Ter uma Harley Davidson é mais que ter um veículo, que ter um bem material. Ter uma Harley é ter um espírito de liberdade correndo nas veias. E foi neste sentido, inspirado em clássicos do cinema como “Harley Davidson e Malboro Man e “Motoqueiros Selvagens” que em Outubro de 2011 resolvi viajar com minha XR 1200 X.
O que eu não sabia era até onde eu iria, ou melhor, minha HD me levaria.
Bem, sempre viajava com meu irmão, meus primos, e com alguns amigos aqui em Minas Gerais, mas a “sede” de estrada estava me chamando para horizontes mais distantes.
Neste sentido, comprei um guia 4 rodas e abri o mapa sobre a mesa. Diante de mim, Belo Horizonte. Comecei a olhar as cidades vizinhas: cidades históricas, fazendas, plantações, mineradoras, montanhas…
Ah, as montanhas. São belas paisagens, mas limitam a visão. Eu queria era ver o mar. E, pelo mapa, segui a estrada saindo de BH e descendo a BR 040 até o Rio de Janeiro.
Rio, Cidade maravilhosa. Mas este seria um passeio maior, para ampliar os horizontes. Resolvi, então que iria para Búzios, litoral norte do Rio.
Bota, jaqueta, capacete e asfalto: minhas testemunhas, do meu caso de amor com a minha esposa mecânica.
Sai de BH no dia 02 de Outubro, peguei a 040, em direção ao Rio. A BR-040, cheia de carretas carregadas de minério que não eram empecilho para a desenvoltura dos 90 HP da moto, que bailava no asfalto.
Após chegar na Cidade Maravilhosa, fiz questão de atravessar a ponte Rio-Niterói e seguir para Búzios, para a primeira estadia após 570 km rodados. Praia de Geribá, Rua das Pedras, uma lagosta, um vinho…ótimo momento para relaxar.
Após curtir o mar e a cidade o asfalto novamente me chamou. E aí veio a verdadeira recompensa, O MELHOR TRAJETO DA MINHA VIDA! Saí de Búzios e desci o litoral, passando por Niterói, Rio de Janeiro, Angra dos Reis, Parati, Trindade, Ubatuba e chegando a Maresias.
Olha, nada neste mundo explica a emoção de guiar sua moto com o mar à sua esquerda, mata atlântica à sua direita, o sol brilhando alto, e a liberdade correndo ao seu lado, junto ao vento. Ver os navios cortando os horizontes, aquele azul exuberante formado pelas águas do Oceano Atlântico. A Rodovia Rio-Santos me proporcionou 574 km de prazer. Aqui faço um adendo: diferente da BR-040, a estrada estava vazia e o asfalto conservado. Mesmo assim, a velocidade não era o mais importante, embora certas retas pedissem mais emoção.
Chegando em Maresias, outra grande surpresa: Só mulheres maravilhosas. E mulher bonita combina com HD. Teve de tudo: festa do Branco na Sirena, Serra Malte e casquinha de Siri.
Passados alguns dias (e a ressaca), novamente minha noiva me chamava para mais quilômetros a percorrer. Continuei pela BR-101, seguindo o litoral do Brasil. A previsão da próxima parada era Ilha do Mel. Pra chegar lá, seria necessário deixar a moto em Pontal do Paraná, ou Paranaguá, para pegar a balsa. Aqui foi o erro. Descendo pela BR, parei em um posto para abastecer, e fui analisar o mapa que havia comprado. Observei que se seguisse pela BR-101 até a BR-116, chegaria bem próximo a Curitiba. Vi no mapa uma estrada estadual: Estrada da Graciosa ou Caminho da Graciosa, como queiram. O nome da estrada me cativou. O céu estava claro, e eu perguntei ao frentista como era a estrada.
“Tranquila”, ele disse.
Segui por aquele caminho, mas ao chegar na tal estrada, começou a chover granizo. E a estrada é de paralelepípedo. Descidas íngremes, curvas acentuadas. Rodando a 20 km/h, moto engrenada, e mesmo assim ocorreu a fatalidade. Ao ver a placa de “pista escorregadia” eu já estava sem atrito com o solo. Felizmente, havia uma área de escape para a moto, antes do precipício, e eu estava precavido. A moto tombou, mas eu não caí. O veículo que vinha logo atrás também saiu da pista e, por pouco, não passa por cima de mim e de minha amada HD. O curioso é que logo após a queda a chuva cessou. Aqui vai um conselho aos irmãos do asfalto: se você não está com uma bigtrail, NÃO pegue a estrada da Graciosa. Passado o contratempo, segui estrada, deixei a moto em Pontal do Paraná e relaxei um pouco na Ilha.
Após o descanso, novamente retornei ao Pontal do Paraná, enchi o tanque e continuei, rumo a Camboriu. Aquele dia tinha amanhecido com tempo nublado. Mantive a rota pelo litoral, atravessando de Matinhos para Guaratuba em uma balsa. Após deixar o Estado do Paraná e entrar em Santa Catarina, o Sol me premiou novamente, iluminando o asfalto. A BR-101 estava perfeita. Um verdadeiro tapete que convidava ao desenvolvimento do motor. E a paisagem também era bem convidativa.
Após alojar-me em Camboriú, em um excelente hotel a um quarteirão da praia, o qual recomendo a todos, percorri o litoral catarinense.
Em Camboriu é bem comum motociclistas da região se reunírem nos finais de semana à tarde na orla. Havia muitas motos esportivas, mas HD eram poucas. E XR branca, só a minha, como se fosse uma noiva e estivéssemos em lua-de-mel. Percorri as praias de Estaleirinho, Porto Belo, Itapema, Bombinhas, ao sul, e Itajaí e penha, ao norte. Mergulho Autônomo, volei na praia, culinária deliciosa, sol. E o melhor de tudo: as catarinenses. Lindas mulheres loiras, de olhos claros, circulando para todos os lugares que se olhava. Eu estava no paraíso.
Após oito dias na região e com minha reserva cambial minguando, chegava o derradeiro momento de retornar a Minas. E nada melhor do que percorrer a 101-116-381 de uma vez. Eu, minha moto, o asfalto e Deus. Na volta de minha empreitada foram 1205 km muito bem percorridos. Nem as inúmeras paradas nos pedágios cortaram o prazer da viagem. E, a cada parada nos postos de abastecimentos, eu semeava o espírito de um harleyro nas pessoas com as quais pude compartilhar uma boa proza e narrar as aventuras da estrada.
Ao todo, a viagem me rendeu 3904 km, muitas fotos, e a sensação de liberdade que, embora você tenha lido aqui, só saberá se fez ou fizer uma viagem como esta.
Harley Davidson: mais que moto, um estilo de vida.
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