América do Sul em Duas Rodas

Quem já não pensou em largar tudo e aventurar-se pelo mundo afora, desbravando novos horizontes, conhecendo novas culturas, sabores e cores; subindo cordilheiras nevadas e vulcões ativos, cruzando por desertos e salares; caminhando por lagunas e glaciares, perdendo-se pelas praias mais lindas e pelas planícies mais áridas; nadando em rios termais de aguas cristalinas e banhar-se nas mais altas cachoeiras?!

O Turismólogo e guia de montanha Leandro Bazotti, um verdadeiro aventureiro profissional, que se dedica a desbravar as belezas da natureza de forma intensa a mais de duas décadas, realizou ao longo de 2018 mais um de seus audaciosos projetos, desta vez, terminando de percorrer toda a América do Sul de ponta a ponta, unido seus extremos sobre duas rodas, agora de moto, pela parte norte do continente. Durante 10 meses, percorreu 32 mil quilômetros através de seis países, superando diversas dificuldades ao longo do caminho e chegando a mais de 5 mil metros de altitude, na maior parte do tempo por estradas alternativas, não pavimentadas, longe de qualquer suporte externo e sozinho.

Uma aventura sem igual por algumas das regiões mais inóspitas do planeta e desconhecidas do mundo!


“…missão cumprida, feliz y de volta aos pagos!!!!

Gostaria de compartilhar aqui um pouco do pequeno resumo do que foi minha incrível viagem de moto em solitário pela América do Sul na “Valiente” uma Super Ténéré 250, 2011 que bateu 77mil quilômetros rodados!

  • 6 Países
  • 10 meses (mais de 300 dias!)
  • 32 mil km rodados (sendo 16 mil km por caminhos alternativos de todos os tipos de terreno, por lugares remotos e inóspitos, sem nenhum tipo de recurso por perto)
  • Média de $15 dólares por dia de gasto total (para mim e para a moto)
  • Pouco mais de 1 terabyte de fotos e vídeos registrados

A Viagem

Saí de Porto Alegre, peguei a ruta de las altas cumbres em Córdoba e cheguei a Mendoza, de onde segui para Uspallata, Pampa do Leãozito, cuesta de Zapata, Tolar Grande, salar do Hombre Muerto, paso Sico, deserto de Atacama e paso Hito Cajon, pelas lagunas da reserva Eduardo Alvaroa, até o salar de Uyuni. A partir deste ponto subi a Bolívia de sul a norte fazendo ziguezague durante dois meses, passando por falta de combustível e água, mas pelos caminhos mais alucinantes, perigosos e isolados que já passei na vida, cruzando por todo tipo de paisagens, ambientes e culturas possíveis e imagináveis, sempre priorizando os Parques Nacionais e Reservas Ecológicas

Continuei viagem até a Tríplice Fronteira entre Bolívia, Brasil e Peru, de onde segui por quase três meses na mesma batida do puro off-road, passando por locais exuberantes, como Laraos, cañon Cañete, Yantac, Oyon, a Cordilheira Branca, cañon del Pato, Chachapoyas e Também por outros locais pouco frequentados ou conhecidos.

Viajei sempre pela crista da Cordilheira dos Andes, por locais a mais de cinco mil metros de altitude, e também mordiscando um pouco da floresta Amazônica, com nuvens de insetos e atoleiros ate entrar no Equador, onde fiz toda a Rota dos Vulcões e também Amazônia, conhecendo suas principais cidades e, sempre que possível, por caminhos não pavimentados, ate cruzar para a Colômbia, a cereja do bolo.

Viajei por aquele país por quase dois meses, onde fiz um circuito em forma de “8” muito louco pelo país, passando por todo tipo de estradas / regiões / climas / ambientes e claro, lindas paisagens, rica cultura e costumes, como por exemplo Punta Gallinas, Tayrona, Islã Baru no Caribe, Pedra de Guatape, Santuário de las Lajas, El Eje Cafeteiro, Salento, vulcão Totumo, deserto da Tatacoa, San Gil, Hacienda Napole, Tranpolin de la Muerte dentre muitos outros locais e cidades.

O retorno foi todo pela costa do oceano Pacifico, passando pelo oásis de Ica e pelas linhas de Nazca até o chile, terminando com a Mão do Deserto e voltando pelo paso de Jama.

*Cito apenas alguns locais que passei para se ter uma ideia do (maluco) traçado geral realizado.

Ao longo do caminho escalei montanhas nevadas e vulcões ativos nos Andes, andei de barco no meio da Amazônia, de jet ski no Caribe, de 4×4 nas dunas, voei de drone sobre diversos tipos de paisagens, mergulhei em rios de todos os tipos e cores, me banhei em cachoeiras gigantescas pendurado por cordas, caminhei acampando por dias no meio de vales, florestas e montanhas ate chegar a ruinas incas escondidas de tudo e de todos, explorei cavernas passando horas no subterrâneo, conheci parques jurássicos, vi disco voador e finquei a bandeira em todos os países que passei, dentre muitas outras peripécias épicas. Além disto, fiz muitas amizades, conheci pessoas incríveis, que fazem dos lugares e toda sua cultura e costumes, provando pratos e bebidas típicas, compartilhando muitos aprendizados e recebendo muitos ensinamentos ancestrais da Pacha Mama com suas distintas tribos.

*Vivências incríveis que não tem explicação nem preço

Perdi a conta das vezes que caí com a moto em todo o tipo de terreno, geralmente a baixas velocidades e por desatenção, enquanto admirava as belezas da natureza à minha volta, nunca por imprudência ou imperícia (reserva Eduardo Alvaroa, por exemplo, zero tombo hehehe), e sempre sem gravidade para mim ou para a moto, mas poderia ter me matado ou arrebentado com ela mil vezes, pois este tipo de estrada não é brincadeira, ainda mais quando se esta sozinho no meio do nada, perdido nas montanhas, desertos ou salares, mas faz parte e é o espirito da coisa, afinal, “mesmo assim” temos de nos divertir hehehe

Optei, de forma consciente, por este estilo de viagem e já sabia de todos os riscos envolvidos.

Tive alguns poucos problemas mecânicos com a moto, por sorte perto de algum raro povoado que estava cruzando e sempre fáceis de resolver por qualquer mecânico de beira de calçada com um pouco de noção e boa vontade – além é claro, de muita calma e tranquilidade de minha parte.

*Vou falar sobre estes problemas e situações em publicação especifica.

Quase sempre cozinhei tudo o que comi, seja no café da manhã, almoço ou janta e acampei na maioria das vezes, seja na barraca, na rede ou apenas com o saco de dormir, mesmo a cinco mil metros de altitude, com temperaturas abaixo de zero que congelavam o motor pela manha, ou em alguma casa ou tetinho abandonado na beira dos caminhos que utilizava como refugio. Na moto eu levava todo o necessário para ser autossuficiente em qualquer tipo de situação, parando em locais inimaginados, em regiões inóspitas, isoladas e com as paisagens mais belas que se pode pensar.

*algumas vezes, quando em algum povoado / cidade maior também recorria às redes de apoio a motoviajeros espalhados por toda América do Sul, onde fiz grandes amizades e são super prestativos.

Com esta viagem, pelo norte do continente, chegando ao seu ponto mais setentrional (Punta Gallinas na Colômbia, o extremo oposto da baia Lapataia na Terra do Fogo), terminei o projeto de percorrer toda América do Sul em duas rodas, sendo que a primeira etapa do projeto, a parte sul do continente, eu fiz de bike em 2015, de Ushuaia a Cusco, pedalando durante quase um ano por 9.500 km, sendo 7.500 km por estradas de terra.

Além disto, em outros projetos realizados anteriormente, também escalei varias das maiores montanhas dos Andes, com mais de 6.500 metros de altitude, dentre elas o teto das Américas, o Aconcágua, com quase 7.000 msnm.

Em 2000 também já tinha feito uma viagem de bike de 100 dias e 6.500 km pedalados de Mendoza a Ushuaia cruzando os Andes, Patagônia e Terra do Fogo pela ruta 40 e Carreteira Austral.

eu poderia ficar aqui escrevendo paginas e paginas sobre as minúcias desta ou de outras viagens / projetos que fiz, mas ai também já perde o foco hehehe, por isto comparto somente um pouquinho do resumo do que foi mais esta grande aventura e seu contexto, sem entrar em muitos detalhes, pois estes guardo para o livro que creio que depois de tantas pessoas falarem ao longo dos anos acabaram me convencendo a fazer.”


Na primeira etapa do projeto, realizada em 2015, Leandro Bazotti pedalou por mais de nove mil quilômetros pela parte sul da América do Sul, de Ushuaia a Machu Picchu, passando por cenários incríveis como a Terra do Fogo, Patagônia, Carreteira Austral, Ruta 40, deserto de Atacama e Salar de Uyuni, sempre serpenteando a Cordilheira dos Andes e enfrentando subidas de mais de 70 km, ventos de 120 km/h, temperaturas abaixo de zero, calores escaldantes, chuvas de semanas de duração, falta de água, dentre muitos outros desafios que ele vem colecionando.

Além desta incrível aventura sobre duas rodas, unindo o extremo sul da América do Sul e o ponto mais setentrional do continente, nosso aventureiro também já realizou várias outras atividades extremas, como cruzar cânions e precipícios pendurado por cordas por dias a fio, escalar montanhas rochosas e descer rios de corredeiras em botes e canoas infláveis, fora suas expedições para subir cascatas congeladas e chegar ao cume de vulcões ativos e de altas montanhas congeladas, como o Cerro Aconcágua e o Vulcão Tupungato, ambos com quase sete mil metros de altitude e sem oxigênio ou equipe de apoio.

Mas engana-se quem pensa que este aventureiro largou tudo na vida mundana dos grandes centros urbanos e encarou um novo estilo de vida pelos locais mais incríveis e remotos do planeta do nada, pois Bazotti na verdade se sustenta basicamente dos esportes de aventura na natureza e do turismo em ambientes naturais, mesmo residindo na cidade, local onde leciona em universidades, ministra aulas para cursos técnicos, presta consultorias para entidades públicas, privadas, do terceiro setor e aventureiros em geral, além de proferir palestras motivacionais para distintos perfis de plateia, conciliando assim sua paixão e sua profissão com a qualidade de vida almejada por muitos – um propósito de vida bem diferente da maioria das pessoas que conhecemos e que começou ainda criança, quando fez seu primeiro acampamento com meses de idade, sempre incentivado pelos pais, que apesar de preocupados, nunca deixaram de apoiar os sonhos do filho que saiu do ninho, criou asas, voou longe e alto, mas sempre retornou em segurança para o seu porto seguro.

Bazotti comenta que para ter êxito neste mundo cheio de aventuras perigosas, assim como na cidade, é necessário ter muita responsabilidade e determinação, além de conhecer seus limites e diz que o medo está sempre presente, que este sentimento faz parte do ser humano e que é preciso saber lidar com ele, assim como com as dificuldades e privações que são apresentadas a cada novo dia, pois isto está intrinsicamente ligada a este contexto, mas que, com calma, tranquilidade e resiliência, é possível realizar grandes feitos.

“Para ter sucesso na vida, é preciso realizar escolhas e abdicar de muitas coisas, como conforto e segurança, ou a presença da família e dos amigos, afinal, tudo tem seu preço e as coisas mais incríveis não conseguem ser adquiridas apenas com dinheiro, e sim com muito sacrifício, mas que ao fim, tudo recompensa, pois são muitos os ensinamentos que a estrada nos oferece, assim como as oportunidades de compartilhar as experiências adquiridas, auxiliando com isto que outras pessoas saiam de suas zonas de conforto e também realizem seus sonhos”.

Sobre sonhos, Bazotti diz que sempre sonhou em ser o que é e fazer o que faz, pois desde pequeno queria ser uma alma livre, e que, a cada dia, dá mais um passo em frente, em busca de suas novas conquistas e que seus desejos sempre o levam mais adiante o tornando uma pessoa melhor e mais sabia, madura, pronta para encarar os novos desafios da estrada da vida.

Neste momento, além de descansar a “carcaça” como ele mesmo diz, está tomando um tempo para organizar seus compromissos e preparar a próxima jornada, mas sem revelar qual o destino da nova empreitada, pois comenta que existem algumas possibilidades e não tem certeza qual delas ira se materializar primeiro, mas garante que será dentro de poucos meses, pois seu espirito de um ser viajante não consegue fixar raiz em um lugar por muito tempo – uma das mazelas destes seres nômades do mundo moderno.


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