Em 2013, Eduardo Henrique Pereira de Ávila Borges, um jovem de 23 anos, decidiu realizar o sonho de muitos: viajar de moto pela América Latina. Na época, recém-formado em administração pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Eduardo trocou a rotina de Campo Grande pela estrada, montado em sua Yamaha Midnight Star 950. Seus pais, funcionários públicos, sempre representaram para ele a estabilidade de uma carreira segura, mas antes de se render ao terno e à gravata, Eduardo queria sentir o vento no rosto, a liberdade da estrada e as paisagens que o continente tinha a oferecer.
Quando conversamos com ele, via WhatsApp, Eduardo estava em Viña del Mar, no Chile. Já havia cruzado Santiago e, antes disso, feito uma parada mítica na Ilha de Páscoa, no Pacífico. O plano original era ambicioso: chegar até Cartagena das Índias, na Colômbia, e de lá ver se o orçamento permitia cruzar para o Panamá, sonhando em alcançar o Alaska. Mas como toda grande aventura, os imprevistos vieram junto. “Saí com dois mil dólares e agora só tenho uns pesos chilenos. Vou sacando quando preciso… mas não tenho mais dinheiro para me manter até 2016”, desabafa ele, rindo da própria situação.
Desde que deixou Campo Grande, no dia 21 de março, Eduardo já percorreu uma quantidade impressionante de quilômetros. Passou por Curitiba, desceu o Atlântico e chegou até o fim do mundo, Ushuaia, na Argentina. Lá, a aventura ganhou um novo significado.
A Argentina, com suas paisagens surreais e povo caloroso, conquistou Eduardo. “Eu planejava ficar 25 dias, mas acabei ficando dois meses, conhecendo mais de 30 cidades”, conta, ainda surpreso com o carinho que encontrou no país vizinho. “As paisagens são incríveis, mas o que me marcou mesmo foram as pessoas. Fiz amigos que vou levar para a vida. Descobri que os argentinos são muito mais parecidos com a gente do que eu imaginava.”
O caminho de Eduardo pela Patagônia foi uma montanha-russa de emoções. Em Ushuaia, conheceu duas irmãs mexicanas que o convidaram para se hospedar em sua casa, mesmo que apertada. “Era uma casa minúscula, com uma sala e um quarto, mas a hospitalidade foi tão grande que compensou qualquer desconforto.” Claro, nem tudo foram flores. Em Chaltén, ele enfrentou uma nevasca e temperaturas de -13 ºC. E em Magallanes, acabou sem gasolina e teve que pedir carona. “Em um momento, quase fui atropelado por um caminhão que entrou na minha pista. Tive que me jogar no acostamento, que mal existia. Fiquei lá por umas duas horas até alguém parar para me ajudar”, relembra.
Momentos de tensão à parte, a viagem também trouxe experiências inacreditáveis. Como o dia em que, no meio da estrada, um carro apareceu na contramão, fazendo sinais. Eduardo parou, achando que seria assaltado. Mas o que saiu do carro foi um homem com uma garrafa de conhaque nas mãos. “Ele era motociclista e ficou impressionado de me ver naquelas condições. Me deu o conhaque e ainda me adicionou no Facebook. Mais tarde, esse desconhecido mexeu os pauzinhos para que um grupo de motociclistas me recebesse em Mendoza, San Luis e Santiago. Fui tratado como rei. Devo muito aos argentinos por isso.”
O Chile também deixou suas marcas. “Assisti a um jogo do Brasil em um museu de história natural em Santiago, só eu de brasileiro no meio dos funcionários chilenos. Foi tenso”, brinca Eduardo, lembrando de ter que conter as emoções.
A viagem, que ele planejava terminar em dezembro, pode se estender até março do ano seguinte. O que ele já sabe é que, independentemente de quando terminar, terá valido a pena. “Eu queria conhecer o mundo antes de me amarrar em compromissos. Sair de moto, sem rumo, foi a melhor decisão que eu podia ter tomado”, reflete.
A saudade da namorada, da família e “dos tons verdes do Brasil” já começa a bater. Mas Eduardo não tem pressa. Se o Alaska não vier agora, virá depois. “Ainda quero rodar por todos os estados e capitais do Brasil”, afirma, já pensando nas próximas aventuras. Enquanto isso, ele segue registrando cada momento da viagem em fotos e vídeos, que batizou de “Expedition Lone Rider – America”. O que começou como um sonho juvenil se tornou uma jornada de autodescoberta que ele jamais esquecerá.
Deixe um comentário