Fim de ano chegou, férias coletivas batendo na porta, e eu já estava matutando: “Pra onde vamos dessa vez?” Então veio a ideia: “E se a gente fosse até a Cordilheira dos Andes de moto?” Não pensei duas vezes, comecei a trocar ideia com a galera, anotando dicas sobre como cruzar as fronteiras com as motos.
Com o planejamento no papel e o furgão lotado, pegamos a estrada. Tínhamos 4 mil quilômetros pela frente até o destino.
Primeira parada: Foz do Iguaçu. Passar pela fronteira foi tranquilo, sem dor de cabeça. De lá, seguimos para Resistência, e depois para Termas de Rio Hondo, ambas na Argentina. Em Termas, o termômetro marcava absurdos 45 graus na sombra! Ficamos num hotel cassino, e com o peso argentino desvalorizado, tudo saía mais barato que no Brasil: hospedagem, combustível, comida… Uma beleza!
A viagem começou a ficar interessante a partir daí. Pensei em esticar até o Atacama, mas mudei o rumo e segui pela pré-cordilheira em direção a Tafi del Valle, até alcançar a famosa Ruta 40. Quando cheguei, já eram 5 da tarde. O pessoal local recomendou rodar de dia pra curtir as paisagens incríveis.
A noite foi em Santa Maria. No hotel, o dono notou nosso furgão cheio de motos e logo puxou papo. Comentou que a região era perfeita pra trilhas. Nem pensei duas vezes: perguntei se ele conhecia alguém que pudesse nos guiar. Foi aí que conhecemos o José, nosso guia pelas trilhas da pré-cordilheira. E que trilhas, meu amigo… Subidas, descidas, areia, rios secos – vários trechos por onde o Dakar tinha passado naquele ano.
Depois de umas boas horas de adrenalina, terminamos nossa aventura por volta das duas da tarde e voltamos pra Ruta 40.
Em um cruzamento, me deparei com uma dúvida: à esquerda, Riojo, o destino planejado; à direita, o Paso de San Francisco. Parei e pensei: “Por que não?” Viramos à direita, rumo à travessia da cordilheira até Copiapó, no Chile. Paramos em Fiambala pra nos preparar pro desafio que estava por vir.
No dia seguinte, cedinho, começamos a subida por um vale imenso. A estrada parecia não ter fim, subindo sem parar até alcançarmos a fronteira Argentina-Chile, a 4600 metros de altitude. Cruzamos a fronteira e logo avistamos uma placa indicando “Las Grutas”. Curiosos, decidimos explorar. Desviamos, tiramos as motos do furgão e seguimos por uma estrada de pedras. No fim, demos de cara com um lago, com um vulcão ao fundo, o topo coberto de neve. “Que visual surreal”, exclamou meu filho mais novo. Fizemos uma pausa, lanchamos e descansamos – a dor de cabeça e o cansaço a 4700 metros eram intensos. Depois, voltamos pro ripio, prontos pra chegar a Copiapó.
A descida pela cordilheira nos levou por La Serena, Los Villos, Santiago e, de volta à Argentina, até Mendoza.
Ainda descendo a cordilheira, avistamos trilheiros ao lado da estrada. Vimos uma placa e não resistimos: voltamos pra encarar a última trilha do ano, numa pista particular aos pés da montanha.
Finalizamos a viagem em Rosário, onde assistimos à largada do Dakar. Depois, voltamos pra São Paulo.
Depois de rodar 8 mil km, meus filhos, empolgados, perguntaram: “Quando vamos voltar? Agora queremos ver neve!” Com um sorriso no rosto, respondi: “Logo, logo, meus filhos.”
Deixe um comentário