Havia chegado a Jujuy no sábado 22 de novembro e estava partindo no dia 26, quatro dias por conta do problema com a moto, mas faz parte da coisa… o importante é que estava tudo certo, eu podia contar com o arranque novamente
e não precisava mais ser empurrado nem explicar nos postos de combustível que a moto não tinha “patada” (pedal de arranque).
Na noite de terça, para quarta eu deixei a moto na oficina do Oscar e quando fui buscá-la para ir embora, despedimo-nos e trocamos telefone para um contato, porque ele gostaria de saber como a moto tinha se comportado. Boa pessoa e que valeu a pena ter conhecido nesta viagem.
Antes de sair da cidade, fui ao banco Macro, na mesma rua do hotel, a Almirante Brown, e fiz uma retirada de pesos com meu cartão porque havia gasto com peças e conserto, além das diárias e alimentação nos dias em que fiquei ali.
Uma dica para passar o cartão nos ATMs por lá: tente todas as máquinas porque algumas não aceitam e outras sim. No caso do banco em que eu estava, só uma máquina aceitava a transação.
Mais ou menos 11 horas, iniciei minha viagem rumo ao norte, com destino a Paso Jama. Segui pela RN9, direção norte e entrei na RN 52 em direção a Pumamarca, onde tentei abastecer a moto e soube que seguindo à frente, o próximo posto seria a 130 km e se eu retornasse para a RN 9 e seguisse 20 km até a cidade de Maimará encontraria um posto. Fiquei com a segunda opção, retornei para a RN 9 e segui para o norte até a cidadezinha de Maimará e então tive outra notícia preocupante, os petroleiros haviam deflagrado uma greve e o abastecimento estava prejudicado na região, principalmente devido ao feriado prolongado, mas havia um caminhão descarregando combustível no posto e uma fila imensa para abastecer. Entrei na fila e fui tentar arrumar um galão de combustível, já que havia perdido o meu. Consegui comprar um de 5 litros e ganhei um outro que era embalagem de óleo e estava no lixo, limpei e deixei pronto para o uso. Porém, sempre há um “porém”, pelo fato do desabastecimento e da fila, o pessoal do posto tinha ordem de não encher galões (não só o meu, mas de várias pessoas da fila). Então abasteci e fui para trás do posto e com uma mangueirinha que carrego junto com as ferramentas transferi o combustível do meu tanque para os galões, ensaquei-os com um plástico preto, coloquei junto à bagagem e voltei para a fila. Quando chegou minha vez, o frentista esboçou um sorriso de cumplicidade e encheu o tanque da moto sem questionar e eu parti rumo a RN 52 novamente. Não lembro quanto tempo perdi com a história do combustível, mas foram horas, talvez umas três ou mais.
Inicio da RN52 – subida dos Andes
A subida dos Andes é marcante, a paisagem faz com que você se sinta dentro de um documentário da National Geographic ou coisa assim. Tudo é belo, o céu, a terra, o ar, a rara vegetação, as lhamas, a estrada, tudo!
No início da subida a moto começou a perder potência e então parei e retirei a tampa lateral de entrada do ar e ela passou a “respirar” melhor e subiu na boa. Não dá para acelerar na subida do caracol porque é uma curva em cima da outra, curvas em formato de cotovelo, o que precisa é força e nesse quesito a moto estava puxando bem. Em algumas ocasiões na subida mais íngreme andei em segunda marcha, mas depois de atingir o altiplano, andei em quarta e quinta marcha o tempo todo.
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Quando estive parado em Jujuy, na oficina do Oscar, fomos visitados por um velho caminhoneiro que fazia esta rota nos anos 60/70 e ele contou que usavam um macete para dar mais ar para o motor aspirado. Picavam cebolas e colocavam no filtro de ar porque a reação de alguma coisa liberada pela cebola oxigenava o ar. Não sei se funciona ou tem fundamento para funcionar mas, como dizia aquele personagem do Auto da Compadecida, do Suassuna, o Chicó, “não sei, só sei que foi assim” – me contaram e estou contando.
Subindo os Andes, passei pelo ponto mais alto daquela região e que marcava 4.170 metros, local que tem o nome de Alto Morado. Parei para tirar umas fotos e segui viagem porque sentia que estava meio atrasado para chegar a Paso Jama antes do anoitecer.
Lá pelas tantas, avistei o Salar e fiquei emocionado, tão emocionado que comecei a cantar Gracias a la vida, de Violeta Parra, para o capacete, meu companheiro – que também ficou emocionado e embaçou a viseira. Foi um momento especial, a primeira visão do salar ou Salina Grande, como é chamada.
Primeira visao do salar
Parada no salar
Salina Grande – Susques
Passei por Susques por volta das 18:30, uma cidadezinha de barrro no meio do pó, ao fundo de uma cratera – essa foi minha visão –, e parei em um posto de gasolina a alguns quilômetros à frente, no meio do nada, era aquela a “estacion de servicio” que me falaram em Pumamarca. Conversei com o frentista e ele me disse que o próximo posto seria a 170 km. Como eu tinha reserva, não fiquei preocupado pela distância, o que me preocupava naquele momento era a chegada da noite e resolvi voltar 1 km e hospedar-me em um hotel que o Valmir havia me recomendado, o El Unquillar. Um bom hotel no alto dos Andes e acho que o único nas redondezas. Lotado, não havia apartamento disponível, mas a recepcionista perguntou-me se uma cama em um quarto coletivo serviria. É claro que sim foi a resposta entusiasmada. Entre montar uma barraca e arriscar a congelar no frio da noite e uma cama em quarto coletivo, quem não preferiria a segunda opção? O ponto alto desta estada no hotel foi que pude entrar com a moto no “quarto”, que era uma espécie de galpão construído com blocos de pedra com diversos beliches, mas somente eu de hóspede naquela noite, eu e a moto. Tudo isso por apenas 50 pesos (17 reais) e com café da manhã, perfeito até para um “legionário júnior”!
Havia também uma estufa elétrica enorme, um quadrado quente de 1 metro de altura, muito bom. Após guardar a moto e trocar de roupa, comecei a perceber que estava meio trôpego ao andar e precisava me segurar para andar em linha reta. A coisa foi aumentando e eu já conhecia o sintoma, tive o mal da altitude quando estive em Cusco, então jantei leve e fui para a cama.
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