Foi com naturalidade que olhei para o Erik e sua moto se aproximando da placa de boas-vindas do estado do Alasca pela segunda vez. Mas foi com o coração inflado que olhei para a Myrian abraçando seu marido depois de quase 2 meses na estrada. Sem dúvida, é emocionante ver mulheres e motos superando fronteiras.
Viajar do Sul até o Norte das Américas é o sonho de 8 em cada 10 motociclistas. Estou entre os tais 8 e cheguei perto de realiza-lo.
Sai do trabalho, direto para as minhas férias. Peguei a Luísa (minha big trail 650cc) e aproveitei das facilidades dos corredores de São Paulo para ir a tempo para minha mais preciosa missão do dia: voar para Phoenix, no Arizona, sul dos Estados Unidos. Eu me juntaria à expedição que imaginava só existir em filmes.
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No dia 19 me deparei com aquelas duas motos big trails equipadas com grandes bolhas, top case, malas laterais, GPS’s e um tom cinza sujo que quem esteve na estrada tem prazer em ostentar.
Foi em um dia dourado, em que o sol torturava o termômetro até que este marcasse 43 graus, que conheci Caio e Myrian Ferraz, e reencontrei Erik De Maria. O casal bonito e romântico aparentava ter acabado de iniciar o namoro. Aliás, jamais diria que aquela mulher bonita e com um sorriso amigável no rosto estaria a 33 dias enfrentando algumas das piores estradas das Américas na garupa da BMW 1200 de seu marido. O que ela me disse? “Pôxa, que pena que você só podia vir de avião. Você deixou de ver tanta coisa linda!”.
A gente só se lembra das coisas bonitas. Como se não houvesse aquela chuva gelada, com vento forte, que faz toda a água entrar pela sua jaqueta e congelar todos seus poros. Ou não existisse um calor mórbido frequente, de quase 50 graus, te deixando em duvida se é melhor o abafamento do capacete fechado ou abri-lo para o vento quente vir do asfalto e te derreter de uma vez.
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Mas, a verdade é que eu ainda não sabia quanto sentido tinham aquelas palavras, minha maior viagem de moto até então tinha sido um bate e volta de São Paulo até a amada Ouro Preto/MG, pilotando minha fiel parceira Luisa.
Dessa vez, teve muito chão. De Phoenix ao Alasca, e depois a Chicago, foram:
- 30 dias
- uns 12.000 km
- cerca de 40 hambúrgueres
- 20 chocolates quentes
- 22 ursos (teve um que nos fez esperar até que atravessasse lentamente a rodovia
- 2 raposas
- 1 lobo
- 4 alces
- 8 veados
- algumas águias
- 2000 fotos (privilégio de garupas)
Vimos também o Monte Denali, maior pico da América do Norte, alguns glaciares, e inúmeras montanhas e lagos de beleza inesquecível. O tempo todo me lembrei das animações da Disney, com aquelas paisagens e cenas que temos certeza não existir.
Contudo, só animais selvagens rosnando para você, garupa, não é suficiente para ficar acordada naquelas retas infinitas dos Estados Unidos e Canadá. Eu me peguei em alguns flashes de sonhos, e nem mesmo o perigo de dormir na garupa me deixava acordada. Ainda não sei se é questão de costume, mas percebi que não me adaptaria mesmo. A cada parada percebia a oportunidade de ajudar a colocar a moto no cavalete central, de abastecê-la e ligá-la. Por que não pilotar? Alugar uma moto estava fora de cogitação (logística) e tirar o Erik da pilotagem é algo que jamais faria.
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Eu conheci o Erik há exatamente 4 anos. Era verão nos Estados Unidos e estávamos por um dia no mesmo hostel imundo em um subsolo de Nova York. Eu tinha ido fazer uma palestra e receber um prêmio da ONU em nome do projeto social idealizado por meu pai e que fiz a gestão (www.youtube.com/POEAO) e achei que este fato já era marcante demais na minha vida. Que nada. Enquanto eu preparava meu jantar (leia-se miojo) todos os hospedes em transe me chamavam e puxavam: tem um brasileiro aqui, ele foi até o Alasca de moto. Nem preciso dizer que ele foi a atração daquela noite no albergue, né?
Pois bem, era 2008 e o Erik tinha pilotado de São Paulo até Proudhoe Bay/Alasca (e depois até Nova York) em uma KTM 990 Adventure. Proudhoe Bay é o limite de onde você pode chegar por terra, fica depois do círculo polar ártico. Soube disso numa das inúmeras matérias sobre a Expedição que encontrei pelo google, logo após conhece-lo e me tornar uma fã.
Eis que em 2012, depois de 19 dias na garupa deste mesmo Erik, que pilotava há 52, pude vê-lo realizar o feito mais uma vez e se tornar uma pessoa estranha, ou seja, que encarou esta aventura por duas vezes. Rato de enduro e extremamente experiente nas estradas de inúmeros países, o Erik pilotou perfeitamente até lá e me fez bater o recorde mundial de apneia – eu parei de respirar quando percebi que meu namorado pilotava a 165Km/h no cascalho, comigo e toda nossa carga.
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Uma viagem de moto, seja lá qual for, é mesmo desafiadora, inesquecível e com certeza inspiradora. Estar em outro país com a moto que te acompanha no seu dia a dia é ainda mais indescritível.
É notória minha felicidade em ter integrado esta expedição histórica e em poder compartilhar um pouco com as pessoas que têm essa mesma paixão: a estrada, a vida. Foi uma experiência única poder filmar o abraço emocionado daqueles 3 motoviajantes e ouvir “obrigada Erik, você é fera” em um tom humilde que ficou difícil acreditar que vinha do Caio, único homem que sei que saiu de São Paulo exclusivamente para levar sua esposa de moto até ali, no Alasca.
Neste exato momento que os escrevo, percebi ainda o quanto o motociclismo tem se estruturado em nosso país, além de sites nacionais para compartilhar nossas aventuras, temos a primeira operadora a oferecer e realizar com sucesso tamanha aventura Overland, a Alive Moto Tours (www.alivemototours.com.br).
Que todos tenhamos oportunidade de viajar bastante com nossas motocicletas, em segurança, e que possamos sempre compartilhar com aqueles que não puderam estar juntos. Obrigada pela companhia!
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