4º dia – Pontes e Lacerda – Ji Paraná

Decolei rumo ao norte/noroeste. Mais um dia perfeito para pilotar, com temperatura agradável, pouco trânsito e estrada boa. Segundo o escritor Romulo Provetti, “- o homem que sai numa viagem de moto volta outro homem.“

Refletindo sobre isso na estrada, acabei por concordar. Você volta melhor. Numa viagem solitária de moto, chega determinado momento que você está ali, pilotando quase de forma automática, e na cabeça está passando um verdadeiro filme. Você trás à tona centenas de lembrança, alegres ou tristes. Lembra de músicas, cheiros e situações pelas quais passou, você vai ligando aquilo e de alguma forma reprocessa tudo como uma forma de superação. E de fazer melhor, se sair melhor numa próxima viagem. Uma viagem solitária de moto é na verdade uma viagem ao seu interior.

A paisagem que antes era dominada por extensas plantações, deu lugar a pastos com gado e fazendas particulares. O relevo também mudou, com alguns morros lembrando as paisagens de Minas.

80 km após Pontes e Lacerda (MT) avistei duas serras, uma de cada lado da estrada, que formavam um paredão e acompanhavam a estrada por vários quilômetros. Após isso, passei por alguns trechos de mata nativa. A mata abraçava a estrada, formando um visual muito legal. Incrível como a temperatura muda quando você entra nessa vegetação. Isso nos dá a certeza que as mudanças de clima que observamos são resultado principalmente dos desmatamentos.

Em certos trechos da estrada, comecei a observar que havia buracos, quer dizer, panelas, sempre do lado direito da estrada. Fiquei pensando porque aqueles buracos na mesma posição do asfalto. Até que matei a charada: eram as copas das árvores que avançavam sobre a estrada e ali faziam suas goteiras. Algum tipo de reação da floresta ante à devastação rs.

Quando faltavam 10 km para a cidade de Pimenta Bueno (RO), a estrada desapareceu, dando lugar a um tapete de crateras lunares. Os bi-trens, que eram maioria, bailavam de um lado para o outro da estrada, escolhendo os buracos menores. Cheguei a ver molas e borrachas de suspensão pelo chão, provavelmente dos caminhões que, pesados, sofriam muito nesse trecho.

Nesse trecho passei por uma placa de sinalização com o desenho de um homem com uma pá e logo abaixo a legenda “homens trabalhando”. Logo pensei e comecei a rir sozinho. Então é esse FDP que está cavando esses buracos cm a pá…

Como tudo para o marketing é uma oportunidade de negócio, logo após os 10 km de crateras, tínhamos a borracharia do Negrinho, que estava cheia, e 100 metros depois uma grande loja de molas para caminhões.

Chegando próximo da divisa do Mato Grosso com Rondônia, me deparei com o restaurante “Rancho do Sucuri”. Logo pensei: um sinal divino pra almoçar Rs… Muito legal o lugar. Deixei a nossa marca e ainda trouxe uma pequena lembrança da cachaça Sucuri, produzida lá.

Algumas informações técnicas do vôo: a Capitão América está com um consumo médio de 20 km/l… Autonomia de 500 km. A moto continua perfeita, dentro de suas limitações, e o peso da bagagem e tanque auxiliar tem deixado por vezes a frente com aquele shimy, nada que uma pilotagem tranquila não resolva.

Já no lusco fusco, cheguei a Ji Paraná (RO) e encerrei a estrada de hoje. Amanhã tem mais. Força e fé.


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