Expedição Machu Picchu

No dia 25 de junho, Tiziu, pilotando uma Kawazaki Versys 1000, Fabrício, com uma Honda TransAlp, Elizeu, pilotando sua Honda CB 300 e eu, com uma Honda NC 700X, partimos de Bom Despacho, MG rumo a Machu Picchu no Peru.

Seria a segunda vez que eu e Elizeu faríamos uma viagem de moto até Machu Picchu e a primeira de Tiziu e Fabrício.

Marcamos o local da partida defronte à Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bom Despacho e às 6h da manhã nos encontramos. Havia uma celebração na Igreja e aproveitamos para pedir ao padre Otaviano nos abençoar na nossa jornada. Após a bênção, partimos para o destino do dia, Rio Verde, GO, distante 767 km.

A viagem nesse dia rendeu bem. No triângulo Mineiro a temperatura subiu e o agradável frio da nossa região ficou para trás. No fim da tarde chegamos a Rio Verde, onde tivemos o privilégio de percorrer alguns quilômetros nas ruas da cidade até chegarmos ao hotel na companhia de uma arara azul, pena que a câmera posicionada na minha moto não conseguiu registrar.

Rumo a Rio Verde

No segundo dia, após o café da manhã, conversamos com funcionários do hotel que nos disseram que o caminho para Montividiu estava em obras e, após rápida troca de opiniões, decidimos seguir por Jataí, apenas 80 km a mais que para Primavera do Leste, que seria o destino do dia.

Saímos às 8h do hotel em direção ao posto de gasolina para abastecermos as motos e seguir viagem. De Rio Verde a Jataí, era pista dupla em excelentes condições. De Jataí em diante era pista simples, em razoável condições e alguns caminhões. Parecia nos avisar o que enfrentaríamos pela frente. Na primeira vez que vim para esses lados, passei por Montividiu, então esse caminho era novidade para mim também.

Chegando à divisa de Goiás com o Mato Grosso paramos perto da placa de divisa e, após algum tempo, o descanso da moto do Elizeu afundou no solo e tombou, quebrando o retrovisor e entortando o outro. Felizmente foi só esse prejuízo. Retrovisores trocados, fotos tiradas, seguimos viagem.

Divisa Goiás – Mato Grosso

Após passar por Rondonópolis (MT) pegamos pista dupla. Uma maravilha, mas só por alguns quilômetros após o pedágio. Depois era pista simples, obras para duplicação, carreta e mais carreta. Em Santo Antônio do Leverger (MT), cerca de 75 km de Cuiabá, tínhamos pela frente uma fila enorme de carretas para ultrapassar em um trecho de faixa dupla contínua. Como já passavam das 18h, resolvemos pernoitar naquela cidade. A prudência mandou ficar, afinal, estávamos apenas no segundo dia de viagem e seriam mais 20 pela frente.

No terceiro dia acordamos cedo por causa da diferença de fuso horário. Pensa numa turma palhaça para a qual qualquer vacilo vira motivo pra piada. Era essa. Muito bom viajar com esse pessoal, a risada é garantida.

Arrumamos a bagagem, tomamos café e saímos do hotel às 6h. O trânsito estava tranquilo comparado com o dia anterior.

Chegando a Cuiabá, paramos para tirar dúvida sobre o caminho a seguir e eis que apareceu do nada um irmão motociclista que ofereceu para nos guiar até o trevo e assim foi feito. Nosso agradecimento ao integrante dos Guardiões do Pantanal, Carlos Jorge, pela ajuda, senão estaríamos rodando por Cuiabá até agora.

Apoio em Cuiabá

O sol castigou, muito quente, o que nos fez abrir mão de almoçar e apenas tapear a fome com uma paçoca de carne que foi trazida de Bom Despacho. Apesar do calor, a viagem rendeu e chegamos a Pontes e Lacerda (MT) por volta de 15h. Após rápida troca de opiniões, decidimos ir mais adiante. Rodamos mais 200 km e pernoitamos em Comodoro (MT).

No quarto dia fizemos uma parada para abastecer antes de deixar a cidade e às 7h partimos em busca do destino do dia.

Antes de continuar falando sobre o dia de viagem, alguns comentários sobre o que vimos nos dias anteriores: ainda no Mato Grosso, vimos uma grande quantidade de acampamentos de sem terra às margens das estradas. Muitas barracas de lona, mas com carros e motos. Eu os defino, em sua grande maioria, como outra coisa que não vem ao caso. Outro assunto é sobre as reformas nas rodovias federais. Vários trechos em reforna, com sistema de pare e siga. Por sorte, só tivemos que esperar em um deles. Uma coisa que melhorou foi a frequência de postos de gasolina, aumentou em relação à minha primeira passagem por essas bandas em 2014 e agora há placas indicando a distância para o próximo posto de combustível. Outra coisa que é de entristecer é a grande quantidade de queimadas que havia entre Pontes e Lacerda e Comodoro. Foram vários focos e alguns colocavam em risco de acidente quem passava por determinados trechos, devido ao fumação que baixava sobre a pista.

Sobre o dia de viagem, o último trecho no estado do Mato Grosso estava excelente, mas foi só atravessar a divisa com Rondônia que a coisa piorou. Buraco em cima de buraco. Péssimo, horroroso. Alguns trechos estavam recapeados, mas eram muito mais curtos em comparação com os trechos esburacados e isso tornou a viagem tensa e cansativa, além do sol muito quente. Isso porque estávamos no inverno. Fico imaginando vir para esses lados no verão.

Fora isso, a viagem no dia transcorreu dentro da normalidade. Nas paradas, o Tiziu gravando seus vídeos para mandar para o pessoal que acompanha nossa viagem, juntando ele e o Elizeu para fazer a gente rir.

Chegamos a Ouro Preto do Oeste (RO) por volta de 16h. Após nos instalarmos no hotel, o mesmo que fiquei em 2014, Fabrício, Tiziu e eu resolvemos fazer uma caminhada na redondeza para tirar o estresse da estrada.

No quinto dia saímos um pouco mais tarde que o normal, por volta das 07h30. O café no hotel Brasil foi o diferencial, estava excelente. Após o café, seguimos com destino a Porto Velho (RO). A estrada, no geral, estava até boa, mas antes de Ariquemes tinha alguns trechos péssimos.

Chegamos a Porto Velho após o almoço e fomos direto para o aeroporto para que Fabrício e eu pudéssemos fazer nossa carteira internacional de vacinação. Primeira vez que pisava em um aeroporto. Documento tirado, seguimos à procura de casa de câmbio para trocar reais por dólares. Troca feita, seguimos viagem e, ao chegarmos a Jaci Paraná (RO), resolvemos ficar por lá mesmo.

No sexto dia saímos do hotel por volta das 07h30. Rodovia em Rondônia de ruim a péssima, mas até que deu para desenvolver uma velocidade boa e não agarrou o trajeto.

Chegando ao Acre a rodovia melhorou um pouco, mas continuou ruim. Ao chegarmos a Xapuri (AC), paramos em uma oficina para o Tiziu lubrificar a corrente da moto. No bate papo com o mecânico, fomos informados que estaria acontecendo um carnaval temporão em Brasiléia, nossa cidade de destino no dia.

Aproveitamos e fizemos uma visita à casa do Chico Mendes, líder seringueiro assassinado em sua própria casa em dezembro de 1988, onde fomos muito bem assessorados pela agora nossa amiga, Keliane, que nos contou a história do Chico Mendes.

Casa de Chico Mendes

Durante a visita levantamos a possibilidade de não encontrar vagas em hotel devido à festa em Brasiléia, previsão que se concretizou na nossa chegada. Nem em Brasiléia e nem em Epitaciolândia havia vagas. Procurei um amigo feito em minha primeira passagem por aqui em 2014, Carpeggiane, que nos deu suporte conseguindo um local para pernoitarmos, na casa do Bira, motociclista de Brasília, membro do moto clube Sem Juízo, também de Brasília, que trabalha no consulado brasileiro em Cobija na Bolívia, cidade que faz fronteira com Brasiléia. De pronto se pôs a nos ajudar, abrindo as portas de sua casa e nos recepcionando muito bem e a quem agradecemos muito a hospitalidade juntamente com sua esposa, a Val.

Antes de virmos para Cobija, Carpeggiane conseguiu suporte mecânico para o Tiziu verificar o problema do barulho na sua transmissão, através do Solivan, que virou nosso amigo e se dispôs a reabrir sua oficina após as 19h para nos ajudar. Mas não foi possível resolver o problema de imediato, pois a corrente precisava ser substituída e ele não tinha no estoque uma que servisse na Versys, o que foi resolvido no sábado pela manhã após vários contatos, encontrando a corrente em Rio Branco (AC).

Na oficina para troca da corrente da Versys

No sétimo dia, enquanto aguardávamos a chegada da corrente, fomos conhecer o X, amigo do Bira. Um senhor de idade, mas com a mente jovem, motociclista também. Por volta de meio dia retornamos à oficina para trocar a corrente, que nos custou um tempo para fazer a troca. Corrente trocada, retornamos a Cobija. Eram 14h pelo horário do Acre, 16h de Brasília e 15h em Cobija. Pensa que é fácil ficar mexendo com 3 fusos horários diferentes? Tem hora que dá um nó na cabeça.

Fomos almoçar na casa do Bira e, após o almoço e agradecimentos a ele e sua esposa pela recepção e carinho, partimos rumo ao Peru.

Bira nos acompanhou até a saída de Brasiléia, onde nos despedimos novamente. Situações como essa que nos faz crer que a humanidade ainda tem solução. Nunca nos vimos na vida, fomos apresentados por acaso, ele nos acolheu em sua casa, contactou o Solivan, que também prontamente nos atendeu reabrindo sua oficina após as 19h de uma sexta-feira e abrindo no sábado para nos ajudar. Ele não trabalha aos sábados e tinha um compromisso familiar pela manhã que adiou para nos ajudar. Ao Carpegiani, que foi quem iniciou os contatos para nos dar suporte de local para pernoitar, no apresentou ao Bira que nos apresentou ao Solivan que fez os contatos para encontrar a corrente da Versys em Rio Branco, o nosso muito obrigado. Fizeram a diferença para a gente e por isso temos orgulho de dizer que somos mais que motociclistas, somos verdadeiramente irmãos.

Saindo da casa do Bira em Cobija – Bolívia

De volta para a viagem, a estrada entre Brasiléia e Assis Brasil (AC) estava péssima. Chegamos quase às 17h na aduana, mas tivemos o azar de chegar depois de dois ônibus de turismo, um saindo e outro entrando no Brasil e depois o mesmo que saía do Brasil e entrava no Peru topamos na aduana peruana. Quando conseguimos resolver a burocracia já eram quase 19h, então resolvemos dormir em Iñapari, mas não sem antes ter que quase brigar para ficar lá, já que os oficiais da aduana não queriam nos deixar voltar para a cidade, a aduana fica na saída. Negociamos com a condição de passar lá novamente às 5h da manhã para seguir viagem.

No oitavo dia tivemos que madrugar pelo horário local para sairmos no horário acordado com os oficiais da aduana. Pegamos a liberação dos veículos e seguimos estrada com forte cerração até o sol aparecer. Passamos por várias cidadezinhas no meio do caminho e percebemos que aquele país, que tem belas paisagens, várias riquezas naturais, precisa melhorar muito ainda na infraestrutura das cidades.

Na subida da Cordilheira dos Andes, pegamos um trecho com chuva e a temperatura despencou. Na medida em que subíamos, a chuva virou neve e a temperatura marcada na moto do Tiziu era de -4ºC. Tirando o frio, a sensação de pilotar com neve caindo é única, mas perigosa se não estiver bem equipado.

Após a nevasca que pegamos na Cordilheira dos Andes

Passavam das 17h quando fizemos uma parada para tomar um café para aquecer. A nevasca cessou e o sol apareceu por alguns minutos. Devido ao frio e ao adiantado da hora, resolvemos dormir em Haumayani, um povoadozinho a 4200 metros de altitude e sem banho quente. Foi a nossa única opção e todos dormiram sem banho. Estávamos a 120 km de Cusco, onde tomaríamos o banho no dia seguinte.

No nono dia de viagem amanheceu mais quente, 3°C. Tomamos o café e às 07h30 seguimos rumo a Cusco. A sensação térmica era abaixo de 0ºC. Paramos algumas vezes devido ao frio e também para os registros fotográficos. Após pouco mais de 2 horas chegamos a Cusco e decidimos resolver a questão das entradas para Machu Picchu e a passagem do trem, para irmos no dia seguinte. Tiziu, Fabrício e eu fomos fechar a ida. Por já conhecer a cidade inca, Elizeu resolveu fazer um tour por Cusco.

Na parte da tarde andamos pela cidade de Cusco para conhecê-la melhor.

No décimo dia, às 3h30 da madrugada, uma van nos esperava para irmos a Ollantaytambo, onde pegaríamos o trem. Chegamos naquela cidade por volta de 5h40. O trem partiu pontualmente às 06h10. Por volta de 07h50 chegamos a Águas Calientes e fomos direto para o ônibus para subir até a entrada do parque. Enquanto isso, Elizeu fazia um city tour por Cusco em um ônibus panorâmico.

Machu Picchu é um lugar fantástico. Ficamos andando por lá até por volta de 14h. Após algum tempo, já fora do parque, Tiziu e Fabrício decidiram retornar ao interior – tem direito a um reingresso -. Eu resolvi ficar de fora para procurar alguma coisa para comer. Custei, mas achei uma ambulante escondida no acesso à trilha, local onde o pessoal vem a pé de Águas Calientes até a entrada do parque. O parque fecha às 17h, que foi quando o Fabrício e o Tiziu sairam. Pegamos o ônibus de volta e tivemos que ficar de castigo até às 20h50, horário de partida do trem para Ollantaytambo.

Após a chegada naquela cidade, ainda tivemos que ficar mais um tempo de castigo até a van sair de volta a Cusco, onde chegamos mais de 2h da manhã.

O décimo primeiro dia foi de recuperação da caminhada em Machu Picchu. Eu e o Tiziu fizemos um passeio em um ônibus panorâmico onde pudemos conhecer mais alguns lugares das redondezas, como o local que cuida de animais silvestres vítimas de maus tratos, como ursos andinos, lhamas, vicuñas, côndor, Puma, entre outros. Fabrício e Elizeu ficaram pela cidade.

O dia seguinte recolocamos as motos na estrada e o destino era Puno. Seria Nazca pela programação, mas devido ao problema na corrente da moto do Tiziu em Brasiléia, quando perdemos um dia da programação, optamos por abrir mão do passeio a Nazca.

Arrumamos a bagagem nas motos, tomamos o café e seguimos viagem. Fizemos algumas paradas para tirar fotos, esticar as pernas e observar as paisagens espetaculares da Cordilheira dos Andes. Paramos para almoçar. Elizeu, Fabrício e Tiziu comeram um prato de cordeiro com batatas e eu fiquei apenas num pacote de bolacha com Inka Cola.

Alguns quilômetros depois da parada do almoço, chegamos a Juliaca. Pra mim, a cidade mais feia e com o trânsito mais caótico do Peru. Achei que após 3 anos as ruas da cidade tivessem melhorado a pavimentação, mas continua do mesmo jeito. Semáforo é enfeite, ninguém pára no vermelho. Quem chega na frente passa e se não passar rápido, o outro passa por cima. A polícia de trânsito fica concentrada só onde o trânsito flui mais normal, se é que podemos dizer isso.

Enfim, depois do desgaste de atravessar Juliaca, chegamos a Puno por volta das 15h40. Achamos um hostel próximo ao centro e deixamos as motos na recepção e no hotel mesmo fechamos o passeio para o Lago Titicaca na manhã do dia seguinte.

Nas Islas de Uros

Após o café, no décimo terceiro dia saímos para o passeio no Lago Titicaca. A van nos buscou na porta do hotel e nos levou ao porto, onde pegariamos a embarcação. 30 minutos após a saída da embarcação, chegamos às islas flotantes de Uros. Lugar bacana. A engenharia deles é interessante. O guia nos falou sobre a história do local e fizemos um passeio por lá. Vale muito o passeio e é muito barato.

Após o passeio saímos em direção à Bolívia e chegamos na fronteira por volta de 16h, mas a morosidade foi grande. Saímos por volta de quase 18h, além de ter tido que pagar 5 soles de “taxa” para sair do Peru, coisa que só existe naquela fronteira, pelo lado do Chile não existe e pior que é “taxa” legalizada, recebemos um canhotinho como comprovante do pagamento. Dormirmos em Desaguadero, que fica no lado boliviano.

No décimo quarto dia saímos de Desaguadero com uma temperatura de -8ºC, e uma sensação térmica bem mais baixa. Paramos algumas vezes para esquentar e curtir as paisagens também.

Chegando à Bolívia

As dificuldades começaram quando paramos no primeiro posto, onde não tinha gasolina. Seguimos em frente e encontramos vários postos que não tinham gasolina ou não quiseram abaster nossas motos por sermos estrangeiros. Finalmente, depois de muitas tentativas, encontramos um que aceitou abastecer os tanques e os galões ao preço de 6 bolivianos. Ficamos igual bobos parados, parecia que seria de graça, que não íamos pagar. Esperamos atender os demais veículos para encher os galões e quase que não deu para abastecer todas as motos. Devido a essa dificuldade, decidi que não volto mais à Bolívia, enquanto continuar essa babaquice com o abastecimento de veículos estrangeiros.

Depois encontramos cerca de 40 km de rodovia em reforma, trecho péssimo, que deixou o dia cansativo e esse foi o pior dos 14 dias. Nem os buracos e o calor de Rondônia foram páreos para o trajeto daquele dia. Enfim, no início da noite, chegamos a Cochabamba e, pra variar, mais um hotel que não oferecia Wi-Fi. Tive que sair andando para encontrar uma rede para poder comunicar com familiares e escrever no blog.

No décimo quinto dia saímos cedo de Cochabamba. A temperatura começava a aumentar, trechos com paisagens magníficas, coisas de Deus realmente. Várias cidadezinhas pelo caminho e foi em uma delas que paramos para trocar o óleo da TransAlp do Fabrício e aproveitamos e compramos gasolina do mecânico também, já que nas “estaciones de servicio”, além de correr o risco de não conseguir abastecer, era cobrado sempre acima de 8 bolivianos, chegando até a quase 10 bolivianos.

Parada para abastecer as motos em um posto alternativo na Bolívia

Chegamos a Montero no fim do dia. Estávamos procurando hotel quando apareceu um casal de brasileiros, Rosano e Thais, que estudam na Bolívia. Puxando papo, conversa vai, conversa vem, eles que moram em Santa Cruz de la Sierra, se ofereceram para nos guiar até um hotel naquela cidade. Após nos deixar no hotel e acompanhar Fabrício e Tiziu até um caixa eletrônico para sacar dinheiro, foram para sua residência. Ficamos no hotel indicado por eles, o mais caro no trecho boliviano, mas era a opção que tínhamos para facilitar nossa saída da cidade no dia seguinte.

No décimo sexto dia acordamos cedo e saímos antes das 7h da manhã para evitar trânsito pesado. Exceto uma montanha próximo a Roboré, não vimos mais paisagens bonitas na Bolívia.

No trecho entre San José de Chiquitos e Roboré, encontramos um colchão embalado no plástico caído na rodovia. Após 1 km aproximadamente, vimos o caminhão do qual o colchão havia caído, que estava para perder mais dois colcões. Fabrício o alcançou e sinalizou para pararem enquanto Tiziu voltou para pegar o colchão e devolveu aos seus ocupantes, funcionários da prefeitura local, que com certeza iriam ter que pagar pelo prejuízo da perda. Fizemos a boa ação do dia.

Antes desse episódio, o dia foi tenso pela escassez de gasolina. Não enchi o tanque em Santa Cruz, quase 9 bolivianos o litro e o dinheiro que dispunha era pouco para abastecer nesse valor. Após uns 150 km vi que já já pegaria reserva, comecei a tentar abastecer e no único posto que encontramos, “no hay gasolina”. Pensei: atolei agora. Andamos mais alguns quilômetros e a reserva começou a piscar, aí que pensei que a vaca ia pro brejo.

Chegando a “alguma coisa” del tigre, entrei para saber onde encontrar gasolina. Já estava no limite e se ali não tivesse, não conseguiria chegar a San José, cerca 110 km adiante. Por sorte encontramos um brasileiro, provavelmente residente na região, que nos ajudou a encontrar o local que vendia gasolina. Coloquei 10 litros no tanque e enchi o galão de 5 litros ao preço de 6 bolivianos o litro com os meus últimos 90 bolivianos. Dali até a divisa, precisaria achar algum local para câmbio de moeda ou contar com a ajuda dos companheiros de viagem para emprestar bolivianos. Mas eles também estavam com a moeda local insuficiente para o restante da viagem. Todos aproveitaram e abasteceram também. Só tenho uma coisa a dizer, obra de Deus que nos guiou até o local certo, já que havíamos passado por umas 2 vilazinhas após o posto que não tinha gasolina, quando pensei comigo, seja o que Deus quiser.

Outra providência Divina: chegando a San José de Chiquitos, enquanto o Tiziu tentava sacar dinheiro no caixa eletrônico, um senhor cujo nome acabei me esquecendo, se apresentou e nos ajudou a trocar real por bolivianos e ainda nos arrumou um local para comprarmos gasolina a 6 bolivianos. Aproveitei para colocar mais 5 litros e continuar carregando o galão cheio, seria e foi suficiente para cruzar a fronteira. Fabrício ainda precisou parar mais uma vez para abastecer a moto para acabar de chegar.

Paramos para beber água e, por sorte, o cara também vendia gasolina. Após o drama da gasolina, finalmente chegamos a Corumbá (MS), de volta à Pátria Amada Brasil. Como a aduana boliviana já havia encerrado o expediente, já eram quase 20h, tivemos que voltar no dia seguinte para dar saída da Bolívia e só depois iniciar o caminho de volta para casa.

Após acharmos o hotel, fomos a um restaurante matar a saudade da comida brasileira, principalmente do feijão. Só quando saímos do país e conhecemos outras culturas é que vemos que, apesar de ter um bando de fdp no governo, em todos os poderes da república, o Brasil é bom demais e que aqui comemos bem demais, diversidade de comida aqui é sem comparação.

Mais uma aventura que entra na reta final. Valeu demais esse passeio por Peru e apesar do problema com a gasolina, pela paisagem e o povo boliviano, tirando os motoristas roda dura, valeu também a passagem pela Bolívia.

No décimo sétimo dia, saímos por volta de 8h rumo à fronteira. Apesar da fila, os trâmites foram rápidos para dar saída da Bolívia, mas ao chegar na aduana brasileira, primeiro nos mandaram para a fila errada, onde após cerca de 30 minutos fomos informados que a fila seria a outra. Lá fomos nós para a outra fila onde ficamos mais alguns minutos e finalmente formalizamos o regresso ao Brasil.

Finalmente, por volta das 10h30, seguimos pela BR-262 com o cronograma comprometido pela “agilidade” da aduana brasileira.

Paramos para almoçar na tenda da Dona Maria do jacaré, que já foi entrevistada por diversos programas da Globo e da Record, por cuidar de vários jacarés, inclusive vários têm até nomes. Claro que aproveitamos e tiramos fotos com ela, celebridade, rsrsrs. Almoço bom e barato, recomendo para quem passar por lá.

Na tenda da Dona Maria do Jacaré no Mato Grosso do Sul

Um detalhe do trajeto era uma quantidade considerável de animais atropelados, nós mesmos nos deparamos com uma cobra atravessando o asfalto, fora as capivaras.

Seguimos caminho e, por volta de 17h20, paramos num hotel na entrada de Campo Grande, onde decidimos dormir. Rodamos cerca de pouco mais da metade do que estava previsto no dia.

No décimo oitavo dia, para um dos integrantes, o dia começou mais cedo. Por volta de 05h30 da manhã, Fabrício pegou estrada, pois queria chegar ainda naquele dia a Bom Despacho percorrendo os 1.156 km que faltavam. Tiziu, Elizeu e eu pegamos estrada por volta de 07h30 da manhã, como de costume. Sabíamos que não conseguiríamos finalizar a jornada naquele dia, mas tínhamos a intenção de percorrer a maior distância possível.

Seguimos rumo a nossa terra, Minas Gerais, por uma rodovia em condições razoáveis a boa, mas foi bem cansativo pelo fato de ter retas intermináveis.

Chegando a Minas, Elizeu optou por passar por Uberaba por ser mais perto que por Uberlândia. Assim fizemos e a intenção era alcançar ao menos a cidade de Frutal antes do anoitecer, mas ao passarmos por Itapagipe, resolvemos ficar por lá e encontramos um hotel bem no jeito. Cidade bacana, agradável.

Saímos para aproveitar a última noite juntos, Elizeu e Tiziu tomando sua cerveja e eu na Coca-Cola. Depois fomos a um restaurante com comida boa e preço muito bom.

Por volta de 21h tivemos notícia que Fabrício já havia chegado a Bom Despacho. Para os 3 mosqueteiros, a jornada ainda reservava mais um capítulo.

No décimo nono e derradeiro dia saímos como de costume, por volta de 07h10. Antes de chegarmos a Uberaba, a rodovia estava em condições de ruins a péssimas, sem buracos, mas com várias saliências no asfalto, resultado de vários tapa buraco realizados na via, mas também devido ao tráfego pesado de caminhões de transporte de cana.

Paramos para almoçar próximo a Campos Altos e, no pedágio, encontramos um amigo, o Telmo, que hoje dedica a dirigir caminhão pelo Brasil afora. Batemos um breve papo, seguimos caminho e por volta de 15h30 chegamos a Bom Despacho e, assim como na saída, a chegada se deu defronte à Matriz Nossa Senhora do Bom Despacho.

E assim terminou nossa jornada da Expedição Machu Picchu. Chegamos bem e inteiros, do mesmo modo que saímos.
Resumindo, foi viagem excelente. 8.328 km rodados em 19 dias de uma excelente aventura, quando tivemos alguns contratempos, passamos calor, passamos frio e passamos muito frio. E tivemos a experiência de andar de moto com neve caindo. Agora é planejar a próxima.

Mais detalhes sobre nosso roteiro e preparação no blog: http://expedicaomachupicchu2017.blogspot.com.br


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