Viagem solo de Recife a Buenos Aires em uma Fazer 250cc

Sai de casa em Paulista, cidade da Região Metropolitana de Recife (PE), com a minha magrela, uma Fazer 250cc, no dia primeiro de março. Era o primeiro dia das minhas férias que durariam 30 dias e eu pretendia viajar até a Argentina. O primeiro trajeto foi entre Paulista (PE) e Aracajú (SE). Foi uma viagem tranquila até pegar chuva na divisa entre Alagoas e Sergipe.

Quando cheguei a Aracajú, a luz laranja da injeção eletrônica acendeu. Logo pensei que era a bateria, que eu não tinha trocado antes de viajar. Comprei uma nova da melhor marca que encontrei (Heliar) para substituir a antiga que estava na moto, porém ainda rodando pela cidade com a bateria nova, a luz voltou a acender. Comecei a me preocupar em não conseguir seguir viagem.

No dia seguinte consegui identificar o verdadeiro problema: era o retificador, uma peça que tem preço elevado. Comprei um novo, porém similar (da marca Magnetron).

Relato de Viagem de Moto Brasil, Argentina e Uruguai

Sai de Aracajú no 3º dia na parte da tarde e cheguei a Feira de Santana à noite. O trajeto por uma estrada de boa qualidade foi tranquilo.

No 5º dia, sem dúvidas, seria o dia mais difícil de toda a viagem. O trajeto seria de Feira de Santana (BA) até Vitória, a capital do Espirito Santo. Seriam 1100 km para fazer em um único dia. Saí de Feira com muita adrenalina, punho no canto por várias horas, média de velocidade entre 130 e 140 km/h. Bati a maior velocidade da minha magrela, ano 2012, exatamente a 151 km/h.

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Quando passei os 600 km, a luz laranja da injeção acendeu novamente e comecei sentir cheiro de queimado. Pensei: – “meu Deus, o que será dessa vez?” Achei que era o motor, por ter ficado muito tempo acelerando a moto no máximo.

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Resolvi parar no próximo posto para almoçar e descansar o motor. Ainda faltava quase metade do caminho. Almocei e fui ligar a moto, sem sucesso. Ela não ligou. A bateria que eu tinha comprado no dia anterior queimou. O retificador estava jogando mais energia do que o necessário para a bateria. O cheiro de queimado não era no motor, era a bateria queimando. A minha salvação foi a primeira bateria, que eu achei que tinha queimado em Aracajú. Tinha guardado e levava comigo no baú. Usei-a e funcionou normalmente. Só assim consegui sair do meio do nada e seguir viagem.

Alguns quilômetros à frente começou uma chuva tão forte que alagou a pista. Caiam muitos raios ao meu redor. Resolvi parar e esperar diminuir.

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Depois que parou eu segui viagem, mas ela voltou forte mais à frente, assim como os raios ao meu redor. Foi tenso.

Depois de exatamente 20 horas em cima da moto eu cheguei a Vitória.

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No 7º dia eu saí de Vitória em direção ao Rio de janeiro, um trajeto de 520 km. Nesse dia eu viajei à noite porque o motor trabalhava melhor e não esquentava tanto, mas peguei chuva, o que também era bom para o motor, porém arriscado demais. Antes de sair eu refleti se valeria a pena. Além de ser muito perigoso, se acontecer algo com você ou sua moto você terá dificuldades absurdas. Mesmo sabendo dos riscos, resolvi seguir em frente.

No Rio de Janeiro, fui visitar o Cristo Redentor de moto. Quando voltava, deslizei no trilho de trem e caí. Estava muito devagar e a queda foi leve, sem machucar, mas a rabeta da moto e o pedal de apoio dos pés quebraram.

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Seguindo o planejado, no 11º dia eu fui para São Paulo. Um trajeto tranquilo por uma estrada muito boa, mas pedagiada. Comecei a viagem de manhã e cheguei ao destino à tarde. Em São Paulo tive outra surpresa, a luz laranja da injeção eletrônica voltou a acender. O retificador queimou a segunda bateria. Comprei outra da marca Cral.

No 13º dia segui para Curitiba (PR). Estava muito feliz por ter chegado aonde cheguei. Seguindo os planos, de Curitiba fui para Chapecó (SC). Viagem tranquila, porém com neblinas incríveis.

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De Chapecó eu queria ir para a cidade de Salto no Uruguai, seriam 900 km de pura emoção, mas quando cheguei ao município de Ijuí, no Rio grande do Sul, resolvi parar e descansar. Fiquei em hotel na beira da estrada por R$ 50 a diária. No dia seguinte, quando liguei a moto, a luz da injeção acendeu novamente. Eu já estava ficando louco com isso. O retificador estava queimando a terceira bateria. Dessa vez ele estava mandando menos energia do que o necessário para a bateria. Resolvi andar com a moto com o farol apagado, até porque, estava de dia. Para minha surpresa e talvez por azar do destino, uma blitz da Policia Rodoviária Federal me parou e levei uma multa por conta dos faróis apagados. Nem quis argumentar nada, eu só queria sair dali e seguir viagem, visto que minha moto estava com IPVA vencendo. Fiquei preocupado em acontecer algo que me impedisse de conseguir atingir o objetivo da viagem.

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Quando cruzei a fronteira com o Uruguai também fiquei preocupado com as estradas. As do Rio Grande do Sul estavam ruins, mas as daquele país também estavam horríveis. A partir dali eu fiquei sem internet e sem comunicação alguma. A gasolina no Uruguai é caríssima, convertendo sai a uns R$ 6 aproximadamente cada litro. Estava de noite e a estrada era bem perigosa. Segui com cuidado até Salto.

O dia seguinte era o mais esperado: eu cruzaria a fronteira com a Argentina.

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Quando cheguei à imigração tive complicações: quando entrei no Uruguai ninguém me disse o que era pra fazer e não fiz os trâmites. Eu não sabia como funcionava e acabei não legalizando a entrada naquele país. Não podia entrar na Argentina. Teria que voltar à fronteira do Brasil com o Uruguai e fazer a imigração ou podia pagar uma multa de mais de 1000 pesos Uruguaios e entrar na Argentina. Resolvi que era melhor pagar. Tive que ir ao shopping de Salto para fazer câmbio.

Voltei à aduana, paguei a multa e entrei na Argentina. Eu estava sem pesos Argentinos e minha moto estava com combustível na reserva. Parei no primeiro posto, mandei colocar uma quantidade que quase encheu o tanque e na hora de pagar, perguntei se aceitavam peso uruguaio ou real. Não aceitavam. Tentei passar no meu cartão internacional e também não passou. O frentista me mandou ir embora e não quis aceitar real. A gasolina na Argentina é mais barata e de melhor qualidade.

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Segui viagem pela RUTA 14, uma excelente rodovia com retas incríveis. Cheguei a Buenos Aires e curti a cidade até o dia 22, quando sai de volta para Salto no Uruguai.

Passei a fronteira e entrei no Uruguai, mas a cerca de 40 km do meu destino, a luz da injeção acendeu “de novo”. Resolvi parar para trocar a bateria e tentar chegar ao destino, mas a moto não funcionou mais. As três baterias estavam descarregadas. Foi tenso. Anoiteceu e eu me preparava para dormir debaixo de uma arvore às margens da rodovia uruguaia, sem muito que fazer. Pouco depois acabei encontrando um grupo com um argentino e alguns Uruguaios que tinham carregador de bateria. Colocamos pra carregar. Já era madrugada quando ela funcionou. Saí feito um foguete para Salto.

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No 23º dia eu saí em direção a Chapecó (SC), um trajeto de 900 km. Depois de rodar cerca de 400 km, ainda no estado do Rio grande do Sul, a moto parou no meio do nada. Dessa vez eu não tinha três baterias descarregadas, eu tinha “três baterias queimadas”. Empurrei a moto por vários quilômetros até que um abençoado passou de moto e me ajudou. Ele colocou a bateria da moto dele na minha (a moto dele funcionou sem bateria) e eu fui até a cidade de São Borja, onde comprei a quarta bateria. Dormi em um hotel na cidade e no outro dia fui para Chapecó.

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Quando saí já era na parte da tarde e quando a noite chegou, percebi que a luz do farol tinha queimado, mas eu consegui arrumar outra em um posto de combustível. Caía uma chuva muito forte. As pessoas que chegavam falavam que estava tendo uma tempestade na minha rota que tinha derrubado arvores. Destemido, resolvi seguir, mesmo sabendo disso. Peguei a tempestade e neblina fora do normal e acabei caindo no meio da pista. Estava com capa de chuva e ela fez com que eu fosse arrastado por vários metros depois da moto. No meio do nada, na escuridão total, é preciso manter a calma, por mais difícil que seja a situação e saber o que fazer, sendo bem ágil. Subi na moto e segui viagem. Cheguei de madrugada a Chapecó.

No 25º dia eu saí de Chapecó em direção a Curitiba. Sem dúvidas o trajeto mais frio. Peguei menos de 8 graus. No caminho, a moto acendeu a luz laranja de novo. Foi horrível. Estava de noite e eu fui obrigado a desligar o farol e viajar com ele apagado. Era fazer isso ou ficar na estrada, no meio do nada.

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No dia seguinte eu seguiria em direção a São Paulo, mas logo depois da partida a moto deu bronca na injeção de novo e fiquei nas ruas de Curitiba. Resolvi sair só no outro dia.

Tinha certeza que ficaria no caminho e não foi diferente. A moto parou novamente em uma rodovia pedagiada de São Paulo e fui guinchado até o posto mais próximo. Consegui dar meu jeito para que a bateria funcionasse e consegui chegar a São Paulo.

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Na cidade, comprei um retificador novo. Mas a moto não aguentava mais, estava sem forças para voltar e eu não podia mais perder tempo com imprevistos. Um amigo trouxe minha moto para Pernambuco dentro de seu caminhão e eu voltei de avião. Queria voltar de moto, mas além dos problemas que ela estava tendo, não dava para chegar a tempo de resolver alguns compromissos. Que seja feita a vontade de Deus, os planos Dele sempre são melhores que os meus.

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Obrigado a todos que leram até aqui e acompanharam a minha aventura.

Abaixo um vídeo com as imagens da minha viagem de moto pelo Brasil e sobre tudo até aqui relatado.

Boas estradas e bons ventos a todos.


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