Argentina e Chile compartilham mais de cinco mil quilômetros de fronteira e a Cordilheira dos Andes atua como um limite natural entre aqueles países, com paisagens belíssimas dos dois lados da divisa. Essas belezas naturais e o desejo de aventura atraem motociclistas de todo o mundo, dentre eles, os brasileiros.
O motociclista paulistano Kléber Cunha fez uma viagem de 7.400 km durante 22 dias pelas estradas de Brasil, Argentina, Chile e Paraguai pilotando sua Honda XL 700V Transalp, “La Poderosa”, como ele a chama, atravessou a Cordilheira dos Andes para chegar ao Oceano Pacífico.
A seguir, Kléber descreve a viagem, as imagens e fatos mais marcantes que registrou durante a viagem:
A viagem
“Considero que as passagens pelas fronteiras foram normais. Do Brasil para a Argentina e vice-versa, foram bastante rápidas. Do Chile para a Argentina foi um pouco mais demorada porque são vários passos e a fiscalização é muito mais rigorosa.
Os três primeiros dias, depois que cruzei a fronteira com a Argentina, foram bastante difíceis. Ventava muito na estrada e eu não conseguia render o que havia imaginado. Fazia muito frio, encontrava muitas dificuldades de adaptação, estava ainda meio perdido. Um dos grandes dias da viagem foi quando meu corpo começou a se adaptar melhor e, de Carcaranã em diante, estava adaptado à ventania e ao frio. Naquele dia, senti que tinha recuperado o domínio da situação.
Chamou-me a atenção, ao longo das estradas, muitas placas sobre as Ilhas Malvinas, deixando claro o sentimento do povo argentino sobre o assunto: “LAS MALVINAS SON ARGENTINAS”.
O Parque San Martin, em Mendoza, é fantástico, com muitas atrações nos finais de semana, e a imagem das Cordilheiras dos Andes ao fundo o torna lindo.
Subindo pela Ruta 7, me emocionava a cada momento, com as lindas montanhas e os lagos de água azul. O ponto mais emocionante foi no encontro com a neve, a uma temperatura de 8 graus negativos. As lágrimas caiam de tanta emoção, era a Cordilheira dos Andes dando as boas vindas. Passei pelo túnel internacional e cheguei ao Chile, emocionado e com um sonho de criança realizado. Apesar da temperatura baixa, que me fizeram ficar com a pele queimada, percorrer Los Caracoles, com a Cordilheira coberta de neve, foi o momento mais emocionante da minha vida. Chorava como uma criança, que tinha acabado de nascer, uma felicidade inigualável.
Santiago é fantástica, limpa e organizada. Conheci o Palácio de La Moneda e o Mercado Municipal, as principais atrações da capital chilena, do meu ponto de vista. Em Vina Del Mar e Val Paraíso encontrei o Oceano Pacífico. Os restaurantes e barzinhos à beira mar são fantásticos.”
Contratempos
“Por engano, entrei numa vila (favela) argentina e fui abordado por policiais, que me disseram que eu estava numa vila muito perigosa, semelhante às favelas cariocas. Depois me levaram até a saída.
Em Rio Cuarto, quando fui pedir informações sobre Hostel, torci o pé e a moto tombou, mas logo me ajudaram a levantar. Em Mendoza, me perdi na cidade por quase duas horas, mas consegui achar o Hostel em que eu estava. No retorno, havia planejado pernoitar em Villaguay , mas não vi a pequena placa sinalizando para a cidade e passei reto, percorrendo 40 km errado.
O grande drama foi no Paraguai, onde tive a sensação de ser preso por alguns minutos, caindo na corrupção das autoridades paraguaias. Em Posadas, decidi que ia entrar no Paraguai pela cidade de Encarnación, para conhecer o país. Atravessei a ponte internacional e fui em direção ao posto de migração. Pedi “mi papelito de migracion”, mas o agente disse não haver necessidade de identificação e me mandou seguir adiante. Na saída do país, para voltar à Argentina, sem o “papelito”, fui levado para a base e lá me disseram que eu seria preso e encaminhado para a delegacia por estar ilegal em território paraguaio. Passados alguns minutos, disseram que seria liberado pagando uma multa de 119 guaranis. Como eu não tinha guaranis, disseram que era equivalente a 150 Reais. Eles aceitavam diversas formas de pagamento, até cartão de crédito, e diziam que na delegacia a coisa ficaria “mais feia”. Depois de muita negociação, fui liberado por 20 Reais e, assim, segui a rota, me despedindo do pais hermano.
Graças a Deus, a viagem transcorreu sem nenhum acidente e a moto foi impecável todo o tempo.”
Pessoas
A beleza do sul do Brasil, as lindas cidades argentinas e chilenas, montanhas, lagos e o Oceano Pacífico atraíram a atenção de Kléber. Mas a sua sensibilidade permitiu que percebesse bem mais que apenas paisagens.
“Senti a cultura da Argentina na pele. É muito interessante, quando você atravessa um país, encontrando diversas culturas, que vão mudando e se apresentando durante a rota. O contato com as pessoas foi fantástico e inesquecível. Conheci grandes histórias e pessoas com grandes sonhos. Encontrei pessoas bem estruturadas, uma classe média lutando por melhorias e também vi a pobreza de perto. Mas independente da classe social, encontrei sempre aquele grande sorriso no rosto, me desejando “suerte”. Em Villaguay, fiz grandes amigos no Moto Clube La Rocca, que me ajudaram muito. Em Mendoza, conheci grandes pessoas, como ocorreu durante toda a viagem, mantive contato com pessoas inesquecíveis que me proporcionaram momentos marcantes. Em Santiago, tive apoio de meu tio e minhas primas que moram lá e pude conhecer de perto o povo chileno. Diria que o contato com as pessoas foi algo que me marcou por toda a vida. Tudo na vida passa, mas no final ficam sempre os grandes momentos e as grandes pessoas”.
Mais Detalhes – Cordilheira dos Andes
Moto: Honda XL 700V Transalp
Distância percorrida: 7.400 km
Duração: 22 dias.
Estado brasileiro percorrido: São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Países percorridos: Brasil, Argentina, Chile e Paraguai.
Roteiro
1º dia – São Paulo – Bandeirantes/PR
2º dia – Bandeirantes – Foz do Iguaçu/PR
3º dia – Foz do Iguaçu – Jardín América (ARG)
4º dia – Jardín América – Yapeyu (la tierra sin males)
5º dia – Yapeyu – Villaguay
6º dia – Villaguay – Carcaranã
7º dia – Carcaranã – Villa Mercedes
8º dia – Villa Mercedes – Mendoza
9º dia – Mendoza
10º dia – Mendoza – Santiago (CHI)
11º dia – Santiago
12º dia – Vina del Mar
13º dia – Valparaiso
14º dia – Santiago
15º dia – Santiago – Mendoza (ARG)
16º dia – Mendoza
17º dia – Mendoza
18º dia – Mendoza – Rio Cuarto
19º dia – Rio Cuarto – Villaguay
20º dia – Villaguay – Itaqui/RS
21º dia – Itaqui – General Carneiro/PR
22º dia – General Carneiro – São Paulo/SP
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