depois que li o relato de uma menina que fez o trajeto em uma Intruder 250.
Outro relato que me animou a fazer Floripa–Montevidéu foi de uma menina de Floripa que fez o trajeto em uma Biz, esta sim é corajosa.
A poderosa!
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