27º dia – Gualeyguaichu

Combinado com o Ruy que eu iria para Gualeyguaichu sozinho, saí do hotel às seis horas da manhã rumo ao encontro das mais dolorosas recordações da minha vida. Passar pelo local do acidente, ir ao hospital, rever pessoas, tudo isso era um turbilhão na minha mente, mas eu sentia a necessidade de passar por isto, afinal de contas este foi o propósito de toda a viagem para min, ir até o fim do mundo foi uma carona que peguei com o Ruy e o Ivan.

Quando peguei a Ruta 14, senti meu coração batendo descompassado, pois naquele local foram encerrados os sonhos de uma vida. Por segundos, revi e senti o pouco do que me recordo daquela fatídica tarde de 18 de agosto de 2011. Parei a moto, olhei bem todo o lugar, fiz as minhas preces e segui para a cidade. Providenciei um buquê de flores e segui para o hospital, pois queria muito agradecer aquelas pessoas que tanto carinho e amor dedicaram a dois ilustres desconhecidos.

Ao chegar, tive a oportunidade de encontrar com uma funcionária que me reconheceu e ficou emocionada ao me ver. Entreguei as flores, visitei a enfermaria onde estive internado e a entrada da UTI onde a Beth passou seus últimos momentos nesta vida. Todas aquelas recordações fizeram meu coração passar pela mesma dor daqueles difíceis dias. No meio daquele turbilhão de emoções, surgiu o meu anjo da guarda encarnado, Alejandro, um homem com menos de quarenta anos de idade, bem sucedido, que na ocasião ouviu no rádio do carro a notícia do acidente e se dirigiu ao hospital para ajudar e, a partir daí, acabou assumindo tudo por nós.

Depois de um grande abraço, ele me levou para conhecer a cidade, a qual tenho um carinho muito grande, pois se foi neste lugar que a Beth escolheu para encerrar sua existência carnal, com certeza aqui é um lugar especial, assim como ela própria. Conversamos muito sobre o ocorrido, relembrando cada episódio e o mais bonito de tudo que cada lembrança doía na alma, mas ao mesmo tempo era amenizada por um bálsamo divino.

Foi então que compreendi a importância de estar neste local enfrentando o trauma. Com certeza, sairei daqui mais leve, harmonizado, certo e confiante de que “o acaso não existe” e “a morte física é mudança completa da casa sem a mudança da essência.” Tudo faz parte de uma programação divina, a qual compreenderemos perfeitamente no momento oportuno. Por hora, só tenho a agradecer a Deus por ter compartilhado a minha vida com a Beth, termos sido tão felizes e ter tido o amparo que tivemos, em especial daquelas pessoas para as quais não éramos apenas dois desconhecidos.

Considerando que a moto do Ivan ainda não chegou a Buenos Aires para o conserto final e tenho compromissos de ordem pessoal e profissional a cumprir, sigo amanhã sozinho para Barbacena. Ivan e Ruy seguirão juntos, tão logo a moto esteja em condições. Assim, aproveito para agradecer todos aqueles que nos acompanharam nesta aventura e em especial aos amigos e companheiros de estrada, Ivan e Ruy, que Deus colocou no meu caminho para esta SUPERAÇÃO.

Ivan e Ruy continuarão a informar os seus relatos diários e eu darei notícias ao chegar.

SUPERAÇÃO
Luciano Sfredo


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