Travessia da BR-319 em julho com uma CB 500X

A BR 319, também chamada de Rodovia Fantasma, tem 887 km de extensão, sendo 400 km de terra e liga as cidades de Porto Velho e Manaus. Fazer uma viagem de moto por essa estrada era um sonho que foi realizado neste ano.

Planejei a viagem estudando a rota e sua complexidade e, mesmo sabendo das grandes dificuldades que encontraria, coloquei como prioridade realizar este sonho. Fiz um convite na internet (Mochileiros) e apareceram vários companheiros, mas apenas um tinha tempo disponível para completar o roteiro. O mais interessante é que, entre as cinco pessoas que apareceram, o único que tinha tempo disponível mora há 10 km da minha casa.

Conversamos várias vezes e acertamos todos os detalhes da viagem até a saída. Mas no primeiro dia meu colega começou a dar sinais de problemas, mostrando que não tinha condições para a tal viagem. Motivo: o excesso de bebida. Percebi nos primeiros dias que ele ficava agressivo com a falta da bebida, mas mesmo assim completamos a viagem. Este alerta é para os colegas viajantes, que tomem muito cuidado ao aceitar pessoas desconhecidas como companheiros nas suas viagens.

Então seguem mais detalhes da viagem.

Minha moto é uma CB 500X, ano 2015, com 12.000 km rodados. Levei tudo o que se leva numa grande viagem, pois já tenho larga experiência (veja o relato dessa viagem que fiz Ao redor da América do Sul com uma Ténéré 250).

Ainda acrescentei dois pneus garrudos: Na frente coloquei o pneu traseiro da Bros e na traseira um pneu 150/70/17 usado e importado, mas ainda muito bom, que comprei em São Paulo e levei ambos presos à traseira da moto, como se vê nas fotos. Fiz a troca quando cheguei a Humaitá (AM). Depois troquei novamente quando cheguei a Manaus, porque dali em diante não seriam mais úteis, voltando com os pneus originais.

Eu rodava entre 600 e 700 km por dia

No primeiro dia dormi em Mauá da Serra, norte do Paraná; no segundo em Sonora, divisa entre Mato Grosso do Sul e Mato Grosso; no terceiro dia cheguei a Cárcere, no Mato Grosso; no quarto fui dormir em Vilhena, Rondônia, onde ocorreu um caso interessante: eu estava atravessando a cidade por uma grande avenida quando encostou uma BMW 1200 e o sujeito perguntou para onde eu estava indo. Respondi Manaus e ele perguntou onde iria dormir. Respondi que não sabia e ele disse: – “na minha casa”.

Ele estava me caçando na rodovia a mando do Geleia, um colega que eu ia encontrar em Porto Velho. Aproveito para agradecer esse caçador de motoqueiros, o Itamar de Vilhena.

Naquela noite o Itamar me transmitiu o recado que um pessoal de Jari (RO) estava me esperando pra noite seguinte com um churrasco de cabeça de porco frita. Isto no quinto dia. Ficamos até altas horas em altos papos. Imaginem os assuntos.

Quero também agradecer ao pessoal do moto grupo Cachorros Banguelos de Jarú que estava lá e em especial ao Nereu, um cara espetacular, nascido em Alfredo Wagner, aqui em Santa Catarina, que mora lá há muitos anos. Nereu, te aguardo aqui em breve.

No sexto dia cheguei a Porto Velho, onde fui recebido pelo Geleia e sua esposa Natália. Pernoitei na casa deles e no dia seguinte fomos para Humaitá, primeira cidade do Amazonas. Tudo asfalto.

O Geleia estaria fazendo a BR-319 pela nona vez e eu tive o prazer de acompanha-lo. Como eu disse antes, troquei os pneus e no sétimo dia seguimos para Realidade, cerca de 100 km de distância. Mais terra que asfalto. Dormimos em barracas atrás do posto de gasolina.

Realidade é uma pequena vila às margens da BR-319 onde existem pequenas pousadas, restaurantes e um posto de gasolina. Dali em diante só em Igapó-Açu, 330 km depois, mas onde não tem posto de gasolina, os moradores que vendem para quem estiver no aperto com combustível.

No oitavo dia passamos pelo Cabeludo, um índio dono de um bar, com esposa e três filhos, todos muito simpáticos, que dão algum apoio para os viajantes. Também passamos pelos Catarinos, pessoal de Indaial (SC) que estão lá há muitos anos na beira da rodovia e que dão algum apoio aos motoqueiros que por lá passam.

Fomos dormir no Gaúcho na oitava noite, um outro apoio, onde tem restaurante e um hotel com muitas estrelas, que você vê pelas frestas das tábuas das paredes, mas que quebra um galho danado.

No nono dia de viagem chegamos a Igapó-Açu, onde dormimos. Um pequeno povoado, num lugar muito gostoso e bonito. Lá tem dois hotéis com várias estrelas e até um quarto com ar condicionado e restaurante, onde se come bem. Tudo muito simples, mas que dá vontade de ficar lá pra sempre (para quem gosta de natureza é claro).

No décimo dia pegamos a balsa e fomos para o Careiro Castanho, pouco mais de 140 km do Igapó, por uma estrada de terra de boa qualidade. Abastecemos e seguimos em asfalto meia boca até o Careiro da Várzea (o nome é Careiro mesmo e não Carreiro), onde pegamos outra balsa. Mais uma hora e chegamos a Manaus, onde fomos recebidos pelo Gengis, presidente do Moto grupo Almas Livres que nos levou para dormir na sede deles. Foi uma recepção com direito a filmagens para youtube (youtu.be/o8sceetllue).

Ficamos só dois dias em Manaus porque eu já conhecia a cidade. Depois fui para Santarém de barco, eu e a moto. O Geleia e esposa foram para a Venezuela.

Ao Gengis, agradecimento é pouco, espero um dia retribuir.

Viajei quatro dias de barco e cheguei a Alter do Chão, em Santarém, onde existem praias de rio muito bonitas.

Dois dias depois peguei outro barco para Belém com mais três dias de viagem. Dali em direção ao Sul eu já conhecia todo o trajeto. Fiquei mais tempo em Palmas no Tocantins porque queria visitar o museu de Luís Carlos Prestes.

No mais segui rodando entre 600 e 700 km/dia passando por Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná, até chegar a Florianópolis.

Faço aqui outro agradecimento especial ao hoje meu amigo Geleia e sua esposa Natália, companheiros de BR-319, rodovia que atravessamos em quatros dias, sem chuvas, mas com muito buracos, muita poeira e também muita poaca (buracos na estrada cheio de pó parecido com talco que pode ser raso ou profundo a ponto derrubar motoqueiro).

Quem estiver pensando em fazer esta empreitada, não tenha medo, vá entre julho e outubro, coloque um pneu mais garrudo e pé na estrada. Não importa o tamanho da moto, eu fiz com uma CB 500X, mas meu amigo Nereu de Jaru, em Rondônia, já fez com uma POP 100 em época de chuva. Ele contando dá vontade de chorar. Procure não ir sozinho, mas também não leve pessoas sem condições.

Qualquer dúvida, poste nos comentários.


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