Me chamo Joel Domingos, minha magrela é a Suzuki Intruder 125 e foi nela que eu e minha esposa Janiéle Melo viajamos 2.260km para conhecer as belezas naturais da Chapada Diamantina, na Bahia.
Decidi escrever este relato como uma forma de retribuição e agradecimento por toda energia passada por meio dos relatos que li (e leio) aqui no Viagem de Moto e que serviram como combustível para minha decisão de viajar. Que meu relato chegue até você amigo, que tem receio de realizar viagens longas com uma magrelinha de baixa cilindrada.
Dia 1: Marechal Deodoro (AL) a Salvador (BA) – 630km
Saímos de Marechal Deodoro, cidade vizinha da capital alagoana (Maceió), no dia 16 às 4h50 da manhã com destino a Salvador (BA). Na estrada aconteceu algo curioso logo no começo da aventura: passamos por um trecho de estrada que estava sendo recapeado e balancei bonito na moto, mas consegui me equilibrar. De imediato veio o pensamento: – “Será que é um aviso?” Logo depois me recuperei do susto e o pensamento se foi.
Nas primeiras horas de viagem conhecemos uma companheira de estrada que nos acompanharia por basicamente todo o tempo que estivemos sentados na moto: a dor na bunda. Isso dói de verdade, mas incrivelmente você se recupera rapidamente com uma parada seguida de um bom alongamento. Fazíamos paradas de 10 minutos a cada hora de viagem para nos livrar dessa inconveniente acompanhante.
Transcorreu tudo muito bem durante a viagem. Respeitei todo o tempo os limites da moto, que basicamente eram manter os 90 km/h e ficar atento ao retrovisor.
Chegamos ao hotel em Lauro de Freitas no fim da tarde, cansados, mas felizes por termos concluído nosso primeiro dia sem nenhum estresse. Nesse momento pensei: – “Estamos ‘tão perto’ de Salvador, seria uma ótima oportunidade para minha esposa conhecer o Pelourinho, Elevador Lacerda e, quem sabe, comer um acarajé?”
Sendo assim, tomamos um banho, trocamos de roupa e montamos na moto rumo a Salvador. No caminho, pegamos um trânsito gigante com carros competindo com as motos que seguiam pelos corredores, buzinas e gritos. Conversando com o pessoal, descobrimos que a situação estava pior que o normal por conta de obras na estrada. Enfim chegamos, tão cansados e eu tão arrependido, pois era muito mais longe do que imaginava, mas ver o sorriso no rosto da Jani foi o que segurou a barra até retornar para a moto.
Depois de visitar os lugares, subimos na moto, girei a chave e acionei a botão de partida, mas o motor de arranque não girou. Percebi que era a bateria descarregada. Respirei fundo e coloquei-a pra pegar no tranco. Peguei o celular para traçar a rota de volta para o hotel e tive que respirar fundo novamente, o celular estava descarregado também. Voltamos à moda antiga, pedindo informação para as pessoas que encontrávamos nos postos de gasolina. O legal de tudo é que cada pessoa passava um trajeto diferente. Sem dúvidas, foi o momento mais tenso de toda viagem.
Voltamos por uma BR e a cada parada que dava para pedir informação a moto estancava, então tinha que fazer a bichinha pegar no tranco novamente
Chegamos ao hotel próximo das 21h, cansados e agradecidos por voltar sãos e salvos. Ainda chegamos a tempo da janta, que por sinal foi muito boa. Assim foi nosso primeiro dia.
Dia 2: Salvador (BA) a Lençóis (BA) – 435km
Acordei cedo na esperança de não atrasar tanto nosso segundo dia. Procurei na internet alguma oficina perto do hotel, mas não adiantou muita coisa, já que a única oficina que encontrei só abriria às 9h. Assim, o café da manhã pôde ser um pouco mais tarde que o previsto. Coloquei a moto pra pegar no tranco e fui para a oficina. Após um diagnóstico rápido, o mecânico concluiu que seria necessário substituir a bateria. Depois da bateria trocada, fui buscar a Jani no hotel e pegamos a estrada às 10h30.
Sem dúvidas, vimos as estradas mais lindas da viagem nesse dia. Pagamos pedágio em um trecho. Vale lembrar também o grande número de caminhões na estrada, que nos acompanharam até a entrada de Lençóis. Falando em Lençóis, foi lá outro momento marcante desse dia: a estrada que dá acesso à cidade (BA-144) estava sendo recapeada e, como chegamos no fim da tarde, a visibilidade era zero. Muita poeira, estrada sem nenhuma sinalização e assim foram os 10km mais longos da viagem. No fim deu tudo certo. Estávamos exaustos, mas felizes por termos chegado ao nosso destino.
Dia 3: Lençóis (BA) – turismo na Chapada Diamantina
Tomamos o café da manhã e nos preparamos para a trilha do serrano, uma das atrações da cidade de Lençóis. Seguimos de moto até o início da trilha e fomos presenteados com uma linda vista das quedas d’água e piscinas naturais formadas sobre as pedras. O acesso às trilhas é gratuito, mas existe a opção de guia, que pelo que lembro, cobrou R$ 50 por pessoa. Com várias motivações acabamos fazendo a trilha por conta própria, sem contratar um guia. Encontramos no início da caminhada um casal de senhores que já estavam voltando da trilha e falaram que era tranquilo.
No fim da tarde visitamos o Morro do pai Inácio. As imagens falam por si.
Dia 4: Lençóis (BA) – turismo na Chapada Diamantina
Morro do Pai Inácio foi escolha minha como ponto turístico a visitar. Poço Azul foi de Jani. Sendo assim, partimos cedo rumo à cidade de Nova Redenção. As estradas estavam relativamente ruins, mas nada que complicasse a viagem. O que complicou mesmo foi que, chegando ao poço azul, percebi que a mala de ferramentas não estava na moto. Tinha caído na estrada que dá acesso à atração. Eram 5 km de estrada de terra, um off-road que acabou tirando a malinha das amarrações. Refiz o caminho duas vezes para ver se encontrava a mala, mas nada.
Sobre o Lago Azul? As fotos, vejam as fotos.
Curiosidade: enquanto eu estava procurando a mala, Jani ficou no local de espera para entrada do Poço, o pessoal acabou se sensibilizando com a nossa situação e nos deixaram praticamente sem tempo limite para apreciar o local. Indescritível! Como se não bastasse, chegou um grupo de fotógrafos que fizeram várias fotos com a gente. Coisa profissional é outro nível.
Dias 5 e 6: Lençóis (BA) a Marechal Deodoro (AL) – 868km
Nosso retorno foi mais tranquilo. Ficamos mais focados em fazer quilometragem e com paradas para esticar as pernas a cada hora e, consequentemente, tiramos poucas fotos.
No primeiro dia de retorno saímos de Lençóis cedo. A viagem foi tranquila, mas nossos corpos, ainda cansados das trilhas e viagens, pediam descanso. Paramos na cidade de Estância, em território sergipano, para pernoitar.
Descansados, no dia seguinte concluímos nosso retorno. Para o ultimo dia ficou reservado o pneu traseiro murcho na divisa de Alagoas com Sergipe, na cidade de Porto Real do Colégio. Percebi na hora do abastecimento que estava baixo e procurei um borracheiro, que foi muito rápido em resolver o problema. Um pequeno furo na câmara do pneu foi o motivo.
Chegamos em casa com um sorriso tão grande e uma satisfação que preenchia nossos corações, sabendo que tínhamos acabado de realizar uma grande aventura.
Se você leu até aqui, vou te contar algumas curiosidades: Jani tinha preparado tudo em casa de forma que caso a gente não voltasse, não encontrassem nada fora do lugar. Descobri depois que chegamos. Engraçado isso, mas ela ficou ao meu lado durante todo o tempo e, nos momentos em que estive mais nervoso, via sempre um incrível sorriso no rosto dela, animada com tudo aquilo.
Confesso que no retorno para o hotel no primeiro dia, depois de visitar Salvador, estava com problemas na moto, perdidos e debaixo de chuva, a única coisa que tinha na cabeça era deixa-la em segurança. Ficava falando para eu mesmo que ela não tinha culpa de ter um doido como marido.
Não deixe de fazer algo que gosta por acreditar nas limitações que as pessoas falam que existem em você e no caminho. Conheça lugares, viva a vida, que é curta demais.
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