Minha primeira viagem de moto

Meu nome é Ezequiel Pereira de Souza, sou estudante de Engenharia Elétrica e amo motocicleta desde meus 16 anos, quando ingressei como ajudante de uma oficina de motos na pequena cidade de Condeúba – BA.

Sempre fui fissurado por montar e desmontar “coisas”, para ver como funcionava ou simplesmente para ver como era por dentro. Assim, tive facilidade para trabalhar na pequena oficina de um amigo, Jair. Foi lá também que dei minha primeira volta de moto, na garupa, é claro.

Certo dia fui com ele numa cidade vizinha buscar uma peça para uma moto que estávamos consertando e esse foi o primeiro dia em que pilotei uma moto, na ocasião, uma Honda CBX 200 strada.

Foram se passando os anos, porém, nunca tive a oportunidade de comprar minha própria moto, mas continuei andando nas motos de amigos ou na garupa.

O tempo passou e voltei para São Paulo. Após um longo período trabalhando e juntando dinheiro, no dia 16/02/2011 consegui comprar minha primeira moto, a Pequena Guerreira, como eu costumo chamar, minha Suzuki Yes 2007/2008 Azul.

Bom, na época que morava na Bahia, eu ouvi o Jair contar uma história em que ele foi de São Paulo para a Bahia numa Honda CBX 200 Strada. E isso não saiu da minha cabeça, “viajar de São Paulo para a Bahia de moto”.

Após comprar minha moto, sempre que subo em minha Pequena Guerreira, me imagino indo para a Bahia nela. A data já estava praticamente marcada para o feriado prolongado do dia 23 de Junho (feriado de Corpus Christi). Com o decorrer dos dias, comentei com meus colegas de faculdade sobre essa viagem, mas todos foram contra, dizendo que viajar de 125cc é muito complicado e cansativo, que eu iria gastar cerca de cinco dias de viagem. Mesmo assim eu não desanimei e estava determinado a embarcar nessa viagem Afinal, era um sonho que estava prestes a se realizar.

Não desanimei, mas resolvi seguir um dos conselhos que recebi ”fazer um teste”, ou seja, fazer uma viagem com uma distância menor para ver como eu e minha moto iriamos nos sair em uma viagem.

Após alguns dias de pesquisa, resolvi ir para o Rio de Janeiro. Mas como queria curtir a viagem, fiz uma rota pela rodovia Rio – Santos, já que passa beirando o litoral.

E assim, no dia 28 de maio de 2011 embarquei nessa aventura. Sai de casa, na zona leste de São Paulo, por volta das 10 horas da manhã rumo a Bertioga…A partir de agora começa minha primeira aventura com minha Pequena Guerreira…

Como era de esperar, eu me perdi logo após rodar aproximadamente 20 km nos arredores da cidade de Suzano – aliás, me perder andando de moto é o que eu mais sei fazer. “Pergunta ali”, “pergunta aqui”, consegui me localizar, indo em direção à rodovia Mogi – Bertioga.

O tempo estava oscilando entre chuva, garoa e sol. Fui seguindo viagem até chegar a Bertioga, onde fiz minha primeira parada em um posto rodoviário para perguntar como pegava a rodovia Rio – Santos. Mal sabia que ela estava na minha frente.

Enfim, cheguei na “tão deseja” Rodovia Rio – Santos, onde segundo meu colega de trabalho, Raphael existia lugares paradisíacos, mirantes entre outras atrações.

Como não sabia que lado estava o Rio de Janeiro resolvia pegar a Rio – Santos para direita, resultado: Errei, para variar. Assim que percebi o erro dei meia volta e agora no sentido certo “torci o cabo” e vamos embora!

Começaram a aparecer cidades: São Lourenço, Boraceia, São Sebastião, entre outras. Quando estava chegando próximo à Cidade de Maresias, senti que a moto estava deslizando e vi que o chão estava cheio de manchas de óleo. Por precaução, resolvi reduzir a velocidade (Graças a Deus), pois o que viria mais a frente seria cruel. Numa curva fechada – alias, curva fechada é o que não falta nessa estrada -, andando a 40 km/hora, a moto escorregou como se estivesse em cima de uma pista de sabão, ficando aqui registrado meu primeiro tombo com minha Pequena Guerreira. Graças a Deus não aconteceu nada comigo e muito menos com a “motoca”, mas como diz um amigo meu, o Wilson: “O chão faz parte do motociclista”.

Após ver que eu estava inteiro e minha moto apenas sofreu escoriações leves, “bati a poeira” e continuei minha viagem, agora ainda mais determinado.

Passei por Maresias, Caraguatatuba, Ubatuba e varias cidades mirantes, até deparar com a cidade de Paraty, que fica localizada no Estado do Rio de Janeiro. Não quis entrar na cidade e continuei viagem. Após um longo trecho sem cidades e casas, no meio do nada, me deparei com algo que parecia uma usina. Foi quando percebi que estava na frente da Usina Nuclear de Angra dos Reis. Nesse momento estava chovendo forte e decidi abortar minha viagem. Parei no primeiro posto de gasolina e perguntei como faria para voltar para São Paulo sem ser pelo caminho que tinha percorrido. Me lembro até hoje da resposta do frentista: “Você vai mais uns 18 km para frente ai você vai ver uma saída para uma cidade chamada Lindice”.

Assim fui, mal sabendo o que me esperava. Debaixo de chuva, quase de noite, cheguei na estrada que o frentista me falara. Ela é chamada de Rodovia RJ-155. Me chamaram a atenção as placas vermelhas, e existem várias  delas, “implorando” para que o motorista respeite a sinalização ou a morte será certa! Até hoje, quando me lembro dessa estrada, me arrepia até os ossos, pois, após percorrer um longo trecho sozinho, um carro me alcança e me ultrapassa numa curva. A partir daí passei por muitos outros veículos tanto subindo como descendo essa serra. Resolvi seguir um “golzinho” que estava na minha frente, pelo menos não iria sozinho. De repente, me deparo com uma placa dizendo: “túnel a frente”. Porém, ao chegar nele, vi que o teto era sem revestimento o piso deixara de ser de asfalto e passou para paralelepípedos molhados e escorregadios, além do breu total que era por dentro. Não enxergava nada, só me perguntava o que eu estava fazendo ali em vez de estar em casa descansando. Após longos cerca de 500 metros, cheguei na saída do túnel, mas mal sabia que ainda haviam mais dois túneis iguais àquele para enfrentar. Foram longos 112km nessa estrada, onde falava comigo mesmo: “Se eu sobreviver terei historia para contar”.

Com o tempo, fui me acostumando com a estrada, a chuva cessara, o trafego diminuiu e eu ali, seguindo meu único companheiro, o Golzinho branco.

Após um tempo, avistei a primeira placa que estava escrito: DUTRA – 70KM. Nunca fiquei tão feliz ao ver uma placa de trânsito. Mesmo assim, a tensão continuava, pois, a tão esperada rodovia Dutra não aparecia. Avistei a segunda placa: DUTRA – 30KM e, por fim, após mais alguns minutos, avistei a placa que me deu mais felicidade: DUTRA VIRE A ESQUERDA. Comecei a agradecer a Deus, pois, mesmo não estando em casa, sentia meu coração tranquilo. Eu já estava na Rodovia Dutra. Percorri alguns quilômetros até chegar ao primeiro posto de gasolina, parei no posto e comecei a chorar de felicidade, pois tinha sobrevivido à rodovia RJ-155 e poderia contar esta historia. Desci da moto, fiz um alongamento, afinal já faziam cerca de 9 horas que eu estava sentado em cima da Pequena Guerreira sem fazer as necessidades básicas e muito menos almoçado.

Após descansar alguns minutos, voltei para cima da Pequena Guerreira, abasteci e fui para a estrada que, segundo o frentista cujo nome que estava em seu crachá era Antônio, faltavam cerca de 260km até São Paulo.

A partir daí, fui “abusando” da Pequena Guerreira, mantinha os 100km/hora na reta e dava alguns picos de 120, 130km/hora nas decidas. Após um longo trecho parei uma última vez para abastecer e segui viagem. Depois de três horas aproximadamente, eis que avisto uma placa dizendo SAÍDA MOGI DAS CRUZES – 2KM. Nesse momento já estava exausto, com muitas cãibras e assim que entrei na cidade, comecei a implorar por semáforos fechados para que eu pudesse ficar em pé e esticar as pernas. Por ironia do destino, todos os semáforos daquele dia estavam verdes.

Às 22h45min cheguei à minha residência. Extremamente cansado, deixei a moto na garagem e subi para minha casa, falei oi para minha mãe – que estava no sofá, aflita, esperando o filho que saiu com destino ao Rio de Janeiro, de moto, recém-habilitado – joguei a mochila na cama, agradeci mais uma vez a Deus, peguei minha toalha e fui para o banho pensando que faria tudo novamente, pois valeu a pena!

Após essa aventura, e por tudo que passei, continuei determinado a ir para a Bahia no dia 23 de junho, afinal, a moto se comportou muito bem e eu, apesar de exausto, no outro dia estava normal.

Porém, na quarta feira, dia 22 de Junho, dia que antecedia o feriado prolongado, me acontece algo que nunca imaginara – pelo menos não naquele dia – meu segundo tombo com a Pequena Guerreira. Estava parado em semáforo na Av. Radial Leste, vem uma Montana e me atropela. Estava junto como minha namorada e, graças a Deus, não aconteceu nada nem conosco nem com a Pequena Guerreira que, mais uma vez, sofreu escoriações leves. Porém, o suficiente para que eu abortasse minha viajem para a Bahia, pelo menos naquele feriado.

E hoje, com mais experiência – e juízo –, decidi ir para a Bahia no final do ano, mais precisamente no dia 22 de Dezembro. Assim, vou estar de férias da empresa e com tempo suficiente para curtir minha viagem tranqüilamente.

Bom, essa é minha história. Espero que em 2012, quando estiver de volta, possa escrever sobre minha aventura que já tem até titulo “De São Paulo à Bahia numa Suzuki Yes 125cc”.

Ezequiel Souza, Suzuki Yes 2007/2008 Azul. (Pequena Guerreira)


Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Para adquirir os livros abaixo, acesse o site do autor: romuloprovetti.com

Livro A caminho do céu - uma viagem de moto pelo Altiplano Andino
A caminho do Atacama
Livro sobre viagem de moto pelo Himalaia
Livro sobre viagem de moto até Ushuaia
Um brasileiro e uma moto no Himalaia indiano