Novamente pegamos a estrada em direção à Argentina com a finalidade de encontrar amigos de mais 3 nações “hermanadas”. Desta vez, o encontro C.U.B.A. (nome alusivo aos 4 países participantes: Chile, Uruguai, Brasil e Argentina) ocorreu na cidade de La Rioja, capital da província de La Rioja, localizada no norte da Argentina.
Integrantes:
- Chile – Juan Arenas, Carlos Hermosilla, Aliro Moya, Mónica Moya e Luis Meneses
- Uruguai – Ruben Aguilar e Fito Belén
- Brasil – Luiz Felipe Borges e Gilson Miranda
- Argentina – Antonio “Noni” Santangelo, Gianfranco Santangelo, Daniel Fernandez, Eduardo Gonzalez
- Motos: Suzuki V-strom 650 e V-Strom 1000, 1 Honda NC 700 X automática, 2 BMW 1200GS,1 Kawasaki ZX 14, 2 Honda Gold Wing, 1 Yamaha XT 660, 1 Yamaha XTZ lander 250, 1 kawasaki Vulcan 1700 e 1 Honda Shadow 1100 spirit
Dia 1 : Terça-feira, 9/4 – Passo Fundo (RS) – Santa Fé (Arg) – 1050 km
Geralmente o dia de partida para uma viagem começa cedo, seja por pura ansiedade de pegar a estrada ou seja por pura falta de sono, onde a adrenalina fala mais alto e atrapalha uma boa noite de descanso.
Eram 6 horas da manhã quando coloquei a moto em movimento nas ruas de Passo Fundo. Optei por sair pelo caminho mais curto, atravessando um bairro até chegar à BR-285 que me levaria à fronteira com a Argentina. Bom, ao andar alguns quilômetros já me deparo com um grande acidente que interrompia totalmente a estrada e o jeito foi dar volta, adentrar novamente a cidade e tomar outra saída que me deixava adiante de onde ocorrera o bloqueio.
Após 2 horas e aproximadamente 200 km de estrada cheguei ao trevo de acesso a Santo Ângelo, onde parei para descanso e abastecimento e também onde havia marcado de encontrar o parceiro de viagem e grande amigo Gilson Miranda.
Ao terminar de abastecer a moto, já aponta na entrada do posto o Gilson em sua XT 660 preta, pronto para encarar o parceiro aqui durante 7 dias por “las rutas” argentinas.
Seguimos viagem numa velocidade compatível com o péssimo pavimento da BR-285, com alguns buracos e muitas irregularidades até São Borja, onde chegamos por volta das 10 horas da manhã. Paramos para abastecer logo na entrada, fomos a um mercado para o Gilson comprar umas encomendas (cachaça e limão tahiti) feitas pelo amigo chileno Juan e logo seguimos para o complexo de aduanas.
O dia estava perfeito para rodar, temperatura agradável e céu aberto. Paramos na aduana para os trâmites, comprar alguns pesos argentinos e fazer o seguro contra terceiros (carta-verde). A aduana encontrava-se com pouco movimento e logo adentramos na Argentina. Nos primeiros metros já pagamos um pedágio onde dizia 5 pesos mas a cobrança efetiva era de 30 pesos por moto e enfim aceleramos as motos novamente.
Antes de continuar, paro aqui para um comentário, afinal, quero ressaltar a importância de viagens de moto sem roteiros “engessados” e com “parceria” entre os envolvidos. A idéia inicial, pelo menos para mim, era de seguir até Corrientes e cortar a Argentina numa diagonal passando por Pres. Roque Saenz Peña, Santiago del Estero, San Francisco del Valle de Catamarca e, finalmente, La Rioja. Bom, acontece que ao sair da aduana o Gilson me chamou e sugeriu outro caminho, um que eu já havia trilhado alguns anos atras e que passava por Santa Fé e Córdoba. De pronto aceitei a idéia, até porque a primeira opção seria por uma região pouco atrativa e a segunda, sugerida pelo Gilson, passaria por lugares mais interessantes.
Tomamos a RN-14 em direção à Paso de Los Libres, um trajeto muito tranquilo e com excelente pavimento. Nas regiões urbanas de algumas cidades ou pueblos, pude notar a presença de radares fixos, do tipo que faz a foto pela frente, fato que até agora não tinha presenciado neste país.
Paramos em Paso de Los Libres para abastecimento e um lanche rápido. Encontramos aí um grupo de 3 motociclistas, se não me engano de Posadas, que seguiam de carro para Buenos Aires em viagem de negócios. Trocamos algumas palavras, adesivos e logo voltamos à estrada, agora numa excelente auto pista até o entroncamento com a Ruta-127.
A partir deste ponto, até a cidade de Federal, a estrada está em péssimas condições, com 50 km muito perigosos próximo à cidade de San Jaime de La Frontera. Voltando a esta última cidade citada, fomos parados pela polícia caminera de Entre Rios, que nos solicitou uma contribuição para a unidade policial. Dei 2 pesos, algo como 70 centavos de real, sem o menor ressentimento. Ressalto também que não havia gasolina neste local, mas somente aí em toda a viagem ocorreu este problema.
Depois de uns bons quilômetros rodados, passamos o túnel subfluvial sobre o rio Paraná e chegamos à linda cidade de Santa Fé onde, com a ajuda do GPS do Gilson, encontramos um hotel de preço e acomodações decentes.
Depois de um bom banho para tirar a sujeira de 1050 km, um mate amargo e uma passeada pela internet para avisar os familiares que estava tudo bem, fomos a um restaurante indicado pelo pessoal do hotel. Após poucas quadras caminhando chegamos ao Círculo Italiano, um local bem antigo, de ambiente muito agradável e com uma excelente comida.
Depois de uma generosa costela (que de assado de tira não tinha nada, pois era a metade de um boi), um “purê de papas” e um bom vinho malbec, retornamos ao hotel para o merecido descanso.
Hotel Brigadier, acomodações simples,com garagem e café da manhã, rua San luis 3148, telefone (0342) 453 7387, Santa Fé. Tarifa aproximada Us$ 50,00 para apartamento duplo
Dia 2 : quarta-feira, 10/4 – Santa Fé – Bialet Massé (Arg) – 420 km
Hoje não recordo que horas despertamos e como o deslocamento seria curto tampouco nos preocupamos com isso. Tomamos aquele tradicional “desayuno” de café com leite e duas “medialunas”, arrumamos as motos e seguimos por outra excelente auto pista ( Ruta 19 ) até a Cidade de San Francisco, distante apenas 130 km de nosso ponto de partida de hoje. Paramos para descanso e para um reforço no café da manhã e logo seguimos, agora por pista simples, passando ao largo por Córdoba, até a cidade de Alta Gracia, ponto a ser visitado e onde aproveitamos para almoçar, pois hoje não andaríamos muito mais de moto.
Depois de algumas fotos da praça principal, da redução jesuítica e do Tajamar (um lago construído pelos jesuítas) rumamos para Villanydia, casa onde viveu dos 4 aos 16 anos de idade o argentino Ernesto Guevara de La Serna, el Che Guevara. Apenas passamos para confirmar o horário de atendimento ao público e logo fomos almoçar.
Matando a quem estava nos matando (a fome), retornamos à Villanydia onde, após pagar por um ingresso de poucos pesos argentinos, percorremos a casa museu por pouco mais de uma hora. Documentada a visita, saímos em direção ao Dique San Roque, nas proximidades de Villa Carlos Paz, contornamos o lago artificial, paramos junto ao paredão que represa a água e onde fica também o “embudo” (funil por onde a água excedente escapa) para algumas fazer algumas fotos da região que é muito bonita e, como já era tarde, começamos a procurar um hotel nas proximidades. Acabamos por nos hospedar no pequeno povoado de Bialet Massé, num hotel de mesmo nome, com excelente atendimento e de boa qualidade.
Devidamente acomodados, novamente via internet colocamos as notícias em dia, tomamos alguns mates e saímos para jantar. Cabe aqui outro comentário, afinal de contas, como esta dupla que já rodou alguns vários quilômetros pela Argentina, pede um “lomito” e espera que venha um pedaço de carne (lombo) ao invés de um tradicional e farto sanduíche argentino. Acho que foi culpa do malbec !
Ao retornar para o hotel começo a receber mensagens pelo celular da dupla uruguaia que também se desloca para La Rioja. Estavam os dois próximo a Córdoba, cerca de 60 km de onde estávamos.
Hotel Bialet Massé, 50 metros da rodovia, rua Rivera Indarte esquina General Deheza, telefone 3541-440031, www.portalbialet.com.ar.
Dia 3 : quinta-feira, 11/4 – Bialet Massé – La Rioja (Arg) – 410 km
Eram 08:00 h da manhã quando olhei pela janela do quarto e percebi que o dia amanhecera cinzento e com uma densa neblina que encobria a região. Depois de um tradicional café da manhã, arrumamos as motos e deixei a V-Strom na esquina do hotel para facilitar a nossa localização por parte do amigos uruguaios Fito e Ruben, com quem afinamos uma saída juntos, a partir deste ponto, para as 09 horas.
No horário marcado chegam os hermanos, Fito com sua V-Strom 1000 e Ruben com uma Kawasaki custom de 1700 cc. Depois de alguns abraços e uma rápida conversa, com direito a apresentações ao Gilson, que ainda não conhecia os amigos da cidade de Trinidad – Uruguay, seguimos viagem por uma região belíssima que, mesmo com a neblina, tivemos a sorte de conhecer e apreciar.
Passamos por belas cidades como Cosquin e La Falda, situadas em uma região serrana de forte apelo turístico. Mais adiante chegamos em Cruz del Eje passando batido pelo posto de gasolina. Como já havíamos rodado algo como 175 km aproximadamente acabamos baixando a velocidade para alcançar o próximo abastecimento na cidade de Chamical. Cheguei aí com muita folga no tanque da V-Strom 650 contudo, já não posso dizer o mesmo das demais motos, as quais chegaram com pouquíssima gasolina no tanque. Só para dar uma idéia, após 305 km a XT 660 tinha apenas 350 ml de combustível.
Após esta cidade (Cruz del Eje), a paisagem começa a mudar, as belas serras de Córdoba dão origem a uma região mais seca, com terreno muito arenoso onde predominam alguns arbustos secos, enormes cactos e extensas plantações de oliveiras. Neste trecho existem diversas bancas onde podemos comprar azeitonas e azeite de oliva direto dos produtores regionais e com preços muito acessíveis .
Neste abastecimento de Chamical pagamos o segundo mico da viagem. Quando chegamos havia um caminhão descarregando combustível e por este motivo o frentista ou “playero” disse que teríamos que aguardar o fim do procedimento. Perguntamos se era o único posto da cidade e recebemos um convicto “SI” do frentista. Bom, matamos o tempo almoçando e conversando e, após uma hora e meia, abastecemos as motos e seguimos viagem. Para nossa surpresa, a 500 metros dali, existia outro posto de gasolina no lado oposto da rodovia. Paciência!
Depois de mais alguns quilômetros passamos pela pequena Patquia e logo alcançamos o objetivo final da viagem, a cidade de La Rioja. Com o mapa enviado pelo nosso amigo e anfitrião Noni chegamos ao hotel de propriedade dele, onde já nos aguardava na entrada, balançando os braços vigorosamente para que o víssemos com mais facilidade.
Depois de bem instalados, descarregamos as motos, tomamos um bom banho e, finalmente, sentamos todos juntos, para apreciar um bom chimarrão, alguns uma boa cerveja e colocar a conversa em dia, num agradável fim de tarde em La Rioja.
Cerca de 3 horas após começa a chegar a delegação chilena, esta composta de 4 motos e cinco pessoas. Aí nossa roda de prosa já virou uma grande festa onde até os ingredientes comprados em São Borja foram misturados ao açúcar e gelo e se transformaram em uma excelente caipirinha preparada pelo Gilson. Nem preciso dizer que fez sucesso entre todos os participantes, mas principalmente, entre os que estão menos acostumados, como os chilenos, argentinos e uruguaios.
Mais tarde fomos jantar numa excelente parrilla, perto do hotel, e logo retornamos para um merecido descanso.
Dia 4 : Sexta-feira, 12/4 – La Rioja – Parque Nacional Talampaya – La Rioja (Arg) – 440 km
Hoje o dia iniciou sem o tradicional despertador, o sono durou até os primeiros amigos iniciarem as movimentações no hotel e aí não tem como mais ficar na cama, a vontade de prosear e tomar uma mate é maior e de pronto já estávamos na rua. Saímos para um rápido café da manhã numa padaria próxima e voltamos ao hotel para arrumar as coisas e subir novamente nas motos.
O destino de hoje era muito aguardado por quase todos do grupo e os ânimos estavam a mil. O Parque Nacional Talampaya (www.talampaya.gov.ar) é considerado patrimônio da humanidade pela Unesco, um lugar rico em história natural e, principalmente, rico em beleza. As paisagens são de encher os olhos do visitante. O acesso se dá pela ruta 150 e depois Ruta 76, um dos caminhos que levam ao paso Água Negra, passando por Patquia e antes de Villa Union, está localizado a aproximadamente 220 km da capital La Rioja.
Saímos em comboio já por volta das 10 horas, paramos em Patquia para abastecimento pois a distância até a administração do parque era de aproximadamente 160 km desde esta pequena cidade. Seguimos por uma boa estrada, com trechos em reparação e outros atravessando leitos de grandes rios secos. O dia permanecia nublado e o temor de chegar ao destino com chuva era grande mas, graças a Deus, isto não se confirmou e conseguimos aproveitar esta maravilha com tempo seco e temperaturas agradáveis.
Ao chegar no parque já providenciamos os ingressos pois o movimento turístico era grande ($50,00 pesos a entrada e taxa de manutenção + $165,00 pesos o passeio em caminhão “overland”). Em seguida fomos almoçar no bom restaurante que existe aí na administração. Nos deliciamos com um excelente “Locro Riojano”, uma espécie de sopão com caldo bem consistente, daquele tipo que “vai tudo pra dentro da panela”, especialidade da casa e comida típica da região norte da Argentina.
Por volta das 14h30 o caminhão, daqueles com tração integral e vista panorâmica (assentos no teto), encosta e embarcamos rumo ao Canyon de Talampaya. As primeiras imagens das montanhas já impressionam e, na medida que o nosso transporte se aproxima da atração principal (El Cañon) começamos a sentir aquela sensação de insignificância de nossa existência frente a esta grande obra da mãe natureza. A maioria dos integrantes tinha achado caro o pacote, agora estavam calados (inclusive eu) e, posteriormente, pedindo desculpas por tal absurdo. Estas paisagens não tem preço! Durante o passeio ocorrem algumas paradas para avistamento de animais silvestres, petroglifos e as diversas formas esculpidas pelo vento nas paredes do canyon. Numa destas paradas fomos surpreendidos por um happy hour servido no meio do canyon, com direito à produtos regionais, como as excelentes azeitonas e um bom vinho Torrontés produzido na região. Uma bela oportunidade para fotos e um brinde exaltando o local e os amigos que ali se encontram.
Depois de mais de 1 hora de passeio o caminhão inicia o retorno, passando novamente pelo canyon, rodando alguns metros no leito seco de um grande rio e, finalmente, chegando na sede administrativa do parque.
Começamos a arrumar as tralhas, colocamos as roupas de frio pois a noite está próxima e como estamos a cerca de 1300 msnm em pleno deserto, depois de um dia quente, quase sempre chega uma noite gelada. Avisamos aos demais amigos que ficaríamos para traz para dispor de mais tempo de curtir o deserto e fazer algumas fotos, sem pressa e sem atrapalhar o andamento do comboio de 9 motos.
Saímos disparando os flashs no próprio parque, num bando de zorros (graxaim aqui no sul) que ficavam a espreita de alguma comida ofertada pelos turistas. Seguimos devagar pela estrada, “sacando” muitas fotos e contemplando a paisagem. A noite chegou e ainda estávamos na metade do caminho, o frio apertou e seguimos no mesmo “tranco”, mesmo sem tirar fotos, pois agora precisávamos redobrar o cuidado com a estrada pouco familiar e com a fauna local, composta principalmente de zorros, guanacos e algumas “liebres mara”.
Por volta das 20 horas chegamos a Patquia para completar o tanque das motos. Para nossa surpresa, os demais amigos estavam nos esperando na “estacion de servicio”. Rapidamente alinhamos as motos e partimos.
Chegamos em La Rioja por volta das 21 horas e fomos direto ao restaurante, aquela mesma excelente parrillada da noite anterior e, para variar, nos fartamos com boa carne e excelentes vinhos.
Como ainda era sexta-feira, prolongamos a conversa até tarde, bem como a degustação etílica que incluía na carta bons vinhos, cerveja gelada, pisco chileno e uma caipirinha brasileira.
Dia 5 : sábado, 13/04 – La Rioja (Arg)
Novamente esquecemos do despertador mas logo acordamos com a divertida turma argentina do MG Animales Sueltos en la Ruta, de Bahia Blanca, que havia chegado no hotel. Neste momento o C.U.B.A. já estava completo, com integrantes de todos estes 4 países. Aproveitamos a manhã para procurar umas peças no comércio local e dividir um bom chimarrão nas dependências do hotel do Noni, numa roda internacional onde a amizade e fraternidade não deixavam a conversa parar.
Logo saímos para almoçar e em seguida nos deslocamos até um dique no caminho a Sanagasta e Aimogasta, novamente fizemos muitas fotos e deixamos o grupo voltar para, por um caminho mais longo e sinuoso, retornar ao centro de La Rioja. Paramos várias vezes, eu e o Gilson, pelo caminho, atravessamos pequenas vilas que margeiam o dique até tomar a auto pista que leva à cidade. Optamos, por sugestão do Gilson, em seguir o GPS com a finalidade de conhecer a cidade, passamos por diferentes bairros até chegar ao centro, onde visitamos um museu dedicado à cultura aborígene e artes em geral e rumamos ao hotel.
A noite foi reservada para outra parrillada, agora em outro restaurante e com a presença de amigos e da família completa de nosso anfitrião. A festa foi dedicada ao encontro e principalmente ao Noni, aniversariante nesta noite. Foi uma grande festa. Retornamos ao hotel mais cedo que o habitual para arrumar as malas e descansar pois no dia seguinte teríamos um longo trecho de estrada pela frente.
Dia 6 : domingo, 14/4 – La Rioja – Cerrito (Arg) 860 km
Levantamos cedo, por volta das 6 horas. Quando cheguei com as bagagens na moto, o Noni já nos aguardava com sua Goldwing defronte ao hotel. Carregamos as motos, nos despedimos dos amigos e, sem perder muito tempo, saímos para realizar o caminho de volta, novamente eu, o Gilson e a dupla uruguaia Fito e Ruben. Paramos em Chamical para o café da manhã e reabastecimento. Encontramos aí com o grupo de Bahia Blanca que também retornava pelo mesmo caminho e somente parou para encher o tanque pois tinham um longo “tramo” de 1350 km para percorrer naquele dia. Mais tarde fiquei sabendo por email trocado com o Eduardo que chegaram em casa no mesmo dia, por volta das 22:00h.
Paramos novamente em Cruz de Eje para abastecimento e seguimos pela província de Córdoba, sempre respeitando os limites de velocidade pois, como havíamos reparado no trajeto de ida, nesta região a polícia faz uma rigorosa fiscalização com uso de radar e etilômetro. Quando falo rigorosa me refiro ao fato de existirem barreiras a pouco quilômetros de distância umas da outras. Sempre fomos bem tratados em todas as paradas de fiscalização.
Aqui abro outra ressalva para mais um “causo” que, mais tarde, virou motivo de piada dos amigos. O fato ocorreu em uma dessas paradas pela polícia caminera de Córdoba, eu me encontrava fechando a fila, vinha em último das 4 motos, o policial passou pelas 3 primeiras motos, analisou bem a situação e, por fim, quando chegou na minha vez, estendeu a mão e pediu que fizesse o teste do “bafômetro”. Buenas, olhei aquele “aparelhinho” e pensei: “agora me ferrei” ! Mas como não tinha mais o que fazer, encarei aquele etilômetro azul e amarelo (isto mesmo, foi tão traumático que lembro até das cores alusivas ao Boca Juniors) e assoprei, primeiro com muita calma, sendo advertido pelo policial e depois com mais força. Bom, a conversa foi mais ou menos assim:
policial – “o senhor bebeu noite passada”;
Felipe – “só um pouquinho, até as oito da noite”;
policial – “hummmmmmmmmmmmm….hummmmmmmmmmm” coçou a cabeça, a barba, o …., olhou para um lado, olhou para o outro, apertou un botões no aparelho….pensou e voltou a falar: ” bom, tenham uma boa viagem”.
Ufaaaaa, seguimos viagem.
Mais adiante, perto de La Falda, desviamos do caminho principal por sugestão do Ruben. Pegamos uma estrada conhecida como “Camino del Cuadrado” que leva a Rio Ceballos e depois Córdoba. Esta estrada passa por uma região serrana muito bonita, com vistas panorâmicas para várias cidades e uma boa sequência de curvas para arredondar os pneus que já vinham quadrados de tanta reta. Vale a pena este desvio, aumenta o trajeto consideravelmente porém passa por novos e interessantes lugares.
Passamos Córdoba por fora e logo paramos para fazer um lanche. Retornamos à estrada, passamos por San Francisco e chegamos na entrada de santa Fé já quase noite, quando, em uma parada repentina do Fito, em meio a um intenso trânsito, nos perdemos deles. Conversamos eu e o Gilson, já estávamos cansados e resolvemos parar assim que encontrássemos um hotel, porém lembrei que havíamos comentado com os uruguaios algo sobre o pedágio do túnel subfluvial, já na cidade de Paraná. Resolvemos invadir a noite andando, coisa que não estamos habituados a fazer por motivos óbvios de segurança, para verificar se o Ruben e o Fito não estavam a nossa espera por aí.
Novamente nos equivocamos, rodamos mais um pouco e paramos para um lanche em um posto de gasolina por volta das 20 horas, já adiante de Paraná, na Ruta 127. Neste instante, recebi por mensagem de texto, o comunicado do Ruben que já estavam na cidade de Paraná, hospedados num hotel. Resolvemos não retornar pois seguiríamos caminhos opostos no dia seguinte. Tocamos mais 60 km noite adentro até a pequena Cerrito onde nos hospedamos num hotel confortável com ótimo atendimento e excelente tarifa, dica de nosso amigo Jordan Wallauer, gaúcho “de fundamento” radicado em Urubici – SC. Antes de nos acomodar já deixamos as motos lubrificadas e abastecidas para agilizar a saída no dia seguintes.
Dia 7 : segunda-feira, 15/4 – Cerrito (Arg) – Passo Fundo (RS) – 960 km
Último dia de viagem, saímos para a estrada por volta das 9 horas para encarar aquele trecho muito ruim da Ruta 127. O piso é composto por placas de concreto que estão muito afastadas, empenadas e algumas quebradas, apresentando alguns buracos muito perigosos.
Ao chegar na Ruta 14 tudo melhora, pista dupla até Paso de Los Libres e muito asfalto bom até São Borja.
Aproveitamos a parada na terra dos presidentes para um lanche rápido e uma hidratação básica. Abastecemos e seguimos em motos trocadas pois o Gilson queria descobrir o segredo de rodar mais de 1000 km num só dia e não cansar e eu, em contrapartida, estava com saudade da XT 660, uma ótima e valente moto com a qual realizei ótimas viagens por este cone sul.
Chegamos no acesso de Santo Angelo no final da tarde, me despedi do Gilson e toquei forte em direção a Passo Fundo já com o sol baixando no horizonte. Peguei somente 1 hora de noite na estrada e por volta das 20 horas já estava com a moto estacionada na garagem do prédio onde moro.
Considerações finais:
Viajar na Argentina continua uma excelente opção para o mototurista. O país é seguro, os hotéis e alimentação estão com preços acessíveis, o povo é muito educado, as estradas são mais seguras tanto no aspecto de infra-estrutura como no aspecto comportamental dos motoristas, onde se consegue rodar mais de 1000 km durante o dia, sem adentrar a noite para isso. O preço da gasolina está na casa de R$ 2,35 o litro, ajudando muito no balanço geral das despesas.
Desta vez, e por sugestão do Gilson, optamos por nos hospedar durante o deslocamento em pequenas cidades ao longo do caminho. Tal opção visa evitar aquele tempo perdido no trânsito caótico das cidades maiores, diminuindo os riscos de algum contratempo e facilitando o retorno à estrada. Podemos aliar ainda o fato de que, geralmente, em lugares menores encontramos alojamento e alimentação com melhor preço, mais qualidade e melhor atendimento.
A crise no país hermano que tanto aparece em nossos telejornais não me pareceu tão grave “in loco”. Os restaurantes que frequentamos normalmente estavam lotados, todos comendo bem e bebendo bons vinhos. Nas estradas pude notar, além é claro, de toda a modernização e ampliação da malha asfáltica, uma grande quantidade de bons e potentes carros viajando em velocidades não compatíveis com quem estava poupando dinheiro, falo isto porque às vezes nos encontrávamos a 120 – 130 km/h e éramos ultrapassados como se estivéssemos parados. Sei que economia não é minha área, mas fiquei pensando nesta crise com crescimento e pessoas gastando dinheiro.
A única coisa que se confirmou foi a grande impopularidade da presidenta.
Ocorreu uma pequena divergência entre as distâncias parciais que relato aqui com o que ficou anotado no hodômetro de minha moto. O fato é quase irrelevante, creio que menos de 50 km nestes 4265 km que ficaram registrados no painel da V-Strom. Nesta viagem, por ser curta, acabei relaxando quanto às anotações que geralmente faço com o intuito de colher informações que futuramente venham a ser úteis para mim ou outro viajante que por acaso esteja lendo este relato.
FIM
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Luiz Felipe Borges, abril de 2013
www.cuturneiros.hd1.com.br
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