Viagem de moto até Ushuaia

Decidimos ir até Ushuaia e planejamos, alguns meses antes… Não conseguia decidir se iria com minha Harley ou com uma Trail. Minha amiga Eliane (49) utilizou uma BMW GS650 e meu amigo Marcelo (54) uma BMW F 800GS. Tenho também uma XRE 300 da Honda, mas achava ela fraquinha pra viagem, então decidi ir de Harlão mesmo (é assim que chamo minha Harley).

1º dia – Curitiba/PR a São Borja/RS – 961 km

Saímos de Curitiba no dia 26 de dezembro 2012 às 6 horas da manhã. Fomos em direção ao Chile, pois queríamos conhecê-lo e Iríamos passar pela Argentina.

transcorreu tudo tranquilo na estrada. Chegamos em São Borja no RS com chuva e rodamos nesse dia 961 km.

2º dia – São Borja/RS a Paraná/AR – 723 km

Estrada tranquila em direção a Paraná/Argentina. Perto da fronteira de Paso de Los Libres, fui entrar num posto por uma estrada de chão, tinha lama e eu fui pro chão, fiquei com a perna presa embaixo da moto, mas não me machuquei. Foi até engraçado, meus amigos me tiraram de lá, a moto ficou muito suja de barro e também não machucou nada nela.

3º dia – Paraná/AR a Córdoba/AR – 360 km

Trajeto tranquilo, chegamos em Córdoba/Argentina cedo. A BMW 800 furou o pneu na cidade. O Marcelo tinha o número do telefone e endereço da loja da BMW na cidade. Ligamos, eles socorreram a moto e arrumaram o pneu a tempo da gente seguir viagem no dia seguinte.

Como não tínhamos feito reserva em nenhum hotel, perdemos muito tempo até achar um hotel. Na época de férias, as cidades ficam lotadas e, quando tem, é tudo muito caro.

4º dia – Córdoba/AR a San Luis/AR – 419 km

Por causa da espera para a moto ficar pronta, saímos tarde de Córdoba e tivemos que mudar nosso destino. Durante o trajeto, muito calor e um caminho muito bonito e cheio de curvas, coisa rara nessa viagem até agora.

5º dia – San Luis/AR a Mendoza/AR – 253 km

Saímos de San Luis por uma estrada interessante, muito boa e cheia de postes coloridos. A cada km mudava a cor dos postes. Eu curti e me distraiu também. Chegamos cedo em Mendoza.

6º dia – Mendoza/AR a Santiago/CL – 359 km

Saímos cedo e rodamos por uma estrada muito bonita, cheia de montanhas. Na fronteira, pra entrar no Chile, até me assustei quando vi como era a fronteira, parecia um acampamento. Muito vento, muita burocracia, vai ali agora vai lá, ah! Esqueceram de carimbar aqui, volta lá, um saco, mas tudo bem, fizemos tudo e passamos.

Parada para fotos na placa e seguimos em direção ao famoso Caracoles, eu achei lindo e desci com a Harley desligada. Foi show…

Viagem de moto pelos Caracoles

À noite era reveillon e fomos pra a Praça com a Torre da rede de telefonia do Chile, iria ter fogos saindo da Torre… o que víamos era um verdadeiro carnaval, todos com chapéus coloridos, cabelos de perucas coloridas, latas que espirravam espuma e serpentinas, musica e famílias inteiras, crianças e cachorros também. De vez em quando eles gritavam CHi Chi Chi LE LE LE. Viva o Chileee. Senti um patriotismo muito grande. A virada de ano deles é muito especial e pra mim também foi bem diferente do que já tinha passado na minha vida.

7º dia – Santiago/CL a Temuco/CL – 695 km

Em direção a Temuco, no Chile. Estrada muito boa, larga e vazia… Ao longe, víamos vulcões, acho que foram 4, vários, era muito bonito.

8º dia – Temuco/CL a Pucon/CL – 695 km

Estrada razoável, com pedágios ao preço de 200 pesos chilenos. Estávamos indo em direção a San Carlos de Bariloche e iríamos passar por Osorno, ver o vulcão e passar pela fronteira. Mas em um posto, soubemos por um senhor que a fronteira tinha sido queimada, e não estava passando ninguém por ela. Chegamos em Osorno e perguntamos aos policiais e eles confirmaram. Tivemos que voltar quase 160 km e pegar um outro caminho por Villa Rica. Isso não me deixou feliz porque, no mapa, aparecia um pedaço de ripio (estrada de saibro com pedras), mas não tinha outra saída, então fomos. Passamos por Villa Rica, uma cidade super charmosa com um lago que a galera faz de praia e seguimos em frente até Pucon, também uma cidade charmosa com o vulcão Villa Rica do lado.

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9º dia – Pucon/CL a Bariloche/AR – 368 km

Continuamos pelo asfalto, rodávamos por uma serra muito bonita e, de repente, demos de cara com o ripio. Como eu estava de Harley e nunca tinha andado por esse tipo de pavimento, estava com bastante medo. Mas fui (ou fomos). Foi bastante difícil para a Harley e pra mim. Vinham muitos carros no sentido contrario e no mesmo sentido e eles andavam muito rápidos, jogavam pedras e faziam muita poeira.

Foram 29,6 km de sofrimento pra mim. Quando chegamos na fronteira é que eu vi que o Vulcão estava bem ao meu lado. Passamos a fronteira e a melhor visão do dia foi o asfalto.

No asfalto, a estrada era muito bonita cheia de lagos e montanhas e desertos.

Viagem de moto pela Argentina - Ushuaia

10º dia – Bariloche/AR

Fomos de moto conhecer o Cerro Catedral. Lugar com um teleférico e sem neve. Subimos e lá de cima a visão de Bariloche é linda.

11º dia – Bariloche/AR a Caleta Oliva/AR – 968 km

Saímos cedo como sempre, e fomos em direção a El Bolson, estrada bonita e com lagos. O frio foi chegando e meus dedos começaram a endurecer. Depois de um tempo, paramos pra colocar mais blusas e tomar um gole de conhaque pra esquentar por dentro, rsrsrs.

Passamos por Esquel e começou um vento lateral que jogava a cabeça da direita pra esquerda. Paramos num posto onde fila pra abastecer era normal. A Eliane saiu do posto e começou a voar dinheiro do bolso dela, foi engraçado, voltamos e catamos a grana pelo chão.

O vento piorou, muitos guanacos na estrada, flamingos, cavalos e gaviões eram comuns de ver.

Ao longo da estrada, muitas bombas de retirar petróleo, coloridas (verdes) e pretas, parecia que eu estava em um filme tipo Mad Max.

Passamos por Comodoro Rivadavia, mas não achamos hotel e decidimos ir para Caleta Oliva. Já eram 8 horas da noite, mas o sol estava alto. Rodamos 80 km numa estrada horrível, asfalto ou cimento todo quebrado. O visual era lindo, de um mar verde turquesa, mas não dava pra apreciar porque o movimento de carros era grande.

Chegamos tarde, mas com sol ainda.

12º dia – Caleta Oliva/AR a Rio Gallegos/AR – 716 km

Estrada boa e vento forrrrrrrrrrrrteeeeeeeeee lateral, sempre vindo do pacifico. As BMW andavam de lado, a Harley andava um pouco, mas por ser mais pesada que as outras, meus amigos sofreram mais com o vento. A cabeça da gente levava chicotada do vento, era incrível. nesse lugar não vi pássaros, acho que eles não gostam do vento.

Haviam Guanacos pastando ao lado da estrada e, de repente, eu vi um próximo demais do asfalto. Bati marcha, diminuí e fiquei esperando. Lembro que falei “- Você vá, mas não volte que eu vou passar.” E ele foi e não voltou, rsrsrs. Passei. Foi até divertido.

A vegetação ao lado chamava a atenção, porque é preta, parece que foi tudo queimado, muito estranho…….

13º dia – Rio Gallegos/AR a El Calafate/AR – 316 km

O Marcelo trocou óleo da sua moto, por isto, saímos mais tarde.

Vento mais maneiro nesse dia. Paramos em um posto e encontramos duas caminhonetes e uma moto de Curitiba, e uma expedição da Eslováquia, com uma moto Java antiga e dois carros amarelos (podres) e uma trupe grande junto, filmando e fotografando. Estavam fazendo um documentário da viagem, que tinha iniciado no mês de outubro. Estavam há quatro meses na estrada. Se encantaram com a minha moto porque ela tinha no assento um pelego cor de rosa e uma aranha de pelúcia em cima do farol da frente. Ele perguntou sobre tudo e falava em tcheco com os caras. Continuamos nossa jornada por uma estrada bonita e deserta até chegar a El Calafate.

Viagem de moto pela Argentina - Ushuaia

14º dia – Glacial Perito Moreno

Dia livre para ir conhecer o Glacial Perito Moreno. Fomos de moto, rodando 157 km ida e volta.

Lugar lindo, com uma estradinha cheia de curvas, quando você entra no parque. Quando chega a ver o glacial dá um frio na barriga. Eu fiquei super emocionada com a grandeza daquilo. A cor azul é impressionante. Um bloco de gelo com 130 metros de altura.

Fazendo um barulho tipo de trovão quando ele vai se quebrando. Passarelas pra você andar e chegar mais próximo dele. Eu amei, tirei muitas fotos e fiquei muito impressionada com a grandeza dele. Depois pegamos as motos e fomos ate onde pega o barco pra fazer o passeio, que leva até bem próximo do glacial. Vale cada centavo (90 pesos o passeio). No caminho, muito vento. Quando se aproxima, bem perto, acaba o vento. Eu estava filmando e, de repente, começou a quebrar um pedaço e eu filmei. Foi de repente, ele quebrou lá de cima e caiu com tudo, formando uma onda. Parecia um tsunami vindo. Foi muito maneiro… o barulho é muito legal. Foi um dia especial na minha vida.

15º dia – El Calafate/AR a Puerto Natales/CL – 364 km

Um dia mais light, estrada bem florida, flores pequenas e de todas as cores. Encontramos uma turma de argentinos com motos menores na fronteira. Ao longo da estrada, flamingos, cavalos, carneiros e avestruzes. Carneiro é o que mais têm, e eles se assustavam com o ronco da Harley.

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16º dia – Torres del Paine

Dia livre para conhecer o Parque Torres del Paine. Alugamos um tour com uma Van (20.000 pesos chilenos), ingresso no Parque 18.000 pesos chilenos.

Passeio de 5 horas, estrada por ripio, visual alucinante dentro do parque. Montanhas, com picos cobertos de neve, lagos azuis esverdeados, guanacos, animais de todos os tipos.

O passeio valeu muito, é muito lindo.

17º dia – Puerto Natales/CL a Rio Grande/AR – 690 km

Estrada bonita e boa, íamos para Rio Grande, mas passamos do local de entrada e, por falta de gasolina, tivemos que ir até Punta Arenas. Chegamos, abastecemos e voltamos.

Havia um pedaço de ripio de 3 km, porque eles estavam arrumando a estrada. Depois, asfalto e, de repente, uma fila de carros. Estávamos no Estreito de Magalhães. Sim, aquele que você aprende na aula de Geografia e eu nunca tinha esquecido dele. Foi muito emocionante chegar lá.

Tiramos fotos e ficamos aguardando na fila. A barca grande cabe uns 20 carros, caminhões e ônibus. Preço: 65 pesos argentinos.
A distância até a outra margem é de 5 km. Tivemos sorte, porque o mar estava calmo. Encontramos um casal do rio com uma 883 que disse que, quando eles passaram, duas ondas passaram por cima do barco e molhou todos e a moto também. Ufa!!! Que sorte a nossa… Um pouco mais de estrada. Descemos do barco e chegamos a Cerro Serrado. Um lugar tiskinho, que tem um posto de gasolina, onde um senhor muito simpático atende só em efetivo (grana). Abastecemos e fomos em direção ao ripio, meu amigo “maledito”, como o chamo, rsrsrs. Rodamos uns 18 km em estrada de cimento, uma maravilha e, de repente, diz assim fin del pavimiento.

Às 14h15 entramos no rípio. Pense num chão ruim, cheio de pó e de carros, nem gosto de lembrar. Acostamento inexistente, buracos com pedras. Eu ia bem devagar 20 km/h, escolhendo os melhores caminhos, meus amigos de BMW iam na boa, mas me esperavam. De repente, um menino com uma moto de 250cc, argentino, com pneu estraçalhado pelas pedras. Meu, deu 15 tipo de medo em pensar que eu estava lá também, e que podia acontecer comigo. Carros capotados… foi terrível. Bom, pra encurtar a historia, foram 124 km em 5 horas, contando com a passagem por duas aduanas. Minha Harley ficou virada em pó. Dava pena de ver. Mas chegamos no asfalto. Eu e ela tínhamos conseguido, estávamos, por hora, sãs e salvas.

Nesse trajeto, conhecemos um casal de italianos que estava viajando de Lambreta. Mandaram a lambreta por navio e vinham belos e formosos, conhecendo toda a América do Sul.

18º dia – Rio Grande/AR a Ushuaia/AR – 220 km

Minha Harley já estava com 8 mil km rodados e precisava trocar o óleo. Na cidade, encontramos uma loja de motos, comprei óleo e o menino falou que não trocava, mas me deu endereço de uma oficina. Colocamos no GPS e fomos procurar. Achamos uma oficina antiga com um cara muito simpático, o Marco, que ficou encantado com a Harley. Fez perguntas, admirou, pediu pra eu ligar pra ele ouvir a música do escapamento da moto. Trocou o óleo e não cobrou nada, disse que viajantes não pagam esse tipo de serviço… Foi muito legal da parte dele… Mais um amigo pelo mundo.

Viagem de moto pela Argentina - Ushuaia

Seguimos viagem e eu mais tranquila com a Harley com óleo novo. Ao longo da estrada tinha muitas árvores mortas e começou a esfriar. Meus dedos começaram a congelar. De repente, um lago lindo, uma serra e um portal escrito USHUAIA… Conseguimos, chegamos… Estávamos em Ushuaia. Hotéis caros, conseguimos um hostel, para mim e Eliane. O Marcelo demorou mais pra achar um pra ele. Mas achou bem mais tarde. Ainda era dia, então, fomos conhecer a cidade e tirar fotos. Jantamos Centoilla (king crab).

19º dia – Ushuaia

Acordamos sem muita pressa e estava garoando. Fomos passear de barco, fazer o famoso passeio pela pinguizeira e ver o Farol do Fim do Mundo. O passeio era num barco bem legal, mas caro, 400 pesos, e cá entre nós, eu achei bem fraquinho e muito longo. Cansa andar de barco. Eu queria ir no parque estadual, mas soube que tinha ripio, então resolvi não ir, meus amigos foram de moto e eu fiquei. O dono do Hostel me viu e acho que ficou com pena e me levou de carro, rsrsrs. Foi ótimo o passeio, o parque é muito bonito. Fica lá o final da Ruta 3 e a Lapataia. Eu sou uma mulher de sorte. Ah! O último Correio Argentino, que existe no Parque e que carimba o passaporte da gente, estava fechado, então… Sem carimbo.

20º dia – A VOLTA

Vou resumir no geral, porque voltar é muito ruim, rsrsrsr.

Fizemos o ripio em 4 horas, acho que já estava preparada pro que vinha, por isso, foi mais rápido, mas não menos ruim. Odeio ele.

O pneu da Harley estava começando a ficar bem gasto, estava preocupada. As estradas e o ripio gastaram demais o pneu. No caminho, minha Harley completou 50.000 km, ela é o máximo.

Voltamos por Rio Grande, Rio Gallegos, Caleta Oliva, Puerto Madryn, Bahia Blanca e Buenos Aires, e meu pneu gastando. Chegamos em Buenos Aires sem pneu quase. Aí, fomos atrás de uma loja. A da Harley estava fechada, então, um amigo de Buenos me indicou uma loja que vendia pneus e, por sorte minha, achamos ele, trocamos e tudo voltou a ficar tranquilo de novo.
Estávamos com muitas saudades de casa.

Chegamos em Curitiba cansados, mas felizes…

Sibele destaca o que mais a incomodou durante a viagem:
– Hotelaria cara, gasolina cara na Argentina, não próximo a Ushuaia, lá pra baixo é mais barata. E fila pra conseguir abastecer, lugares que o asfalto é muito ruim. Argentinos e Chilenos não respeitam as motos na estrada. Não marcamos hotéis, uma falha grande. Época errada, tudo é muito caro, disseram que teríamos que ir em novembro, aí é mais barato. Estrada de chão (ripio) e o vento.

E o que mais gostou:
Lugares lindos, muitas flores e animais, a recepção dos Argentinos, muito boa conosco. Pedágio free na argentina, no Chile tem que pagar. Conhecer pessoas do mundo todo pelo trajeto, fazer amigos. Gostei muito de saber que a minha moto é muito forte, aguentou um piso que não era pra ela e aguentou muito bem. A Harley está de parabéns.

“Andar de moto é sempre muito bom, eleva a mente a um nível inexplicável. Você pensa tudo e nada ao mesmo tempo. Você fala com você, com a moto, com Deus. É um momento só seu. Às vezes você se questiona – o que eu estou fazendo aqui? E às vezes você pensa – que bom que eu estou aqui. Essa viagem serviu pra eu saber que sempre fui forte e que agora sou mais forte ainda. MOTO TEM QUE SER A EXTENSAO DE VOCÊ.”

Sibele do Carmo Tozim

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