No início de dezembro passado recebi um convite dos meus amigos Fuzileiros Navais, para participar de um encontro que fariam na cidade de Belém (PA). Decidi então que faria uma viagem de moto da Cidade do Sol (Natal – RN), onde moro, até a Cidade das Mangueiras (Belém do Pará), para participar do evento.
Com um mês de antecedência, fiz revisão geral na moto – gosto de fazer isso sempre um mês antes de viajar, pois dá tempo de usar a moto e verificar se ficou alguma pendência da revisão.
Como já viajei Natal – Belém – Natal, tinha guardado o programa da viagem, então foi só atualizar e imprimir.
Considero importante o programa de viagem por que confiar na memória pode causar prejuízos. O meu inclui uma planilha assim composta:
- destino, distância, valores com combustível, alimento e pousada;
- revisão da moto e ferramental;
- roupas e acessórios;
- higiene e remédios; e,
- detalhamento do itinerário. (gosto de usar o site “Distância entre Cidades”) ex: Natal – 56 km, Santa Maria – 110 km, Lajes… (isso quer dizer que eu saio de Natal, piloto 56 km e chego à cidade de Santa Maria, dali percorro mais 110 km e chego a lajes). A impressão das distâncias entre as cidades, afixada ao tanque da moto, em conjunto com a leitura do GPS, me dá mais segurança;
- ao final da minha planilha não pode faltar o Salmo 23, importantíssimo:
O SENHOR é o meu pastor, nada me faltará.
Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas.
Refrigera a minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, por amor do seu nome.
Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.
Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda.
Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor por longos dias.
Exatamente um mês depois da revisão, estou nos últimos preparativos, viajo amanhã na minha Fazer 250, que carinhosamente chamo de “Tremenda Guerreira”.
Todo o material que consta da planilha foi organizado ao longo da semana e agora o distribuo no baú e alforjes. Os materiais de acesso rápido ficam no baú. Também não levo muita roupa, de maneira que os alforjes vão quase vazios, pois na volta pretendo trazer coisas do Pará.
Tudo pronto, já é noite, a Tremenda está linda e merece uma foto. Não sei com os outros, mas comigo acontece que a noite que antecede qualquer viagem eu durmo pouco. Como diz o meu amigo Marcão, do Blue Hostel lá em Ponta Negra, eu acordo o galo pra ele cantar alvorada.
Todo mundo tem suas particularidades. Eu costumo ser rigoroso com horário e meu planejamento enfatiza isso. Gosto de sair sempre entre 5 e 6 horas da manhã e gosto de parar enquanto o dia ainda está claro. Isso não quer dizer que esse horário não possa sofrer alterações, pois imprevistos acontecem. Também não estabeleço locais para paradas tipos de abastecimento ou pernoites. Tudo fica conforme a viagem se desenvolve.
Às 4h, o motor da Tremenda Guerreira ronca, quebrando o silêncio da rua vazia. Uma oração e… “a primeira pra baixo e o resto tudo pra cima”. Lá vou eu sentir mais uma vez a emoção de alguns dias sobre a moto, na estrada, esquecer o tempo e os problemas do cotidiano.
Sem trânsito, chego em 20 minutos ao posto Emaús, um dos pontos de encontro para saída a passeios de moto aqui na nossa cidade, onde encontro ali com o Calixto do Asas Indomáveis MC, de Natal (RN). Desço da moto e nos cumprimentamos. Ele está chegando para abastecer e eu estou calibrando os pneus para sair. Conversamos um pouco e nos despedimos.
A cidade vai ficando pra trás. Chego à rotatória de Parnamirim e tomo o sentido Mossoró, passando por Macaíba, Reta Tabajara e por fim a Tremenda assume a velocidade de cruzeiro de 110 km/h.
Cheguei a Fortaleza às 13h do primeiro dia de viagem e passei o resto do dia na casa de parentes. No dia seguinte, às 6h, segui viagem. As estradas do Ceará estão ótimas, vários trechos que estavam em obras em 2013, quando passei por lá a última vez, estão agora duplicados. A CE-040 está um luxo e linda, só tem que ter cuidado com a grande quantidade de radares. Subir a Serra de Ibiapaba é um espetáculo à parte, ótimo.
A 30 km da entrada de Teresina, a vegetação e estrada criam um clima e um visual gostoso, um percurso ótimo até a primeira rotatória. Já dentro da cidade, o trânsito se torna um caos, ninguém respeita a sinalização. Trânsito louco até a ponte que fica na divisa do Piauí com o Maranhão.
Pilotei mais 200 km e cheguei à cidade de Peritoró (MA), onde pernoitei.
No dia seguinte, logo que retornei à estrada, a chuva forte chegou com vontade e não teve como não me molhar. Foi o dia quase todo molhado e, consequentemente, redução da velocidade e atenção redobrada fizeram-se necessárias, pois a viseira do capacete embaça, a pista fica lisa e isso faz a diferença pra pior.
Aproveito também as passagens pelos diferentes estados para provar, além da culinária, algo diferente, como tomar um Guaraná Jesus, comer uma panelada no Maranhão, tomar uma cajuína no Ceará, etc.
Como o objetivo é chegar à Cidade das Mangueiras, e pelo fato de já conhecer as cidades do itinerário, não tenho interesse em fazer parada longa em nenhum local. Assim, chego ao Pará sob muita chuva. Chama minha atenção a vegetação rica e verde às margens da estrada e também muitos animais mortos por atropelamento.
Cheguei pouco depois do meio dia a Belém e fui direto para o Hospital Galileu, onde um amigo que sofreu um acidente estava internado. Consegui acesso para vê-lo depois de conversar com familiares. Em seguida fui para o povoado de Pau D’arco, onde fiquei na casa do amigo Rocha.
No dia seguinte iniciei uma jornada de turista por Belém, matando a saudade das comidas típicas lá pelas bandas do Ver-o-Peso.
No outro dia participei do encontro de Fuzileiros Navais no Clube Albatroz, onde revi amigos que não via há 33 anos. Fizemos a festa.
Uma semana depois parti de Belém de volta para Natal, em uma viagem tão boa quanto na ida.
Orientação e paradas
O GPS é muito importante, não que não se chegue ao destino sem ele. Também não abro mão de imprimir cópias do meu itinerário e afixar sobre o tanque, aquele que falei que coloco todas as cidades do percurso. Isso me dá uma segurança tremenda. Importante também é um bloco de anotações e uma caneta pra anotar imediatamente tudo o que gastar.
Quando viajo só não gosto de fazer paradas que não sejam nos objetivos e as necessárias, apesar de saber que o ideal é fazer uma a cada 150 km, mas isso não me incomoda, então só paro mesmo para abastecer, tomar água e quando a bunda já está mesmo pedindo parada. Geralmente ando 300 km tranquilamente e mais 50 até a bunda pedir arrego. Também não faço questão de parar pra fazer refeições.
Alimentação
Como já tive problema com alimentação na estrada, adotei o seguinte procedimento: vou ao supermercado, compro pães e queijo e faço sanduiches; compro Todinho; chicletes; Torrones; e, barras de cereais. Durante o dia, por ocasião das paradas para abastecimento, faço lanches rápidos. À noite, quando paro, aí sim, faço uma refeição a fim de colocar algo quente no estômago.
Outra opção que gosto de fazer quando viajo sozinho é parar em uma feira e comer frutas. Não compro pra levar, apenas paro e como na hora. É um ótimo desjejum.
Adoro também parar nos interiores, naquelas barraquinhas de beira de estrada, onde tem café com leite, bolo, pão, tapioca e cuscuz. Sem contar que sempre rola uma boa conversa.
Claro que isso que estou falando trata-se do meu estilo. Ando no limite, não que eu viaje desprotegido financeiramente. Esse é o meu estilo, assim como existem pessoas que viajam e só se sentem bem se fizerem as três refeições em restaurantes ou churrascarias e se pernoitarem em pousadas com todo o conforto possível.
Pousadas e pernoites
Em Peritoró, na ida, encontrei ótima pousada por R$ 40,00 o pernoite, com ventilador, televisão, cama, internet wi-fi e banheiro. Local limpo e arrumado, além de servir boa refeição.
Em Timon, na volta, paguei R$ 35,00 pelo pernoite em um quarto com banheiro, cama de casal, ventilador, TV, sem internet e com café da manhã.
Quando viajando em grupo, dormir em barracas já não é mais seguro como há anos. No entanto, ainda encontramos lugares onde podemos fazer isso. Já quando se trata de viajar sozinho, essa possibilidade torna-se mais insegura, então eu dificilmente durmo em um posto de gasolina ou qualquer outro local onde não esteja totalmente protegido. A violência está altíssima e não se pode facilitar. O seguro morreu de velho.
Pelas cidades do Nordeste ainda consegue-se pernoitar em quarto com cama de casal, banheiro, ventilador, internet wi-fi, TV e garagem a preços que vão de R$ 35,00 a R$ 50,00, como descrevi acima. Faz-se também um almoço ou janta com R$ 15,00 e um café da manhã com até R$ 10,00. Nada de luxo.
Conforto
Eu excluo essa palavra conforto do meu dicionário quando realizo viagens, pois depois de passar um dia todo sobre a moto, tudo o que quero é um quarto, uma cama, um ventilador e acesso à internet wi-fi, pois o corpo só pede descanso e eu apago rápido. Portanto, ar condicionado, chuveiro quente, frigobar, televisão grande, som, etc., pra mim não fazem diferença, além de onerar a viagem. Um camping também é uma boa pedida.
Estradas
De Natal a Belém o único trecho que considerei ruim foi no Maranhão, saindo de Timon por uns 4 km seguindo em direção a Caxias, um trecho horrível e com muitos buracos.
Clima
No começo do ano chove muito no Pará, então não se surpreenda se tiver que fazer um dia de viagem completamente molhado. Já no Nordeste, muito sol e calor.
A moto
A viagem de Natal a Belém tem um percurso de 2.090 km, então é interessante ter um kit de lubrificação da relação /corrente. Para quem usa óleo, uma opção muito boa é usar um frasco de adoçante grande: cabe em torno de 200 ml. Lubrifique a corrente a cada 300 km ou menos, sempre que lembrar.
Outro detalhe é que depois de carregada a moto fica pesada e não fica fácil, sozinho, fazer a lubrificação da corrente, então se sua moto tiver descanso central, leve um pedaço de madeira pra apoiar a parte traseira a fim de manter suspensa enquanto lubrifica.
Tenha muito cuidado com trechos alagados e estrada de terra com pouco movimento.
Jamais pegue atalhos sugeridos por alguém com quem conversou em uma de suas paradas.
Sempre que fizer uma parada, olhe sua moto pra ver se o motor não está suando.
Preocupe-se com todos os itens amarrados na moto, esteja certo de que tudo está bem amarrado e ajustado.
Por ocasiões de paradas na estrada, tente não perder de vista a sua moto.
Não descuide da calibragem dos pneus e, se possível, complete o tanque logo que chegar à metade. Esteja sempre pronto para uma possível falta de posto de combustível nos próximos 100 km. Quem já passou por isso sabe do que estou falando. Nada mais preocupante que a gente ver o ponteiro do combustível chegar à reserva, percorrer 10, 40, 70, 100 km ou mais e não encontrar um posto de gasolina.
A Fazer 250, mais uma vez, mostrou ser uma moto forte e de boa estabilidade. Manteve o consumo de 30 km/l a uma velocidade entre 100 e 110 km e não apresentou qualquer problema mecânico ou elétrico. Realizei apenas a substituição de um pneu e fiz uma troca de óleo quando cheguei a Belém.
Carros na estrada
Deparei com quatro situações que precisei sair da pista para o acostamento. Trata-se daquele momento em que você olha pra frente e percebe que vem um veículo fazendo uma ultrapassagem e não vai conseguir conclui-la até chegar a você. Nesse caso, não tenha dúvida, vá para o acostamento, é a atitude mais sensata.
Acontece muito também um carro que tem motor para nos ultrapassar com facilidade, mas o motorista é indeciso, ficar atrás da gente um tempão. Quando isso acontece, o que faço é dar seta, me posicionar na linha do pneu direito dos carros e em último caso fazer sinal com a mão para que o carro ultrapasse. Muitas vezes o motorista se sente inseguro em ultrapassar, então vendo que você está atento a ele e o está incentivando a passar, ele se sentirá confiante e seguirá em frente. Você também se sentirá mais seguro após perceber que não há mais um carro a 100 km hora colado na sua retaguarda.
Imprudência
Quem nunca cometeu uma imprudência na estrada, numa curva ou numa ultrapassagem?
Por mais prudentes e responsáveis que sejamos, todo mundo uma vez ou outra comete esse deslize. Às vezes pensamos que vai dar pra fazermos a ultrapassagem numa boa e acabamos forçando muito, ficando aflitos e com a certeza que fomos imprudentes. Quando isso acontece, falo pra mim mesmo: “calma Robson, não precisa isso, tenho que ter mais cuidado, tem alguém me esperando”.
Você vai ver como isso surte bom resultado. Parece bobeira, mas é real, a gente comete imprudências sim.
Imprevistos na estrada
Muitos imprevistos podem surgir, tais como um pneu furado às 16h30 ou mais tarde e você pensar que a última cidade que passou já está a mais de 25 km, aí olha no seu itinerário e vê que a próxima está a 40 km, logo o dia vai acabar e a noite vai te envolver.
Daí a necessidade de levar comigo coisas que parecem sem razão, como barraca, fogareiro, panelinha, sal, 2 litros de água, miojo, etc. São coisas que só percebemos a importância quando estamos na pior.
O mesmo podemos dizer sobre o kit remendo, faca, isqueiro, lanterna, papel higiênico e outros itens.
Detalhes da viagem
Período: 12 dias – 09 a 20 de janeiro
Moto: Yamaha Fazer 250
Velocidade de cruzeiro: 110 km/h
Percurso:
1° dia: Nata (RN) a Fortaleza (CE) – 550 km
2° dia: Fortaleza (CE) a Peritoró (MA) – 790 km
3° dia: Peritiró (MA) a Belém (PA) – 733 km
4° ao 9° dias permaneci em Belém
10° ao 12° dias fiz o retorno que foi o mesmo itinerário da ida
Distância: 2.073 km ida, 2.100 km volta, 430 km de passeios no destino. Total: 4.603 km
Estados percorridos: Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Maranhão e Pará;
Despesas:
Combustível (186 litros, variando entre R$ 3,55 e R$ 4,05 o litro): R$ 740,00;
Pousadas (dois dias): R$ 75,00;
Alimentação na estrada (6 dias): R$ 179,00
Troca pneu dianteiro: R$ 222,00
Troca de óleo e filtro: R$ 44,00
Gasto no destino (6 dias): R$ 550,00
Total gasto na viagem: R$ 1.761,00
Pontos positivos da viagem:
- Feliz por ter planejado e realizado mais uma viagem de moto, sem qualquer problema;
- Reencontrei companheiros do CFN que não via há 33 anos;
- Andar pelos corredores do ver o peso e comer as comidas e frutas típicas;
- Rever parentes;
- Muitas fotos e vídeos;
- Estar de volta à minha cidade e minha morada em Natal (RN);
- A Tremenda Guerreira foi perfeita;
- Acreditar em Deus é a melhor coisa que posso ter a meu favor.
Pontos negativos:
Não houve
Viajar de moto, para quem gosta, é o máximo.
“ADSUMUS”
Deixe um comentário