Assunção – Paraguay

Quando soube do passeio até Assunção no Paraguai, organizado pelo Harley Owners Group – HOG – Chapter Campo Grande, da concessionaria ROTA-67 no MS, fiquei curioso. Será que dá tempo de ir junto?

Sempre se lê relatos de motociclistas que fizeram viagens e programas pelo Uruguai, Chile e Argentina, mas Paraguai? Estava ai o desafio! O receio é ser surpreendido por guardas atrás de propinas ou ter problemas com as autoridades. Lembrei das orientações que li anteriormente de um colega motociclista, que foi sozinho àquele País. Sabia sobre os dramas ao se aventurar por um país que não é o preferido pelos brasileiros para passeios de moto.

Recomendações do HOG: passaporte ou RG com foto recente, Carteira de habilitação, documento do veículo em nome do piloto, carta verde (seguro contra terceiros) e permisso para entrar no País. De cara eu não tinha passaporte, mas renovei o R.G.. A carta verde é feita direto com a seguradora da moto e o permisso na fronteira. De uma semana para outra, contactei a concessionária, recebi as instruções, confirmei minha ida e fui.

Parti um dia antes, pois iria encontrar o pessoal (cerca de vinte motos) na fronteira. Eles saíram de Campo Grande e eu sai de São Paulo. Foram 1200 km até Ponta Porã.

Sai de São Paulo de tarde, dormi em Presidente Epitácio e segui para o MS. Fui pela BR-267, que me levou até Nova Alvorada do Sul.

Ao contrário do que me disseram, havia na estrada postos suficientes para abastecer minha moto. Nesta viagem, eu me preparei e levei combustível extra. Daí fiquei mais corajoso com a autonomia.

Os últimos 100 km de estrada foram os mais difíceis para mim. Lutava contra o vento, que ainda passava pelo motor e queimava minha perna esquerda. A paisagem ao longo da estrada era de plantações de grãos, além de muitos Ipês amarelos. Fiz um caminho diferente de meus colegas, que vieram por Maracajú e eu por Dourados no MS. Muita reforma nas estradas por lá. Mas é bem transitável.

Me encontrei com a turma na quinta-feira, na hora do almoço, no Cassino Amambay Hotel, que fica em Pedro Juan Cabalero. Chegamos juntos, debaixo de sol escaldante e ventos laterais que me fizeram dirigir inclinado. Em Ponta Porã a divisa é extensa e, ao atravessar a rua, você sai e entra no País com facilidade.

Feito o check-in, saímos em turma para almoçar na tal Casa China. Um hipermercado de compras no Paraguai que tem uma ótima praça de alimentação. Dia quente de sol e todos curtiram muito as motos, inclusive com comprinhas de acessórios. Depois do almoço, uma passada na imigração de Pedro Juan para tirar o permisso.

Uma folhinha emitida na mão demonstrando que está registrado no computador da imigração Paraguaia. É muito importante relatar a saída do Paraguai ao sair daquele País, caso contrário, em uma próxima vez, será cobrada uma multa para entrar novamente. Aí ví vantagem em ter passaporte, pois fica o seu comprovante de saída.

Existe uma loja especializada em acessórios para Harleys por lá. Ficava próximo ao hotel. Eles me ajudaram muito, pois na sexta às 18 horas, percebi que havia perdido o parafuso que trava o banco da minha moto. Foram eles que me arrumaram outro naquele horário.

Também passamos em uma loja de câmbio para cambiar dólar por guaranis, pois alguns postos não aceitam cartão. Hotéis recebem dólar também. E assim, a festa já começou na quinta, jantamos no hotel, comida muito boa e até fizemos uma visitinha ao cassino.

Sexta cedo, saída para Assunción. O grupo recebeu de cortesia da Porto Seguro um guincho para acompanhar a viagem, porém, na saída, ainda não estava com a carta verde em mãos. Resultado: o motorista foi mais tarde, separado do grupo, e teve problemas com a policia, que “achacou” uma propina. O grupo nesta hora é importante.

Saímos em 20 motos e mais 3 carros e foi uma viagem tranquila.

Seguimos de Pedro Juan pela Ruta 5 até Ybi Yaú. Trecho de paisagens bucólicas, com muito verde, asfalto muito bom e pecuária. Diversos Ypês, que desse lado são roxos. Pela falta do sol e cronograma, não parei para fotos. Fica só para a memória do motociclista.

Vi algumas casas de fazenda junto a currais de gado e muitas formações rochosas pelo lado esquerdo, lembrando o velho oeste americano. Do lado direito da estrada, passamos pela entrada do Cerro Cora National Park. Visita para outra vez. No vilarejo de Yby Yaú, notamos os primeiros sinais de urbanização.

Saímos para a Ruta 3. Até ali passamos por muitos postos de polícia paraguaios. Até então éramos a atração, motos gigantes e barulhentas cumprimentando e acenando fardados paraguaios. A Policia paraguaia é composta pela Polícia Nacional, a Polícia Caminera (como a nossa rodoviária) e a policia dos distritos. Ao sermos parados na rodovia, tinhamos a instrução de não sair para o acostamento a não ser que fosse Policia nacional ou caminera, pois sendo a polícia local, no acostamento, estaríamos sob jurisdição do distrito. O medo dos policiais corruptos é maior. A cada parada para entregar documentos, verificávamos qual policia era. Em uma delas, o próprio policial avisou -“Policia Nacional, pode ir para o acostamento !”, interessante observar que eles mesmo sabem disso.

Ainda na Ruta 3, seguimos por longo trecho até San Estanislao. Fizemos paradas em lugares pré-definidos, abastecendo a cada 170 km em média. O suficiente para minha autonomia. No grupo, apenas eu de Sportster e Délcio de Iron estávamos com uma emoção a mais. Será que chega? Acontece que a gasolina del Paraguai foi muito bem aceita pelos nossos motores. Você pode escolher a octanagem da gasolina, eu usei a 97 octanas e, mesmo em velocidade acima dos 120 km/h, tive médias de 20 km/l. O preço do combustível é parecido com o do Brasil. Já a qualidade é melhor. Esta economia não aconteceu com minha moto na volta para casa do lado brasileiro. Evidente diferença.

Na Ruta 3, andamos em comboio. Aliás, muito bem conduzido pelo nosso Captain André. O asfalto, vale salientar, é muito bom, permitindo o desenvolvimento de uma boa velocidade. No Paraguai, muitas motos de baixa cilindrada frequentam as estradas e têm o costume de andar livremente pelo acostamento. Diferente do Brasil, notei um hábito do motorista paraguaio de sair para o acostamento. Parecia uma regra para dar passagem. Quando parávamos na rodovia por causa do trânsito, as motos pequenas ultrapassavam o bonde de motos parado pelo acostamento em boa velocidade. No quesito imprudência, estávamos no Paraguai, nem capacete o pessoal de lá usava.

Mais próximo a Assunción, chegamos junto com o frio e fomos colocados à prova. Coloquei a capa de chuva para ajudar com o vento. Na chegada, passamos por um lugar sugestivo chamado Emboscada. Lembramos nos comentários que parecia arredores de São Paulo. Já na capital, pedimos auxílio a um táxi, que nos conduziu em um trânsito parecido com o de sexta-feira em São Paulo, até o hotel reservado, o Los Alpes de Santa Rosa.

Havíamos reservado hotel por email e, junto a outros motociclistas, frequentamos o salão do hotel no sábado e domingo. Na reserva do hotel, aparecia “grupo motoqueros”.

Aproveitamos a estadia e saímos no sábado para motocar em Assunción, mesmo com o frio e a garoa. Conhecemos a concessionária Harley-Davidson durante o dia. Almoçamos na loja de acessórios Klein Motos e de noite visitamos o bar de harleiros RL 6. Conhecemos duas churrascarias e fomos muito bem recebidos pelos amigos do Paraguai, amantes das Harley-Davidson. Conhecemos muitos brasileiros que moram no Paraguai há muitos anos e nos prestigiaram pela visita.

Os Paraguaios já se preparam para o encontro anual de harleys que acontecerá no país em maio de 2014, muito bem recomendado pelos harlistas brasileiros Xuxu e Glauco, grandes viajantes de Campo Grande, que já foram ao evento outras vezes.

Assistimos a um filme dos anos passados e a animação e o envolvimento é grande.

Em nosso retorno, saímos de madrugada de Assunción debaixo de chuva e um frio de 6ºC. Estávamos mais preparados, pois compramos mais agasalhos e roupas de baixo. Utilizamos luvas impermeáveis de borracha por cima das luvas de moto e muita vontade de rodar as estradas novamente. Existe o casaco air bag para motociclista, e eu estava parecendo que usava um já inflado, com tanta roupa de baixo. Na minha opinião, o frio pode escoar suas energias para viajar. Atenção e resistência são exauridas pelo abuso em resistir ao frio. Roupa apropriada representa a segurança do dia seguinte de viagem.

Aumentamos para velocidades maiores, talvez pela pressa ou pelo frio que congelava a ponta dos dedos. Me senti um alpinista passando frio nos dedos dormentes. Chovia pouco e o vento de tempestade nos empurrou um pouco. Foi uma experiência motociclística diferenciada.

Fomos parados mais uma vez pela polícia para exibir os permissos. Passamos na imigração de Pedro Juan para sair do País e mais uma paradinha na Casa China.

O trecho do Brasil até Campo Grande fizemos em grande estilo e boas velocidades. Chegamos na Rota 67 já anoitecendo. Pernoitei em Campo Grande e parti para São Paulo no outro dia. Segui pela estrada de Três Lagoas, sempre muito indicada. O trecho do MS próximo a divisa está uma lástima, em obras e com muitos buracos que atrasam a viagem. Não recomendo !

Percorri 3.570 km nessa viagem, percorrendo estradas de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraguay. A alegria da viagem foi redobrada pelo pessoal do HOG de Campo Grande, que mantiveram o espírito de equipe e companheirismo. Fiz dos colegas, amigos! Uma turma excelente, que merece outras tantas viagens, longas de preferência. Quem sabe em maio de 2014 não voltamos às terras paraguaias para o grande encontro.


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