Todo motociclista Brasileiro sonha em pegar tua motocicleta e desbravar a América Latina em busca de novos ventos. Mas para isso, é preciso unir diversas variáveis que serão detalhadas neste material, que poderá ser útil para você que pretende no curto, médio ou longo prazo, realizar uma viagem de moto deste porte.
Planejamento:
Iniciamos o planejamento dessa viagem com 10 meses de antecedência, prazo que acreditamos ser um bom tempo para planilhar e executar todas as ações. Utilizamos uma planilha para inserir todos os custos, tempo, documentos e demais atividades que não podem ser esquecidas para a viagem.
Manutenção:
Realizamos a manutenção dos principais componentes da moto, sendo: Troca de óleo e todos os fluídos, abertura preventiva da bomba de combustível e do motor de partida e TROCA dos pneus. Exatamente. OBRIGATORIAMENTE, os pneus precisam ser novos.
Quando ir:
O verão da Patagônia, que ocorre entre dezembro a fevereiro, é o melhor período. Em outras épocas do ano, além da temperatura estar extremamente baixa, existe o risco de acidentes devido às estradas estarem congeladas ou com neve.
Quanto tempo:
Fizemos nossa viagem em 23 dias, sendo 3 dias fora da estrada e 20 dias rodando em média 600 km/dia. Encontramos motociclistas fazendo em 15 dias. Acho que não vale a pena, pois é apenas um tiro, perdendo a essência do motociclismo em sentir estradas, natureza e culturas locais. Encontramos também motociclistas com 40 dias, permanecendo dias em camping, num formato mais roots.
Quanto custa:
Tema com muitas variáveis, onde existem motociclistas que dormem em campings e se alimentam de miojo diariamente. Outros tomam vinho e comem cordeiro patagônico todas as noites. Nós viajamos na média destes casos anteriores.
Antes da Viagem:
- Manutenção preventiva da moto: R$ 3.500,00 (Incluindo compra de pneus novos)
- Compra de Roupas: R$ 1.000,00 (Luvas, roupa segunda pele, blusa de lã)
- Documentos Pessoais e da moto: R$ 1.500,00 (Estávamos num período de COVID onde era obrigatório seguro de vida e testes RT PCR, além de passaporte que mesmo não sendo obrigatório para estes países, sempre recomendo devido mais segurança.
Durante a Viagem:
- Combustível Arg/Chi : R$ 1.740, Combustível Brasil, R$ 1.029
- Hotel: R$ 5.500
- Alimentação: R$ 3.300
- Entrada Parques e Passeios: R$ 700
- Suvenir: R$ 800
- TOTAL: R$ 13.029 + R$ 6.000,00 = R$ 19.029,00
Dia 01 – São Paulo a Erechim – 900 km
Saímos às 05h30 de São Paulo, com muito medo do novo, mas na certeza de estarmos fazendo a coisa certa e no melhor momento. Também, que Deus estava conosco assim como todas as proteções dos nossos anjos da guarda.
Então, hora de encher o tanque de combustível e pegar estrada. Bem, neste ponto, as estradas não pedagiadas no Sul do Brasil estão em péssimas condições. Numa próxima viagem, entraremos na Argentina por Foz do Iguaçu – PR.
Dia 02 – Erechim a Paso de Los Libres – 644 km
Saímos sempre cedo, por volta das 6h. Numa viagem em casal, a parceria começa desde cedo. Levávamos em média de uma hora entre o acordar e estarmos no ponto de saída com a moto. Esse tempo era usado para a higiene pessoal, café da manhã e arrumar a moto.
Entramos na Argentina com tanquilidade, pois tínhamos todos os documentos em mãos.
Documentos pessoais: Passaporte, testes de Covid, seguro de vida cobrindo internação de covid, comprovante de vacinas contra covid.
Moto: Documento em nosso nome, placa Mercosul, carta verde (fizemos antes no Brasil pela própria corretora de seguro)
Na Argentina era noite de passagem de Ano e estava tudo fechado. Sim, cultura diferente do Brasil. Encontramos algumas horas antes um posto de gasolina aberto e compramos algumas coisas para passar o Ano no quarto do Hotel.
Dia 03 – Paso de Los Libre a Chivilcoy – 737 km
Já em território Argentino, enchemos os galões de gasolina reserva. Não precisa neste trecho, pois passaríamos por cidades maiores, onde encontramos postos a cada 50 km. Gasolina Argentina a R$ 2.90 a Premium (ano base de 2022).
Estradas ótimas e motoristas Argentinos com muito respeito aos motociclistas. Excelente sinalização e trafegamos muito tranquilos e seguros.
Neste trecho fez muito calor e ventou pouco. Importante planejar nas bagagens da moto espaço para momentos de frio e calor.
Dia 04 – Chivilcoy a General Roca – 940 km
Neste dia tivemos duas surpresas, sendo a primeira bater nosso Recorde em trafegar quilômetros com a moto num mesmo dia e também, o primeiro susto de pane seca.
Estamos falando do início do verão na Argentina, onde praticamente toda a Buenos Aires vai para casa de campo região dos Lagos Andinos. Então os postos de gasolina estavam cheios e, como estávamos mal acostumados com postos a cada 50 km, não demos conta que mudou todo o cenário. Pilotamos 200 km sem posto e quase tivemos pane seca. Portanto, fica a dica: após sair de Santa Rosa, abasteça sempre que parar para tomar uma água ou descansar.
Outra dica: a partir deste trecho, a infra muda totalmente, portanto sempre leve uma garrafa de água e alguma comida de emergência no caso de uma quebra de moto ou outra emergência. Levávamos sempre castanha/amendoim, pois ocupa pouco espaço e dá energia. Principalmente, ajuda a controlar a pressão em longos trechos sem alimentação.
Dia 05 – General Roca – San Martin de Los Andes – 520 km
Muitos dizem que a viagem realmente começa aqui. CONCORDO. Voltando um pouco no planejamento, a maioria dos viajantes segue dois roteiros para chegar a Ushuaia. Um pela Ruta 40 voltando pela RUTA 3 ou vice e versa.
Nossa opção foi ir pela Ruta 40, para aproveitar a magia da Cordilheira primeiro. Faria esse roteiro novamente.
Dica: o trecho de Neuquén até Bariloche é mais rápido, mas, não façam isso, pois irão perder um dos melhores pontos da viagem que fica entre Sant Martin e Bariloche.
Ainda neste trecho, tivemos contato com o vento forte da patagônia. Ao mesmo tempo, entramos na Ruta 40. Primeiro de muitos choros que viriam pela frente (risos).
Mas, nem tudo é paraíso numa viagem deste porte. Ao chegar a San Martin, todos os hotéis e pousadas estavam lotados. Conseguimos uma cabana às 23h.
Mas, ao jogar no GPS a localização, entramos numa subida de rípio, que levou a gente comprar um terreno em San Martin. Como a moto apenas tombou, nenhum dano na motoca ou em nós, apenas alguns leves arranhões.
Dia 06 – San Martin a Bariloche – 180 km
Essa rota é de filme. Foram diversos choros e emoções relembrando os desafios em vida e conquistas.
Essa é a rota dos 7 lagos, onde passa um filme na mente e no coração em cada curva da estrada. Reservamos o dia inteiro para percorrer este trecho, com diversas paradas e contemplação da natureza. Temos vídeos no nosso canal do youtube @andremototurismo e também fotos no Instagram @andremototurismo onde é possível acompanhar com maiores detalhes.
Dia 07 – Bariloche – dia off
Aproveitamos esse dia para fazer itens preventivos na viagem, como trocar óleo da moto, retirar dinheiro na Western Union, lavar roupas, andar um pouco a pé parar descansar o corpo da posição de pilotagem na moto.
Dia 08 – Bariloche a Perito Moreno – 800 km
Seguimos pela Ruta 40, com grande distância percorrida. Saíamos bem cedo, antes mesmo de ter o café da manhã no hotel. Uma dica importante: para dias longos, colocar uma meta de rodar 500 km até o meio dia. Para isso, é importante tentar sair do hotel por volta das 05h30. Lembre-se, os ventos da patagônia na parte da manhã são mais tranquilos, mas sempre olhem no app Windymap as condições para não colocar a sua segurança em risco.
Iniciamos neste trecho a avistar os Guanacos, animais característicos da Patagônia, em grande quantidade, mas grande mesmo. Com o passar dos quilômetros, é natural se acostumar com eles próximos à pista, mas a atenção tem que estar presente o tempo todo. Grande falha do motociclista é viajar dentro da viagem, mas a Patagônia não admite este tipo de falha. Portanto, atenção a todo tempo com os animais cruzando as pistas e os ventos laterais.
Dia 09 – Perito Moreno a El Calafate – 700 km
Dia Desafiador, para encarar os famosos e terríveis 73 Km de rípio que, para quem está na Ruta 40, não tem como fugir, ou melhor, outros trechos são piores, então é seguir realmente por este caminho.
O rípio fica entre as cidades de Gobernador Gregoris e Três Lagos, no qual é importante para quem está em viagem solo a casal, encontrar outro grupo ou parceiros para ajuda no caso de alguma emergência neste trecho.
Murchar os pneus para maior grip no rípio e também passar nos primeiros horários devido ao vento ser menos agressivos é uma boa dica.
Estávamos com uma Yamaha Midnight 950, moto estradeira, onde havia um risco iminente em cair com a moto e deixar todo nosso sonho e viagem para trás. Chegamos na entrada do rípio e mesmo sendo por volta das 10h o vento estava forte. Paramos por uns 2 minutos e passou um carro com uma família Argentina, no qual a Laura foi de carona e eu de moto. Foi a melhor escolha, pois num trecho estava ruim e a moto escapou por umas 3 vezes. Como estava sozinho, controlei a moto sem nenhum acidente. Mas certeza que se a Laura estivesse na garupa teríamos comprado um terreno.
Portanto, a grande resposta se é possível ir a Ushuaia com qualquer tipo de moto a resposta é sim, desde que saiba quais são os limites.
Dia 10 – El Calafate a Rio Gallegos – 550 km
No primeiro horário aproveitamos para conhecer o famoso glaciar onde realmente é uma beleza indescritível. Lembram que comentei sobre ter conhecido no trecho alguns motociclistas que não tinham nem tempo ou dinheiro para acessar esse parque? Na minha humilde opinião, é o mesmo que estar em Copacabana no réveillon e passar dentro de um quarto de hotel sem ver a queima de fogos. Ou seja, o Glaciar é algo imperdível!
Tivemos também a oportunidade de saborear o delicioso cordeiro assado da Patagônia.
No trecho de estrada, tivemos contato com o Nandu, uma espécie de Avestruz da patagônia, mas bem irracional. Cruza as pistas de uma forma insana. Tivemos umas duas passagens na estrada com muito medo de atropelar este animal e com certeza ter um grave acidente.
Rio Gallegos é uma cidade bem antiga, onde os hotéis são relativamente velhos. É importante caminhar para encontrar uma boa opção.
Dia 11 – Rio Gallegos a Ushuaia – 516 km
Dia que acordamos tomando um café bem reforçado, pois prevíamos que seriam cerca de 16 horas na moto e foi exatamente o que aconteceu.
Neste trecho cruzamos fronteiras e o estreito de Magalhães. Levem água e comida, pois não tem infraestrutura nas fronteiras.
É um trecho bem burocrático que, mesmo utilizando passaporte, é muito demorado, OK, acrescento o momento de pandemia devido a covid, mas de qualquer forma é muito demorado.
Mas, o fato de cruzar o Estreito de Magalhães, que faz parte da história do mundo, não tem preço. E ao ver as placas indicando que Ushuaia está cada vez mais próximo, o choro é inevitável.
Outra vantagem de se viajar no verão é que os dias são mais longos, pois chegamos no portal de Ushuaia as 22h00 e ainda estava claro. Aliás, não consigo imaginar pilotar de neve com garupa nas montanhas próximo a Ushuaia. Talvez seja algo impossível.
Enfim, Ushuaia. Mas voltaremos pela Ruta 3, portanto continuem acompanhando.
Dia 12 – Ushuaia – dia off
Dia off para conhecer a cidade, fazer alguns consertos na moto e também descansar. O tombo em San Martin rasgou o alforje, então aproveitamos o dia para conserto, utilizando kit básico de ferramenta e fita hellerman (enforca gato).
Também fizemos passeio de barco no Canal de Beagle e visitamos o Hard Rock Café, pagando R$ 12,00 no copão de Chopp (muito barato). Cafeterias de excelente qualidade e Cordeiro Assado.
Dia 13 – Ushuaia a Rio Grande – 250 km
Numa viagem até Ushuaia o clima é extremo e realmente é preciso ter respeito. O dia de saída estava frio e com neve, então aguardamos melhorar um pouco para ver como ficaria. Assim, saímos apenas às 14h. Recebemos informações que alguns que tentaram enfrentar o vento e frio, as motos tombaram paradas!
Mesmo à tarde, quando ficou mais tranquilo, quebrou a bolha de tanto vento, então ficamos numa cidade intermediária chamada Rio Grande.
Dia 14 – Rio Grande a Rio Gallegos – 270 km
Numa viagem deste porte é importante, caso existam compromissos profissionais como em nosso caso, que trabalhamos em regime CLT e funcionalismo público, fizemos nossa programação de viagem por 23 dias e retorno para SP numa quinta-feira. Portanto, tínhamos três dias para alguma emergência, sem impactar o compromisso profissional. E devido as condições climáticas, utilizamos um desses dias aqui.
Voltamos a Rio Gallegos. Quando chegamos na cidade, fomos jantar um delicioso chorizo Argentino de alta qualidade.
Dia15 – Rio Gallegos a Comodoro Rivadavia – 700 km
Seguindo pela Ruta 3, pegamos bastante vento, pois este trecho possui muitos caminhões e está exatamente no litoral do oceano Atlântico.
Atenção durante as passagens de caminhões, animais e principalmente do vento… Portanto é um trecho de deslocamento com poucas atrações e muita atenção à pilotagem na pista.
No final, aproveitamos para comer um lanche local à beira mar em forma Raiz.
Dia 16 – Comodoro Rivadavia a Puerto Madryn – 439 km
Acordamos bem cedo. Por sorte ficamos num bom Hotel que servia café da manhã às 6h. A cidade de Comodoro possui grande indústria de petróleo e, por isso, oferece uma boa rede de hospedagem para viajantes.
Neste dia, programamos conhecer os Pinguins, uma experiência única. Pegamos um trecho de 50 km de rípio bom, de modo que não precisamos pegar carona para chegar à pinguinera. Murcharmos os pneus e fomos tranquilos.
Ver os Pinguins em seu ambiente natural é algo sensacional e neste período do verão é quando os filhotes estão saindo do Ninho.
Dia 17 – Puerto Madryn a Santa Rosa – 769 km
Logo pela manhã fomos mergulhar utilizando snorkel, para ver leões marinhos. Para nossa surpresa, poucos motociclistas procuram esta atração, sendo que foi um dos pontos mais fortes da nossa viagem. A importante de estar próximo aos animais em vida selvagem é única!
Saímos de Puerto Madryn com destino a Santa Rosa por volta das 11h.
Mas nem tudo são rosas. Ao chegar próximo à cidade de destino já eram 18 horas e não encontramos vaga em hotel. Decidimos então andar mais alguns quilômetros até outra cidade, quando por volta das 21h realmente não tinha hotel ou infraestrutura.
Assim, paramos a moto em um posto de gasolina e dormimos numa cobertura de lanchonete. Sim, dormimos na estrada!
Mas é isso, trip de longo percurso tem destas experiências.
Para ver maiores detalhes sobre essa exériência, tem no Youtube Expedição ao Ushuaia Episódio 03.
Dia 18 – Santa Rosa a rosário – 670 km
Acordamos cedo, por volta das 5h, ou melhor, fomos acordados pelos barulhos do aumento do fluxo de carros na estrada.
Saímos com destino a Rosário, para conhecer locais diferentes do que tínhamos visto durante a vinda.
Rosário é uma cidade grande, com bastante infraestrutura, mas a prova de que a Patagônia já ficou para trás. Tinha estrutura, mas também bastante trânsito e questões normais de grandes cidades.
À noite fomos a um bar Rock’n Roll Temático.
É impressionante uma trip deste porte. Um dia se dorme com frio, fome e na Rua. No outro, se come hambúrguer artesanal, Chopp IPA, som e espaço temático de rock clássico, hotel com aquecedor e banheiro com Hidromassagem.
Dia 19 – Rosário a Uruguaiana – 650 km
Entramos no Brasil pelo Rio Grande do Sul.
O sentimento de saudade e dever cumprido começa a passar pela mente. Mas ainda tínhamos muitos quilômetros pela frente, então a atenção precisava permanecer.
Fizemos uma rápida viajem neste dia para chegar a tempo de trocar o óleo em Uruguaiana, afinal, já tínhamos rodado uns 5500 km.
Comemos feijão após 20 dias, mas ficamos tristes por voltar aos R$ 7.00 de Gasolina no Brasil!
Dia 20 – Uruguaiana a Gramado – 726 km
Seguimos pelo interior do Rio Grande Sul, enfrentando as péssimas condições das estradas não pedagiadas.
Mas chegamos à Rota Romântica subindo a BR-116, com agradáveis paisagens.
Ah, aconselharmos ir a Gramado em janeiro, pois ainda existe a decoração de Natal com os preços dos hotéis custando 1/5 dos praticados na Alta Temporada.
Dia 21 – Gramado a Floripa – 447
Este trecho fizemos pela Rota do Sol, onde é possível curtir as paisagens da serra gaúcha até chegar na BR-101.
Dia 22 – Floripa – dia off
Aproveitamos para conhecer a cidade sem a moto, utilizando transporte público e carros de APP
Dia 23 – Floripa a São Paulo – 742 km
Retorno de Floripa para São Paulo foi realizado por vias seguras e pedagiadas, então voltamos tranquilos até com uma parada clássica no portal da Graciosa.
Assim finalizamos nossa expedição ao Ushuaia, Com a certeza de que sofá não conta história, é preciso encarar nossos medos, tirar o sonho do papel e colocar em prática.
André e Laura
Youtube: @andremototurismo
Instagram: @andremototurismo
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