Após um dia sem rodar, aguardando a liberação da Capitão América da revisão, chegou a hora de partir. O café da manhã foi às 6 horas no hotel Gameleira em Rio Branco (muito bom Hotel).
Decolei sobre um céu negro e carregado. No dia anterior Rio Branco havia recebido 4 horas de chuvas intensas, com alagamentos e deslizamentos. Acelerei e consegui escapar da chuva que era iminente rumo ao noroeste. Buscava as últimas cidades do Brasil pra aqueles lados, Brasileia e Assis Brasil, sempre margeando a divisa com a Bolívia, numa estrada que alternava trechos bons por muitos quilômetros e poucos com buracos. Desenvolvi bem.
O relevo apresentava agora pequenos morros, o que resultava em algumas curvas na estrada, muito gado nas fazendas e algumas plantações de cana-de-açúcar na paisagem e, de vez em quando, um pouquinho da floresta amazônica.
Lembrei de dois casos que não contei anteriormente:
1 – quando estava em Rondônia vi as famosas “Cabriteiras”, estradas vicinais de terra que ligam clandestinamente a BR-070 à Bolívia. São aproximadamente 90 km de distância e é por ali que se escoam os produtos dos furtos/roubos de veículos brasileiros que dão trocados por drogas.
2 – estava na balsa que faz a travessia dos carros, caminhões, motos, etc. pelo rio Madeira, entre Porto Velho (RO) e Rio Branco (AC), quando chega um senhor perto e me fala: “- A placa da moto é de Belo Horizonte, mas você não veio com ela não, né? “ Respondi vim sim e se Deus quiser vou voltar também! Nisso ele vira pra esposa e fala, “- querida, ele veio de lá mesmo. “ ela: “- meu filho, me fala seu nome que vou rezar muito por você! “ Era um casal de contagem que veio visitar parentes em Nova Califórnia (AC), vieram de avião até um ponto e alugaram um carro. Muito simpáticos. E orações são sempre bem vindas.
Finalmente chegou a fronteira Brasil/Peru. Fiz a saída do país na Polícia Federal do lado Brasileiro, mas na hora de dar entrada no Peru foi aquele clichê de filme mexicano: primeiro a aparência do lugar era de uma rodoviária antiga, perdida em algum lugar esquecido pelo mundo. Quando faltava só a entrada da moto, fui direcionado pra um setor onde o policial Peruano assistia ao jogo Barcelona x Real Madrid. Por 5 min, digitava 1 tecla, ai voltava pro jogo. Só me restou começar a assistir ao jogo Também. Com o Neymar fazendo gol, falei… “- É Brasil, né? Tem que respeitar o futebol brasileiro.“ Não sei se foi isso, mas Depois disso, rapidinho ele me liberou.
Treta boliviana: Na estrada, ainda no Brasil, me deparei com três carretas de combustível, com placas da Bolívia, paradas numa subida, meio que na pista. Achei meio estranho, mas segui viagem. Uns 500 metros à frente, havia uma fiscalização móvel da receita estadual acreana. Com certeza estavam parados antes por isso. Que treta. Vou chutar que trazem gasolina boliviana (10 litros = 0,50 centavos de real e vendem ali no Acre).
Continuei viajando pela transoceânica, a famosa estrada do Pacífico, agora do lado Peruano, mas era uma estrada totalmente diferente, asfalto bom e bem sinalizada. Havia pouquíssimo trânsito, na maioria eram motos de baixa cilindrada e os tuc-tucs. Ela foi construída por um pool de empresas brasileiras lideradas pela Odebrechet (ué porque então do lado brasileiro tá ruim?).
O relevo era o mesmo, mas havia mais floresta preservada ao longo da estrada. Por causa disso, a temperatura era bem mais baixa. O perigo nesse trecho são os animais na pista. O gado pasta solto, sem cercas, e atravessam a estrada sem cerimonia. E os cães, que até dormem no meio da pista.
Entre a fronteira e a cidade de Puerto Maldonado passei por umas 20 vilas à beira da estrada. São vilas pobres com crianças soltas pela rodovia e muitos cães, protegidos apenas pelos quebra-molas. Uma dessas vilas se chamava Belo Horizonte Rs.
Faltando 40 km para chegar, caiu uma chuva na estrada pra esfriar um pouquinho, mas cheguei tranquilo em Puerto Maldonado. Na cidade, um trânsito maluco com centenas de motos de baixa cilindrada e tuc-tucs andando pelas ruas como um enxame de abelhas.
O jantar no hotel foi muito bom. Lomo a la cabaña. A cerca deles também é boa Rs.
A moeda aqui e o Novo Sol, que chamam de Soles, a cotação é 1 pra 1 com o real.
Foi um dia tranquilo, com o visual maravilhoso da Amazônia Peruana me acompanhando até aqui. Que Deus continue me abençoando e protegendo.
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