Serra do Rio do Rastro

Esta viagem foi realizada entre os dias 19 e 23 de novembro de 2008. Sou motociclista ainda em formação, não tenho muita experiência, estou com a minha Falcon há quatro meses.

Eu e minha esposa passamos por um momento muito especial, estamos apaixonados pelo motociclismo e só pensamos na próxima viagem.

Saímos de Osasco (SP) às 8h30 com destino a Serra do Rio do Rastro (SC). Fizemos algumas paradas para abastecimento e refeições; a meta era chegar até Curitiba, mas como a BR-116 estava uma beleza sem trânsito, chegamos à entrada da cidade às 15h30. Achamos então que valeria a pena dar uma esticada até Joinville, e foi isso que fizemos.

Chegamos a Joinville debaixo de muita chuva, por volta de 17h. Encontramos um hotel no centro da cidade, tomamos um belo banho e saímos para comer alguma coisa e conhecer o centro da cidade.

No dia seguinte, saímos de Joinville por volta das 10h da manhã, rumo a Florianópolis para passar alguns dias. Pegamos chuva por todo caminho, um vendaval terrível, muitos caminhões e muita tensão.

Já em Floripa, saímos à caça de um hotel — eu não via a hora de tomar um banho bem quente. Paramos em sete lugares e todos lotados. Um funcionário de um dos hotéis disse para irmos até o norte da ilha, pois lá conseguiríamos no mínimo uma pousada. E lá fomos nós.

Rodamos uns 30 km de baixo de muita chuva e chegamos à Praia dos Ingleses. Parei na primeira pousada que vi e, graças a Deus, tinham vagas. Tomamos um belo banho e saímos para comer alguma coisa. À noite não estava mais chovendo, olhei a previsão do tempo e vi que realmente não choveria no dia seguinte.

Acordamos e a primeira coisa que fiz foi ver se estava chovendo. Mais uma vez, um baita temporal! Perguntei ao recepcionista do hotel há quanto tempo estava assim e ele me disse que fazia mais de 60 dias.

Percebi que não poderia mais acreditar nas previsões do tempo. Seguimos rumo à BR 101 e logo depois pegamos a SC 282 debaixo de uma tremenda chuva. Após muitos Km de muita água e muito frio, paramos em um restaurante na cidade de Rancho Queimado.

Apesar de estar de calça e jaqueta impermeáveis, fiquei todo molhado. Aproveitei a parada para lubrificar a corrente, tomei um chocolate quente e logo depois seguimos viagem.

Eu não estava mais agüentando de frio, tremia feito vara verde quando, de repente, não senti mais nada. Na mesma hora me lembrei de uma matéria que li aqui no site, que no começo da hipotermia a pessoa deixa de sentir frio.

Logo avistei um posto de gasolina na cidade de Bom Retiro e parei para me certificar se eu realmente estava bem. Foi só tirar a luva e comecei a tremer incessantemente. Não conseguia nem falar. Nessa hora minha esposa mesmo nervosa me secou, me arrumou roupas secas e aos poucos comecei a voltar ao normal. Tomei um café bem quente e me senti muito melhor. Foi quando senti vontade de voltar e minha esposa disse que não iríamos voltar a não ser que eu não estivesse em condições de pilotar.

Seguimos mais alguns poucos quilômetros e chegamos a Urubici. Lá achamos uma pousada maravilhosa (Café no Bule), tomamos um bom banho quente e pedimos uma pizza.

Acordamos na manhã seguinte e saímos debaixo de uma fina garoa. Em alguns pontos até vimos o sol, além de paisagens maravilhosas: cachoeiras, lagos, tudo muito lindo, quando de repente, chuva novamente! Desta vez, pesada.

Parei a moto, estávamos a 3 km da serra e disse para minha esposa que estava preocupado, pois havia muita neblina. Ela retrucou dizendo que “não viajamos quase 900 km para ter que voltar e não descer essa serra! Vai pilotando com cautela que vai dar tudo certo”. Foi ela dizer isso e passamos por uma placa: “Estamos há 5 dias sem acidentes com morte nessa rodovia”. Eu não sabia se ria ou se chorava, mas continuei rumo à serra.

Passamos por trechos com e sem neblina e a chuva continuava o tempo todo. Abri a viseira e começamos a descida. Que visão gloriosa, já não existia mais chuva, nem frio, nem cansaço, tudo isso foi irrelevante diante de tanta beleza.

Emocionei-me. As lágrimas se confundiam com a água que entrava pelo capacete. Na garupa, minha esposa como eu, totalmente emocionada. Tudo aquilo era demais para nós dois. Descemos até Lauro Muller, olhamos um para o outro e dissemos: “Não vejo a hora de subir”.

Olhei para o velocímetro e vi que não estava funcionando, subimos na moto e começamos nosso retorno. Eu até pensei em ficar mais um dia em Lauro Muller, mas os frentistas do posto de gasolina nos disseram que há tempos não se via o sol naquela região. Percebi que não iria ser no dia seguinte que isso iria acontecer!

Enrolei o cabo até chegar em Lages, comemos alguma coisa e voltamos a tocar para Curitiba. No dia seguinte, pegamos a estrada cedo e chegamos a São Paulo por volta das 15h.

Tínhamos tudo para nos sentir frustrados, pois pegamos chuva praticamente todos os dias. Mas muito pelo contrário, estamos nos sentindo tão bem, tão felizes por ter conseguido cumprir nosso objetivo.

Conhecemos pessoas, passamos por lugares maravilhosos e paisagens fantásticas! Rodamos quase 2000 km literalmente em plena harmonia: eu, minha esposa e nossa maravilhosa moto. Experiência esta que nunca mais esqueceremos.

Com disposição e uma moto revisada, se vai a qualquer lugar do mundo! Agora é começar o planejamento da nossa próxima viagem. Serra da Canastra, aí vamos nós!

Texto gentilmente cedido por Eduardo Borges Correia do blog ELmoto Viagens e Motociclismo.


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