Cânion do Xingó e Chapada Diamantina

Olá. Me chamo Wellington e sou de Brasília. Uso moto no deslocamento para o trabalho todos os dias, enfrentando o trânsito caótico que é comum as grandes cidades brasileiras nos dias de hoje. Participo também de encontros e aniversários de grupos aqui da região e fiz algumas viagens de moto em grupo.

Há muito tempo queria realizar o desejo de viajar de moto pelo Brasil, sem me preocupar com horários, distância a percorrer por dia, pressa de chegar, etc. essas coisas que acontecem quando está na estrada com um grupo de motociclistas.

Em junho de 2013, ao chegar de uma viagem desse tipo, decidi que a próxima seria do meu jeito. Comecei a pesquisar lugares onde eu poderia ir ou mesmo que já tivesse passado, mas por causa da pressa não tive a oportunidade de conhecer melhor e desfrutar das suas belezas.

Após ver uma reportagem na TV sobre o Cânion do Xingó, formado com o represamento do Rio São Francisco para a construção da Usina Hidrelétrica de Xingó, no estado de Sergipe, decidi que esse seria o destino da minha próxima viagem de moto em Julho de 2014, mês que eu costumo tirar uns dias para descanso. Decidi também que conheceria mais detalhadamente a cidade de Lençóis, no estado da Bahia, lugar que já tinha ouvido falar e passei perto, mas nunca tinha tido a oportunidade de parar para conhecer.

Decidido os destinos, abri uma poupança e passei a depositar uma quantia todo mês para que, quando chegasse o momento, a parte financeira já estaria resolvida. Sabendo que não poderia aventurar por qualquer estrada devido às limitações da minha moto (Honda Shadow 750), fiz diversas pesquisas na internet a respeito das condições das estradas e do tráfego de caminhões e defini o roteiro que seguiria nessa viagem de moto.

Abaixo faço um relato de como foram meus dias na estrada e nos locais que tinha decidido conhecer e não somente passar por eles.

1º dia (5/7 – sábado)

Chegou o dia tão esperado. Por sorte, o Brasil tinha jogo no dia 4, então fui dispensado do serviço às 12 horas e pude deixar tudo pronto na sexta-feira. Alforjes instalados, pneus calibrados, tanque cheio etc.

Acordei às 4 horas da manhã, doido para pegar a estrada, tomei um café, fiz uma última verificação na moto, nos alforjes e tudo ok. Despedi-me da esposa e filhos, fiz um agradecimento a meu Deus, por mais essa oportunidade que ele estava me dando e às 5 horas fui para a estrada.

Aos poucos fui passando por Formosa, Alvorada do Norte, Posse e às 8 horas eu tinha percorrido 375 km e cheguei ao Posto Rosário, tradicional posto de parada na divisa do estado de Goiás com a Bahia.

O próximo destino foi Correntina, na Bahia. Foram 200 km de pura reta, asfalto de boa qualidade, sem buracos, sem remendos, mas com vários defeitos de construção como depressões, desníveis, sem acostamento, fatos que desestabilizavam a moto em velocidades maiores, mas foi possível andar a 110 km/h.

Dali segui para Santa Maria da Vitória (50 km) e depois Ibotirama (170 km pela BA-172 e 45 pela BR-242), passando por trechos com ótima qualidade do asfalto que eu conhecia da viagem de 2013 e onde desenvolvi as maiores velocidades de toda a viagem, atingindo velocidade de até 160 km/h.

Arrependi-me depois, pois nem curti esse trecho da forma como eu queria. A partir de então, decidi que não mais andaria nessa velocidade e assim foi até o final, sempre rodando em média a 110 km/h.

Cheguei a Ibotirama às 16 horas e resolvi ficar por ali aquela noite. Me hospedei no Plaza Hotel, fiz uma refeição caprichada e descansei para o próximo dia.

2º dia (6/7 – domingo)

Às 5 horas da manhã eu estava ligando a moto. Tinha pela frente vários quilômetros para rodar e paisagens que eu queria desfrutar com total tranquilidade. Foram 192 km pela BR-242 até Seabra/BA, asfalto muito bom, mas trânsito pesado de caminhões. Logo a seguir, subi a serra da Chapada Diamantina com várias paradas para tirar fotos.

Segui até Itaberaba, BA (BR-242 – 189 km), asfalto e trânsito do mesmo jeito do trecho anterior. Agora chegou a hora de sair do trecho utilizado pelos viajantes, que é a BR116. Subi para Ipirá, BA, Riachão do Jacuípe, BA pela BA-233, depois BA-120 até Conceição do Coité, BA e BA-409 até Serrinha, BA, local que resolvi passar a noite. Vale um parêntese aqui (cuidado quando utilizar o Google Maps e mesmo GPS para traçar rotas, eles mostram estradas que foram projetadas, mas não foram construídas !!!).

Fiquei hospedado em um Hotel próximo à praça central da cidade, onde tem umas barraquinhas com várias opções de alimentação, escolhi um peixe vermelho frito com farofa, salada e depois uma boa noite de descanso.

3º dia (7/7 – domingo)

Dia de chegar ao primeiro destino da viagem, Canindé de São Francisco, SE. Sai às 6 horas pela BR116 completamente tomada por neblina e segui até Tucano, BA (80 KM), depois BA-410 até Ribeira do Pombal, BA (35 KM), BR110 até Cicero Dantas, BA (36 KM) e Jeremoabo/BA (70 KM). Trechos de asfalto muito bons, pouco trânsito, várias paradas para tirar fotos, paisagens deslumbrantes, nem parecia que estava rodando no interior nordestino de tanto verde que eu via. Clima perfeito para rodar de moto.

Último trecho dessa parte da viagem (96 KM). Continuei na BR-110 e depois entrei na SE-230 que me levou direto a Canindé.

Pronto. Depois de 1700 km rodados, 3 dias na estrada, muitas experiências maravilhosas, cheguei às 14 horas ao meu destino. Agora era desfrutar das belezas do lugar, que tanto curti pela internet.

3º, 4º e 5º dias – Canindé de São Francisco

Ainda na tarde do dia da minha chegada, aproveitei para conhecer a região e tirar muitas fotos. Fui até o local onde o catamarã saia e comprei o passaporte (R$ 70,00) para garantir meu passeio. Atravessei a divisa de Sergipe com Alagoas e visitei a cidade de Piranhas, AL, local onde ouve grande atuação de cangaço e onde fica a Gruta do Angico, local onde Lampião, Maria Bonita e outros membros de seu grupo foram mortos.

No dia seguinte fui ao local para pegar o catamarã e fazer o tão esperado passeio. Enquanto a nossa seleção brasileira mergulhava a nação inteira no maior vexame da história do futebol brasileiro, eu navegava e mergulhava nas águas tranquilas do Rio São Francisco. Algo que vai ficar marcado para sempre na minha mente e render muitas histórias para meu filhos e netos.

No terceiro dia em Canindé e 5º dia de viagem. Acordei cedo e logo percebi que seria um dia de muita angustia devido ao resultado do jogo do dia anterior. Resolvi que não permitiria que o fracasso de outros perturbasse os dias belíssimos que eu estava vivendo. Arrumei as tralhas, acomodei-as nos alforjes e fui com a moto para a estrada. O destino era Lençóis, BA. Grande parte da viagem seria por estradas que havia passado na ida e isso permitiu que eu pudesse desfrutar mais ainda das paisagens, pois já sabia das condições do asfalto.

Ao final do dia estava em Ipirá, BA, local que escolhi para passar a noite. Fiquei no Hotel Phyccus.

6º dia (10/7 – quinta-feira)

Como de costume, às 5 horas estava acordado e já arrumando tudo para pegar estrada. Tinha pela frente 220 km pela BR-242, rodovia de trânsito pesado de caminhões. Graças a Deus tudo correu da melhor forma possível. Às 14 horas cheguei ao meu destino deste dia.

Procurei hospedagem e depois de acomodado fui conhecer a cidade e ver as opções de passeios ou algo para me ocupar no dia seguinte. Contratei um passeio com a agência de turismo Chapada Adventure Daniel que incluía visitação a grutas, cachoeiras, lagos, transporte e refeição, finalizando o dia no alto do morro do Pai Inácio para curtir um pôr do sol maravilhoso. Todo o pacote ficou por R$ 180,00.

7º dia (11/7 – sexta-feira)

Dia de moto na garagem. Às 8h o carro me pegou na porta do hotel, me levando para conhecer a Cachoeira do Diabo, Gruta da Lapa Doce, Gruta Azul e Gruta da Pratinha e o Morro do Pai Inácio

8º e 9º dias (12 e 13/7 – sábado/domingo)

Com uma saudade imensa da esposa e filhos, decidi que estava satisfeito e na hora de pegar a estrada de volta para casa.

Foram mais 2 dias de estrada. No primeiro fui de Lençóis, BA até Correntina, BA, onde pernoitei e vi mais um desastre da nossa seleção. A vontade de chegar em casa era tanta que às 4 horas da manhã já estava na estrada novamente, o que permitiu que às 11 horas chegasse ao meu destino.

Viajar com grupos de motociclistas é bom demais. Mas devemos nos permitir também experiências individuais. Onde possamos alcançar um estado de espirito magnífico e ter a liberdade de fazer as nossas escolhas.

Agradeço mais uma vez aos meus familiares e, principalmente, a um poder superior, que na minha concepção é um Deus amantíssimo, por mais essa oportunidade e que se for da vontade dele, que em 2015 possa desfrutar de uma outra aventura, acompanhado de vários companheiros ou mesmo sozinho.

A minha parte já estou fazendo. Abri a poupança e depositei os primeiros reais.


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