O sonho de muitos motociclistas brasileiros, e também de todo o mundo, é ter a oportunidade de viajar e aproveitar ao máximo as belezas que compõem a Cordilheira dos Andes na América do Sul. Muitos buscam uma moto ideal para essa jornada, economizam uma quantia financeira alta e pensam que tal empreitada demanda muito tempo e dinheiro. Mas e se de repente tudo isso fosse percorrido em uma pequena e notável moto de 150cc e com pouco dinheiro? No decorrer do texto vocês constatarão que isso é possível. E acreditem… tudo feito com muito prazer.
Meu nome é Alisson Henrique Campos, sou brasileiro de Minas Gerais, tenho 26 anos e durante 48 dias percorri 17 mil quilômetros de estradas de 6 países, onde conheci em uma única viagem com minha CG 150 Fan lugares como o Pantanal, Carretera de la Muerte, Lago Titicaca, Machu Picchu, La Portada e La Mano del Desierto, Oceano Pacífico, Salar de Uyuni, Deserto do Atacama e diversos outros lugares fantásticos da Cordilheira dos Andes.
Muitas pessoas sonham com uma viagem dessas, mas por medo do desconhecido e por falta de coragem em se arriscarem, diversas vezes acabam não realizando seus grandes sonhos. Logicamente se necessita de planejamento para pegar a estrada e viver 48 dias longe de casa, ainda mais quando não se possui muitos recursos financeiros. Mas é justamente disso que vou falar um pouco… além de contar alguns relatos da minha viagem de moto, claro.
Saí de minha casa na cidade de Patrocínio (MG) no mês de setembro passado. Fui viajando e curtindo as paisagens pelos Estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Estes últimos me surpreenderam com suas belezas únicas da flora e fauna do Pantanal. Rodei pelas famosas Transpantaneira e Estrada Parque e aconselho aos amigos, compensa e muito esta viagem.
Entrei na Bolívia pela divisa em Corumbá (MS), onde encarei mais uma grande reta até a cidade boliviana de Santa Cruz de la Sierra. Fui conhecendo lugares como La Higuera, onde morreu Che Guevara, Cochabamba e La Paz. Percorri estradas fantásticas e repletas de curvas e com muita terra na Cordilheira dos Andes e fui seguindo até o Lago Titicaca. Conheci a cidade de Copacabana e realizei vários passeios por lá, conhecendo as místicas ilhas incas.
A aventura continuou pelo Peru, onde conheci estradas maravilhosas e as ilhas flutuantes de Los Uros, além de vários sítios arqueológicos até chegar à cidade sagrada dos incas, Machu Picchu. Era o ápice da expedição, já que foi batizada em homenagem ao povo inca, que dominou, durante um longo tempo, a região dos Andes.
Acelerando a moto, fui seguindo viagem sentido Sul até chegar à divisa com o Chile, o quarto país abrangido pela expedição. O Deserto do Atacama já me envolvia. Acampei no deserto por algumas noites, e no Chile pude rodar por rodovias maravilhosas, sem nenhum defeito e de vez em quando, nas margens dessas rodovias, me deparava com monumentos diferentes e bem exóticos, paradas garantidas para fotos e recordações por toda a vida. Segui em direção ao sul até que cheguei à cidade litorânea de Antofagasta, onde conheci o monumento natural La Portada, de beleza inigualável, e logo depois a tão sonhada Mano del Desierto. Muitas fotos e mais um dia de acampamento.
Retornando à Bolívia, conheci vários salares e lagunas pelo caminho, sem falar nas grandes altitudes enfrentadas. Fui rodando até chegar à cidade de Uyuni, onde passei a noite e no dia seguinte visitei lugares como o cemitério de trens e o maior salar do mundo, o surpreendente Salar de Uyuni.
Depois disso foi a vez de seguir novamente para a fronteira com o Chile e conhecer a cidade de San Pedro de Atacama, passando pela Reserva Nacional Eduardo Avaroa, onde estão as mais famosas lagunas do Atacama.
Mas nem tudo são flores. Acampei no caminho e no dia seguinte acordei com um dia maravilhoso, um nascer do sol fantástico no deserto, mas a moto teve problemas e não ligou. Depois de esperar por mais de três horas, consegui socorro. Coloquei a moto em uma caminhonete e segui até o Chile, onde consertei minha moto e pude seguir viagem, ainda com problemas, mas devagar e sempre fui percorrendo o roteiro planejado.
Depois de semanas na estrada, cheguei à Argentina, país onde mais uma vez fiz amigos. Rodei bastante até vencer o último trecho de altitude em Jujuy e logo após fui contemplado com grande beleza nas regiões de Purmamarca e San Salvador de Jujuy. Logo após, chegou a vez de enfrentar uma reta com mais de 500 quilômetros pelos pampas argentinos, até chegar a Resistência e, enfim, seguir rumo ao Paraguai.
No Paraguai, mais uma vez fiquei na casa de amigos, e em seguida fui rodando e me readaptando ao clima mais quente, até entrar no Brasil e chegar à minha casa.
Retornando ao assunto de realizar sonhos e enfrentar as dificuldades, tenho algo a dizer para os amigos e leitores: quando se quer realizar uma grande viagem, logo no início do planejamento nos deparamos com três grandes dilemas: dinheiro, tempo e saúde. Costumo dizer algo e considero isso um fato consolidado. Nunca teremos estes três requisitos, porque na grande maioria das vezes se temos dinheiro, não temos tempo e vice versa. E se tivermos os dois e não tivermos saúde, a aventura não poderá ser mais concretizada.
Então amigos, planejem bem, economizem o necessário e vivam. Aproveitem a vida agora, enquanto têm saúde, enquanto têm tempo. O dinheiro se recupera. Não deixem de viver seus grandes sonhos.
Tudo isso que realizei foi feito em 48 dias, gastei pouco mais de 4 mil reais com tudo e retornei muito bem para casa.
Como dizia meu finado amigo Guillermo Godoy: “- Querer é poder!”. Se você realmente quer, você é capaz de realizar seus sonhos. Assim como fiz mais uma vez a bordo de minha pequena Honda CG 150cc Fan, batizada como Poderosa.
Desejo boa sorte a todos, e que este breve relato com algumas fotos sirva de inspiração para outros aventureiros… Valeu!!!
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