Amanheceu chovendo e nevando em Santiago, acordamos e fomos tomar um café que já havíamos comprado na noite anterior. Durante este nosso “desayuno” liga o Aliro avisando que o paso Libertadores estava fechado e que, consequentemente, não poderíamos passar à Argentina. Já desconfiámos deste probleminha pois o tempo ruim que nos acompanhou do sul chegou junto à região metropolitana e era quase certo que havia nevado forte na cordilheira. Havia chovido forte toda a noite em Santiago.
Ficamos vestidos e com as motos prontas, o Juan ligava a cada hora para a aduana e carabineiros para verificar se o túnel já estava liberado.
Eram cerca de 13:00 h quando decidimos sair para almoçar, trocamos as roupas e fomos caminhando até um mercado público na comuna de Maipú mesmo. Assim que retornamos o Juan nos trouxe a notícia que o caminho havia sido liberado e que poderíamos passar.
Mesmo que com um certo receio de sair tão tarde para atravessar a cordilheira, ligamos as motos e rumamos em direção norte. Logo que passamos Los Andes, ainda na pré-cordilheira, já havia muita neve acumulada à beira do caminho. Na localidade de Guardia Vieja, o frio chegou forte e paramos logo no posto de gasolina para vestir mais agasalho e completar o tanque da moto. Aí encontramos uma família brasileira viajando de carro 4×4, haviam atravessado a cordilheira mais ao sul enfrentando sérios problemas com as cinzas vulcânicas e neve.
Iniciamos com muito cuidado a subida dos caracoles pois em alguns lugares havia quase 1 metro de neve acumulada ao lado da estrada e gelo na pista em algumas curvas. Assim que chegamos ao complexo Los Libertadores percebemos que nossa decisão de sair tarde havia sido equivocada. O frio era intenso (- 8°C ), a noite estava chegando e logo que passamos o túnel havia um forte vento branco ( vento com neve ) e uma espessa capa de gelo em cima da pista. Rodamos alguns quilômetros com as motos “rabeando” para tudo que é lado até que apareceu uma descida em curva. Primeiro foi o Ruben com sua Kawasaki Concours 1400, a moto saiu de frente e foram os dois parar na proteção da estrada que estava cheia de neve e acabou amortecendo a pancada. Bastante danos materiais e uma dor na perna para nosso amigo uruguaio. Em seguida, quase no mesmo instante, o Fito (Uruguai) perdeu o controle da moto ao frear e acabou comprando um terreno andino, apenas danos materiais na Kawasaki Vulcan 900.
Ao ver os amigos caindo, procurei uma parte da estrada sem gelo para frear, e foi, numa fração de segundos, que notei um pedaço do acostamento que era mais rugoso e consegui, com alguma dificuldade, parar a moto alguns metros antes dos amigos.
Neste trecho, como estávamos esperando o Sérgio que havia parado para desligar o alarme da moto que disparou , andávamos a cerca de 30 km/h e mesmo assim passamos o maior aperto. Esperamos alguns minutos, eu sem sair da moto porque não parava nada em pé, os amigos juntando as crianças da estrada, até que chega o Sérgio todo sujo e com a V-Strom lixada de um lado. Caiu a 80 km/h depois de uma derrapada na reta (só para ter uma ideia da quantidade gelo).
Motos na vertical novamente, seguimos em primeira marcha até o acesso do parque Aconcágua onde a solução salina que é jogada na estrada para impedir a formação de gelo estava fazendo sua parte.
Paramos por volta das 19h30 para fazer os trâmites aduaneiros em Los Horcones, o frio continuava intenso. Neste instante, o Ruben começou a se queixar de dor de cabeça e logo foi atendido por um oficial da Gendarmeria Argentina, estava com 190 / 120 de pressão arterial. Após medicado ficamos aguardando seu restabelecimento tomando um bom e quente chimarrão numa sala de comando com os militares. Um deles tinha moto ( o soldado “De Los Santos”), fato que facilitou a nossa aproximação e rápido atendimento, tanto nos trâmites como no atendimento médico. Em seguida os militares tentaram reservar hotel em Puente del Inca e Punta de Vacas, sem sucesso, tudo lotado. Em seguida tentaram conseguir alojamento num dos quartéis de alta montanha, também sem sucesso. O jeito foi subir nas motos e , por volta de 20h30, em pleno inverno andino, seguir 80 km pela cordilheira até Uspallata, onde chegamos por volta das 22h.
Nesta época do ano o trânsito é interrompido no lado Argentino às 21h e no lado Chileno às 20:00 h, fato que nos permitiu aproveitar ao máximo nossa viagem noturna pela cordilheira dos Andes, com a estrada praticamente à nossa disposição e um céu estrelado que eu jamais havia visto na vida, rodamos cada quilômetro como se fossem os primeiros em cima de uma moto. Indescritível !!!!
A boa notícia é que tinha gasolina e vaga num hotel bom e barato em Uspallata.
Para comemorar nossa chegada hamburguesas e uma garrafa de cerveza Andes para cada.
Percorridos 250 km
Hotel : El Montañes, ruta 7 km 1148,6 , fone 02624 420105, GPS 32 35 31,09 S e 69 20 52,69 O , www.elmontaneshotel.com, hotelelmontanes@hotmail.com , preço US$ 21,00 por pessoa.
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