Se toda viagem de moto é uma aventura diferente, mesmo quando se volta a um lugar já visitado, viajar para um roteiro totalmente novo é uma aventura em dose dupla. O litoral do Nordeste brasileiro já é conhecido por suas belezas, por suas praias quase inexploradas e por sua gente hospitaleira.
Tive a sorte de conhecer parte desse litoral em viagens ainda com minha pequena Fan125 e depois com a Ténéré 250, passando por Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e o litoral do Ceará.
A vontade de conhecer o litoral de Alagoas era antiga, mas faltava o tempo para degustar pelo menos uma parte daquelas praias paradisíacas. A oportunidade surgiu com uma semana de folga dos empregos. Não poderia deixar passar. Revisei a moto, preparei a mochila e a barraca e fui!
Uma jornada ( quase ) inesperada!
Normalmente viajo sozinho e em uma outra postagem posso explicar esse gosto, mas nessa aventura resolvi levar junto um amigo dos tempos de colégio que estava a fim de acompanhar de perto a aventura. Renan nunca tinha andado mais que uns poucos quilômetros na garupa de uma moto, mas topou ir junto.
O primeiro imprevisto foi ter que ir buscar Renan em Quixadá, mais de 150km de Iguatu. Um pequeno ensaio para a viagem.
A partida para Alagoas foi, como meu costume em viagens longas, no fim da madrugada. Ao todo, de Iguatu a Maceió, são cerca de 800km. Uma jornada e tanto! O mais interessante nesse grande trecho da viagem é perceber a transformação na paisagem do sertão para o agreste, com a mudança de clima ao chegar em cidades como Arcoverde e Garanhuns. A zona da mata, desde os tempos coloniais produtora de cana de açúcar, também tem uma paisagem muito única, com os canaviais que se estendem por quilômetros a fio nas margens da rodovia. O clima se torna mais ameno, o que é mais um incentivo para pilotar.
Maceió: uma cidade encantadora
Chegar a Maceió, capital de Alagoas, depois de um dia inteiro cruzando o nordeste, teve um gostinho de vitória. Uma rápida busca no google nos indicou o camping Santa Rita, na praia de Cruz das Almas. O lugar é ótimo e aconchegante, com amplo espaço para barracas, trailers e MotorHome. O primeiro dia foi para conhecer as praias do entorno, boas para a prática de esportes. A orla, bem iluminada e urbanizada, é ideal para caminhadas e conta com vários pontos para um açaí ou uma água de coco.
Rumo Sul: A bela AL-101
Depois de um dia curtindo as praias da capital chegou a hora de pegar o rumo sul, na direção do Velho Chico. Para quem se interessa por mototurismo o nordesde brasileiro é um sonho: a BR-101 é um sonho para o motociclista, com pista duplicada, boa estrutura e próximo a várias praias. Além da BR-101, que corta a região oeste do estado, Alagoas conta ainda com a AL-101, que também corta o estado, mas bem perto das praias. Cada placa é um convite para conhecer as pequenas vilas e as praias encantadoras. O cenário se divide entre grandes canaviais, coqueirais e a natureza do que restou de mata-atlântica, com muitos rios. Para quem gosta de mais aventura, há muitos locais para acampar perto da pista, com vilas e lugares mais reservados.
Pontal do Coruripe, um pequeno paraíso em Alagoas
Rodando pela Al-101 cada placa é um convite para conhecer as pequenas vilas e praias e volta e meia chega-se a um ponto mais elevado onde é possível ver o mar esverdeado de Alagoas. Seguindo no rumo sul, a primeira parada é no Mirante do Gunga, um lugar de vista impressionante e com estrutura para um bom almoço. Além disso, o que não falta nas proximidades é opção de lazer e aventura.
Depois de um tempo curtindo a paisagem, a viagem seguiu pela rodovia até que uma placa chamou a atenção. Pontal do Coruripe é uma pequena vila que ainda guarda o ar de vila de pescadores, com a população ainda vivendo da pesca. O ponto central da vila é uma praça com o monumento de uma Caravela.
Foi o local de armar a barraca. A população, humilde e hospitaleira, não demorou a perguntar se precisávamos de ajuda. Depois de preparar a barraca foi a hora de curtir a praia. Pontal do Coruripe é de uma beleza incrível. Uma barreira de arrecifes na entrada da enseada garante um mar tranquilo na parte interna, o que fez do local, por muito tempo, ponto de refúgio inclusive de piratas nos primeiros séculos de colonização.
No local um dos restaurantes mais interessantes é o Bar das Ondas, que oferece, além de boas refeições, uma vista de fazer sonhar, com uma janela que mais parece um quadro.
Piaçabuçu: o encontro do Velho Chico com o mar
O Pontal do Cururipe é um desses lugares de querer ficar, mas a vontade de conhecer mais praias foi maior e depois de dois dias pelas areias de Coruripe foi a vez de seguir para Piaçabuçu, o destino final do passeio, para conhecer a foz do Velho Chico.
A rodovia AL-101, apesar de pista simples, segue em bom estado até o seu final, em Piaçabuçu. Muitas são as praias que ainda convidam ao mergulho e que certamente vale a pena conhecer mais de perto.
Depois de mais alguns quilômetros cercado pela mata atlântica chegamos a Piaçabuçu, uma cidade colonial nas margens do Rio São Francisco, que ainda guarda muito do seu patrimônio. Do outro lado do rio já é o estado de Sergipe.
As atrações na cidade começam com o passeio de barco para ver o encontro do rio com o mar, um verdaeiro espetáculo. Além disso, um tour pela cidade vale a pena, para ver alguns casarões e as conversas de calçada. Para quem quer acampar, um bom local é a própria praça da Matriz, bem estruturada e amena para colocar a barraca. A população é bastante hospitaleira e gentil.
Uma primeira atração da cidade é o banho nas águas doces do Velho Chico. A paisagem é de encher os olhos e o passeio de barco é de lei. À noite a cidade ainda respira os ares de cidade pequena, com bares na orla e nas praças, mas nada muito barulhento.
Conhecer Alagoas é certamente um plano que vale cada quilômetro percorrido. As praias, as paisagens e as pessoas são um convite a ir e a voltar ao estado.
Penedo, a parada na história antes de voltar para casa
Antes de pegar de vez a estrada foi preciso fazer uma parada em Penedo, cidade histórica, que recebeu importante comitiva do imperador Dom Pedro II no século XIX. A cidade ainda guarda muito da história e oferece uma opção para quem quer atravessar a divisa para Sergipe: balsas que levam também carros e motos. Como o destino era voltar para Iguatu, foi preciso deixar essa aventura para outra viagem.
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