O engenheiro goiano André Dias (41) tinha Um sonho: fazer uma viagem de moto pela América do Sul. Depois de seis meses de planejamento ele colocou a bagagem sobre a sua Honda Shadow 750cc e, com a esposa Nilza na garupa, realizou a tão sonhada viagem.
No dia 31 de janeiro passado eles saíram de Goiânia, GO com um roteiro definido, mas que foi realizado com a liberdade que uma viagem de moto permite. Durante 32 dias, André e Nilza percorreram cerca de 11.000 km de estradas de sete estados brasileiros, além do Uruguai, Argentina, Chile e Paraguai. Cruzaram duas vezes a Cordilheira do Andes, atravessaram desertos, conheceram regiões de lagos, florestas e vulcões, todos com paisagens espetaculares, além de conhecer pessoas muito interessantes pelo caminho.
André escreveu um diário bem detalhado da sua viagem e compartilhou no blog Rota 60 juntamente com muitas fotos. Ele conta em uma entrevista exclusiva para o ViagemdeMoto um pouco da sua aventura e aproveita para dar algumas dicas para quem pretende se aventurar pelas estradas da América do Sul com uma moto.
Esperamos que a experiência do casal goiano sirva de inspiração para quem sonha realizar uma viagem de moto como a deles.
1. Como surgiu a ideia de viajar até o Chile de moto?
Uma ideia sempre me acompanhou desde que comecei a me interessar por motos. Que era fazer uma grande viagem, sem data para chegar. Imaginei uma viagem através das 3 Américas, saindo do Alasca até a Terra do Fogo. Isso foi há 20 anos. Só agora consegui criar condições para viajar. Comecei então com viagens menores dentro de Goiás e do Brasil, para ir me acostumando. Depois pensei nesta viagem pela América do Sul. Escolhi conhecer o Uruguai, Argentina, Chile e Paraguai. Então na realidade a intenção não era apenas ir ao Chile.
2. Como você traçou o roteiro?
Inicialmente tracei um roteiro usando o aplicativo Maps do Google. A intenção inicial era um trajeto ligando a capital destes quatro países, mas na medida que conversava com alguns amigos, ia recebendo sugestões de lugares que deveríamos visitar. Desta forma incluímos roteiros no interior, como o sul da Argentina.
3. Quais as principais preocupações que você teve durante os preparativos?
Vários relatos citavam problemas com policiais corruptos, principalmente na Argentina e Paraguai. Isso a princípio me preocupou. Mas na medida em que me aprofundava nas leituras ia me tranquilizando. O que me tranquilizou definitivamente foi uma reposta de um brasileiro residente no Paraguai que disse o seguinte: “Aqui existem policiais corruptos, mas não é nada diferente do Brasil. Então você pode ter problemas, assim como poderia ter no Brasil”. Mas felizmente não tivemos nenhum problema deste tipo.
4. Quais acessórios você instalou na sua moto?
Instalei dois alforjes laterais, um traseiro, um para-brisas, um descanso para os pés, troquei os bancos originais por um banco “Erê”, um sissy bar para a garupa, um suporte para GPS e uma tomada 12 e 5 V, para carregar equipamentos. Levei também um alforje que mandei fazer para transportar dois galões de 5 litros para gasolina.
5. Quais equipamentos (roupas, luvas, etc.) você utilizou? Depois da viagem você considera que eram os mais adequados?
Levamos um conjunto calça e camisa segunda pele para calor, um conjunto para frio, luvas impermeáveis, jaquetas e calças de cordura com forro interno impermeável removível. Botas de couro à prova d’água, cachecol e óculos escuros. Levamos também uma mochila de hidratação de 2 litros, que foi muito útil. As roupas de cordura, não sei se pela marca que usei, não funcionaram bem para chuvas muito intensas. Mas para chuvas mais leves e médias funcionaram bem. Apesar das rupas de cordura serem muito quentes, a segunda pele de calor ajuda bastante a melhorar a sensação térmica.
6. O que levou na bagagem? Depois da viagem você considera que eram os mais adequados?
Na bagagem levamos uma roupa de frio para cada, que não usamos. Levei 5 camisetas, mas acho que três seriam suficientes. Uma calça jeans, 5 cuecas e 5 pares de meias. Tênis e pares de havaianas para cada um. Minha esposa levou dezenas de tipos de remédios, mas chegamos à conclusão que bastava um tipo para dor muscular e outro para dor de cabeça.
7. Quais documentos foram necessários?
Levamos passaporte, documento da moto e carteira de identidade.
8. Você fez algum tipo de seguro pessoal ou para a moto?
A moto possuía um seguro com abrangência no Mercosul. Seguro Carta Verde, que foi solicitado apenas na aduana paraguaia. Não fizemos o equivalente ao carta verde do Chile (SOAPEX). Também não fizemos seguro pessoal.
9. Qual época do ano você viajou? Teve problemas com o clima?
Viajamos no verão. Muito calor na maior parte do tempo e poucas chuvas. Sentimos frio somente em alguns locais na cordilheira dos Andes.
10. E com relação à segurança? Dá para viajar tranquilamente ou é preciso alguma atenção especial com relação às condições das estradas ou violência?
Dá para viajar tranquilamente. Pelo menos a impressão que tive que não é mais perigoso que no Brasil. Creio que os mesmos cuidados que temos aqui, temos que ter lá fora. As estradas são na imensa maioria muito boas. Exceto no Paraguai, que me lembrou bastante as estradas brasileiras.
11. Teve alguma dificuldade nas migrações e aduanas?
Não tivemos nenhum problema nas aduanas. Na passagem da Argentina para o Chile tivemos apenas uma espera de 5 horas. Mas foi com todos que estavam lá naquele momento. Na aduana do Paraguai fui trocar um dinheiro com um cambista e fui enganado. Mas já haviam me avisado para não fazer isso e paguei pela teimosia.
12. Como foram as pernoites? Você fez reservas de hospedagem antecipadamente?
Fiz algumas reservas no dia anterior pela internet em hotéis, no site Decolar.com. Reservei alguns apartamentos usando o aplicativo de celular “airbnb”. E também cheguei em muitas cidades sem reserva e fui procurar hotel. Apesar que, no meu roteiro, já havia uma lista de hotéis nas cidade que ia passar.
13. Qual foi a maior dificuldade do trajeto?
A maior dificuldade foi a estrada de rípio entre Junin de los Andes, Argentina e Pucón, Chile. Minha moto não é apropriada para este tipo de estrada. Outra dificuldade que encontramos foi um trecho de deserto de 280 km entre Mendoza e uma cidadela chamada Lujan, ambas na Argentina. Não é aquela Lujan próximo a Buenos Aires. Esta não está nem no mapa.
14. Ao todo, quanto gastou?
Ao todo gastamos R$ 15 mil em 32 dias bem aproveitados.
15. Dos lugares visitados quais você elege como especiais?
São vários. Mas posso destacar a Rota dos Sete Lagos, entre Vila la Angostura e San Martin de los Andes, o Paso Mamuil Malal, o Paso los Libertadores e o Camino de las Altas Cumbres, perto de Córdoba, Argentina.
16. Você têm alguma dica gastronômica?
Se puder e souber cozinhar, alugue um apartamento e faça comida brasileira.
17. O que te surpreendeu positivamente?
Me surpreendeu muito perceber que a rivalidade que ouvimos tanto entre Brasil e Argentina no futebol, existe apenas no futebol. Por todos os lugares que passamos na argentina não tivemos nenhuma demonstração de hostilidade. Muito pelo contrário. Todos diziam adorar o Brasil. Mas que não gostavam de chilenos. Notamos que o povo argentino é muito parecido com o brasileiro. Alegre, receptivo e prestativo.
18. Alguma experiência negativa?
Por incrível que possa parecer não tivemos nenhuma experiência negativa.
19. Pretende realizar outra viagem de moto no futuro? Para onde?
Sim. Em fevereiro de 2017 vamos ao Peru, Bolívia, Chile e Argentina.
20. Na sua opinião, o que um motociclista precisa ter para realizar uma viagem como essa?
Precisa vontade, ser aventureiro, dispor de tempo e é claro, dinheiro, já que não fica muito barato.
21. Por fim, quais os conselhos e dicas que você daria para quem quer encarar as estradas de moto, por um roteiro parecido com esse que você percorreu?
É necessária uma moto confiável, pois seria muito ruim ficar com a moto estragada no meio de um deserto. Um roteiro bem estudado para que você conheça o máximo dos lugares onde for passar, já que o tempo em cada lugar é curto. Preparação física para aguentar até 10 horas por dia em cima da moto. Um GPS, pois ele pode te poupar de muitos problemas, sem se esquecer que ele deve ser carregado na moto. Dependendo da autonomia da moto, um tanque reserva. Eu precisei. Se não quiser passar no Paraguai, não vai perder muita coisa. Outra coisa que pode ser útil é aprender um pouco da língua. Fica bem mais fácil.
Roteiro
Dia | Saida | Chegada | Hotel |
1 | Goiânia – GO | Piratininga – SP | Hotel Piratininga |
2 | Piratininga – SP | Balneário Camburiú | Hotel Arco do Sol |
3 | Balneário Camburiú | Balneário Camburiú | Hotel Arco do Sol |
4 | Balneário Camburiú | Santa Maria – RS | Casa de Parentes |
5 | Santa Maria – RS | Santa Maria – RS | Casa de Parentes |
6 | Santa Maria – RS | Santana do Livramento – RS | Hotel Jandaia |
7 | Santana do Livramento – RS | Montevidéu – Uruguai | Hotel California |
8 | Montevidéu – Uruguai | Montevidéu – Uruguai | Hotel California |
9 | Montevidéu – Uruguai | Colônia del Sacramento – Uruaguai | Hotel Rivera |
10 | Colônia del Sacramento – Uruaguai | Buenos Aires -Argentina | Park Silver Obelisco |
11 | Buenos Aires -Argentina | Buenos Aires -Argentina | Park Silver Obelisco |
12 | Buenos Aires -Argentina | Santa Rosa – Argentina | Hotel Calfucura |
13 | Santa Rosa – Argentina | Neuquén – Argentina | Trevi Hotel |
14 | Neuquén – Argentina | Bariloche – Argentina | Grand Hotel Bariloche |
15 | Bariloche – Argentina | Bariloche – Argentina | Grand Hotel Bariloche |
16 | Bariloche – Argentina | Villarrica – Chile | Hostal Merken |
17 | Villarrica – Chile | Los Angeles – Chile | Apartamento |
18 | Los Angeles – Chile | Santiago – Chile | Apartamento |
19 | Santiago – Chile | Santiago – Chile | Apartamento |
20 | Santiago – Chile | Valparaiso – Chile | Apartamento |
21 | Valparaiso – Chile | Valparaiso – Chile | Apartamento |
22 | Valparaiso – Chile | Valparaiso – Chile | Apartamento |
23 | Valparaiso – Chile | Uspallata – Argentina | Hotel Los Condores |
24 | Uspallata – Argentina | Cordoba – Argentina | Hotel Serrano |
25 | Cordoba – Argentina | Santa Fé – Argentina | Hotel Corrientes |
26 | Santa Fé – Argentina | Nelson – Argentina | Hotel Florida |
27 | Nelson – Argentina | Resistência – Argentina | Casa Mia Hotel |
28 | Resistência – Argentina | Assunção – Paraguai | Arthaus Hotel |
29 | Assunção – Paraguai | Assunção – Paraguai | Arthaus Hotel |
30 | Assunção – Paraguai | Ponta Porã – MS | Hotel Emanuel |
31 | Ponta Porã – MS | Paraiso das Águas – MS | Hotel Moraes |
32 | Paraiso das Águas – MS | Goiânia – GO |
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