Após anos idealizando, eu e meu colega de trabalho e companheiro de estrada, Daniel, finalmente realizamos nossa viagem de moto até a cidade de Ushuaia na Argentina, extremo sul da América do Sul. Viagem que para muitos é o doutorado no mundo motociclístico.
Viajamos com duas BMW GS650, semelhantes no ano, modelo e cor. O roteiro planejado por meses nos permitiu fazer nosso percurso de 13.500 km em 20 dias, entre os dias 26/11 a 16/12, que era o tempo que tinhamos disponível para realizar a viagem, com direito a apenas 4 dias de descanso. Não primamos pelo conforto no caminho. Optavamos por uma estadia mais confortavel apenas onde programamos os dias de descanso.
Saímos de São Paulo e entramos na Argentina por Foz do Iguaçu. Naquele país seguimos pelas rutas 12, 14 e depois pela Ruta 3 acompanhando o Oceano Atlantico até Rio Gallegos. Naquela estrada enfrentamos o famigerado e terrível vento patagonico, com rajadas medidas de 110 km/h. De Comodoro Rivadávia a Rio Gallegos foi o trecho mais tenso da viagem por causa do vento. Foram cerca de 800 km muito tensos, onde tivemos que nos abrigar por aproximadamente 2h em um posto de gasolina, sem condições de seguir em frente. Naquele trecho, como disse o Daniel, parceiro de viagem, “- Aqui se separam os meninos dos homens”.
No trajeto de ida enfrentamos muito calor, frio, muito frio, mais frio ainda, chuva, tempestade com chuva, vento, tempestade de areia e um pouco mais de frio ainda.
O trajeto entre Rio Gallegos e Ushuaia foi feito em único dia e foi bem diferenciado, com direito a duas aduanas Argentina/Chile, balsa para travessia do Estreito de Magalhães, trajeto extenso de ripio em boas condições de pilotagem e muito frio próximo a Ushuaia, onde chegamos à noite com uma chuva fraca que fez a temperatura despencar para 5 graus. Imagino uma sensação térmica de zero grau de moto…
Chegamos exaustos a Ushuaia no fim do sexto dia de viagem, porém chegamos realizados e certos de uma grande conquista. Melhor que isto só como os Fazedores de Chuva. Para quem não conhece, os Fazedores de Chuva são aqueles que percorrem de moto de Ushuaia na Argentina a Prudhoe Bay no Alaska, do estremo sul da America do sul ao extremo norte da America do Norte.
Para nós foi uma grande conquista, mas ainda era só parte do que iriamos passar, ver a apreciar durante a viagem, pois a volta nos reservaria visões de tirar o folego e que ficarão na nossa memoria por uma vida. Lógico que temos as fotos. De uma coisa sei com certeza: temos historia pra contar até para nossos netos, se chegarmos a te-los. 😉 😉
No sétimo dia de viagem foi agregado o terceiro elemento na viagem, a Flávia, companheira do Daniel, que nos acompanhou por aproximadamente 4.000 km até Santiago no Chile, onde a deixamos no aeroporto para retornar para São Paulo.
A volta foi recheada de boas emoções. Partimos de ushuaia rumo a Puerto Natales, onde conhecemos as magníficas Torres del Paine. De lá fomos para El Calafate, onde ficamos um dia a mais, que usamos para trocar o óleo das motos e visitar o Glaciar Perito Moreno. Estupendo, se essa é a palavra correta para descrever tamanha maravilha da natureza na encosta da Cordilheira dos Andes.
Continuamos subindo a Ruta 40 em direção a Bariloche durante 2 dias de viagem. Lá encontramos o pior trecho da estrada, aproximadamente 80km de rípio, barro e brita solta e perigosa. Choveu 3 dias antes da nossa passagem e o pedaço de terra estava um barro só e o rípio, um sabão. Com calma, passamos pelos obstáculos. O vento que pegamos na Ruta 40 não nos importunou tanto quanto na ida pela Ruta 3. Aquele pareceu mesmo com um furação.
Apenas dormimos em Bariloche e atravessamos a cordilheira em Villa la Angostura, pelo Paso Cardenal Samoré, sob uma chuva fraca e neblina intensa. No Chile, fomos a Pucón, onde ficamos mais um dia, mas o tempo chuvoso nao colaborou para uma boa estadia. Mesmo assim, fomos ao Vulcão Vila Rica, que estava coberto pela neblina. Subimos para Santiago, onde a Flávia ficou, voltando de avião para casa. Seguimos viagem rumo a Mendoza, passando pelo Paso Libertadores e os famosos Caracoles, trajeto que ficará na memoria por uma vida de tão bonito e agradavel por causa das suas maravilhas naturais. A sensação de estar no topo da cordilheira era de uma alegria extrema. Um dia voltaremos, se Deus assim o permitir. Na sequência, tocada forte sentido uruguaiana, voltando ao brasil e sendo recepcionados pelos primeiros radares escondidos na estrada.
Na cidade de Santa Cecília, em Santa Catarina, passamos na casa dos pais da Flávia, gente da melhor qualidade. Chegamos a São Paulo no dia seguinte com chuva, após ficarmos 3 horas parados na Serra do Cafezal, para não perdermos o costume.
Por fim, encaramos nossos sonhos e o tornamos realidade e isso não tem preço que pague ou tire de nós. Se voçê tem um sonho, acredite, você é capaz de realizá-lo…
Fizemos um video e publicamos no youtube. Devido problemas com direitos autorais das musicas, está com visualização livre nos computadores, mas nos celulares é necessário conta e login para visualização.
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