Paraty, a escolha da moto

A ideia principal era viajar com uma moto potente, em boas condições mecânicas e, principalmente, com apenas R$ 15 mil no bolso.

Este era o projeto inicial. Depois de um ano afastados das viagens de moto, eu e minha esposa resolvemos pesquisar o que poderíamos comprar com este montante.
Depois iríamos planejar uma viagem de aproximadamente 800 km, considerando que teríamos apenas 10 dias de folga.

Diante do mercado atual, seria inviável para nós uma motocicleta nova e de mecânica confiável com menos de R$15.000,00. Poderíamos achar algo com dois ou três anos de uso com valor menor que este, mas estaríamos desconsiderando o termo “potente”. Ressalvo que quando digo potente não tinha em mente percorrer estradas brasileiras com minha amada esposa na garupa acima dos limites permitidos. Jamais deve-se pensar isto, mas quando se pensa em uma viagem de moto acima de 500 km, com garupa, uns 20 kg de bagagem e considerando a barriguinha dos dois, fica complicado ter segurança nas ultrapassagens e boas retomadas com motocicletas com menos de 30 cv.

Decidimos então um desafio: nos focamos primeiro no tipo de moto, seria uma da categoria “Street”, ou seja, esportividade aliada a desempenho e conforto. Poderia ser até uma Naked, porém, a grana seria curta para algo mecanicamente confiável. E mais, temos que considerar que a partir de agora estamos falando de comprar uma moto usada, revisá-la antes de começar a usar, além de testar bem antes de pôr na estrada.

Fomos à busca. Sites especializados é o que não falta. Visitamos algumas lojas multimarcas e ficamos abismados com o despreparo de alguns profissionais, além da falta de respeito com o consumidor. Alguns lojistas vendem motos com pastilhas de freio gastas, pneus carecas etc… Imagine só, como pode as partes destas motocicletas que não podem ser vistas a olho nu no show room de uma lojinha destas. É lastimável! Um ponto positivo, foi (modéstia à parte) minha experiência com motocicletas. Formado em mecânica pelo Senai SP, fui funcionário de uma concessionária Yamaha, onde fui treinado desde a área técnica até a administrativa, fui mecânico de concessionária Honda por seis anos, consultor técnico por dois, mecânico de concessionária Suzuki um ano e atualmente consultor técnico de uma concessionária Honda no Litoral Sul de SP. Ah! E, com muito orgulho, motoboy na grande SP, em uma época em que a categoria ganhava a mesma coisa que atualmente mas a gasolina custava R$ 0,78 (acreditem, já custou isto!).

Já que conheço um pouco de mecânica, me foquei em segundo lugar em uma motocicleta na qual eu tivesse fácil acesso às peças, e onde minha mão-de-obra pudesse ser aplicada sem me gerar custos. Comecei a filtrar entre Honda e Yamaha.

Street Yamaha? É verdade… No Brasil, e ainda usada, eu não teria opção de escolha dentro deste nicho de mercado. Dentro do meu orçamento até encontrei muitos exemplares de XT 600, porém, lembra da categoria “Street”? estaria fugindo do nosso foco. Chegamos a uma conclusão: Honda CB 500.

Bom desempenho, conforto razoável, mecânica robusta… Enfim, decidimos qual seria a moto. O difícil era achar uma em bom estado. Encontramos um exemplar ano 1999 com 28.000 km na cidade de Ribeirão Pires – SP. Achei o preço atrativo e resolvi dar uma olhada. Percebi ao chegar lá que o motor já havia sido aberto e a história que o proprietário me contou é que rodava muito pouco com a moto, era proprietário dela há oito anos e ela chegou a ficar imobilizada por 3 anos ininterruptos, até que um dia ele conseguiu dar partida com uma gasolina parada no tanque a mais de 2 anos e imaginem o que aconteceu: calço hidráulico.

O combustível (no caso, a gasolina) com o tempo perde seu poder de queima (ainda mais em 2 anos. Se fosse um vinho, tudo bem) e ao dar a partida o combustível não queimou. Como não tinha espaço para expandir houve o choque deste liquido mau cheiroso (quem já abriu um tanque com gasolina velha sabe do que estou falando) com as válvulas e pistão, o que ocasionou sérios danos ao motor e por sorte do antigo dono não afetou as bielas e outras partes da região inferior do motor.

Ela realmente precisava de um dono mais cuidadoso, afinal, este último usava pneus remoldados na motocicleta, o que é proibido por lei porque influencia seriamente a segurança no caso de defeito.

Notei sinais de tombos, o que me deu argumentos para minha choradeira e a obtenção de um bom desconto para fecharmos negócio por R$ 11 mil.


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