De manhã fomos tomar café para a etapa do dia e encontramos duas moças no restaurante falando português. Conversei com elas e descobri que eram gaúchas passeando também por aqueles lados. Falei que estávamos de moto, elas admiraram a distância percorrida por nós e nos convidaram para visitar o Rio Grande do Sul. Um passeio pelo Sul ainda está nos nossos planos.
Passamos em um posto na saída da cidade para abastecer e saímos debaixo de chuva. Se a gente se molhasse, o frio faria com que tivéssemos que parar até a chuva passar, atrapalhando a viagem. Ainda bem que as nossas capinhas de chuva de motoboy fizeram um bom trabalho. Ninguém se molhou.
Passamos pelas belas paisagens do Altiplano Andino, até chegarmos a região de Abra Ojelaca, com 4592 msnm (metros sobre o nível do mar).
Fizemos uma parada para tirar umas fotos, e inadvertidamente, o José Maurício saiu só um pouquinho do asfalto para manobrar e parar a moto, mas ela atolou no deserto. Olhamos uns para os outros e quase não acreditamos. Olhando por alto parecia não estar molhado, mas devia ter chovido no dia anterior e o terreno era de uma terra mole e grudenta, parecendo argila, e com muito pedregulho no meio. Arrastamos a moto para o asfalto e tentamos limpar o barro agarrado no para-lamas dianteiro. Isso nos deu um pouco de trabalho. Tivemos que parar mais algumas vezes, até que conseguimos limpar o material que estava agarrando no pneu. Neste local, vimos que apesar de estarmos em pleno deserto, não fazia nenhum calor. Na verdade estava mesmo era frio. Os topos dos morros ainda estavam cobertos de neve.
Almoçamos em uma pequena cidade chamada Torata, após uma grande descida para uma altitude menor com muitas curvas, e seguimos para Moquegua e Tacna, já próximo à fronteira com o Chile.
Em Moquegua há uma grande mina de cobre, e vimos o “movimento” da mineração. As paisagens na saída me confirmaram que eu estávamos mesmo no deserto mais seco do mundo, mesmo eu não conhecendo outros desertos.
Chegamos a Tacna por volta das 16 horas. É uma grande cidade, com aproximadamente 280 mil habitantes. Procuramos informações de aduana, mas não conseguimos. Sugeri que ficássemos ali aquela noite, mas novamente fui voto vencido e continuamos para a fronteira.
Na saída do lado do Peru, não tivemos problemas, uma vez que fomos alertados na entrada, em Iñapari, que deveríamos apresentar os comprovantes de entrada, na aduana de saída. Entretanto, no lado do Chile… a coisa foi diferente. A dificuldade não era tanto, com relação aos documentos, pois estávamos com todos: passaporte, identidade, carteira de motorista e PID (Permissão Internacional para Dirigir), CRLV em dia, em nome do próprio condutor e sem restrição ou alienação do veículo. Foi mais pelo rigor da fiscalização. Tinha muita gente, muitos ônibus e carros para passar. Fomos a diversas filas e setores, preenchemos umas fichas e tivemos até que passar as malas pelo raio X. Foi um pouco complicado; entretanto, tivemos um bom suporte do pessoal da própria aduana chilena. Inicialmente fiquei meio desconfiado da pessoa que se ofereceu para nos ajudar, mas depois concordei que era somente um empregado fazendo a sua função, ao qual agradeço muito. Com toda ajuda, demoramos umas duas horas para desenrolar. Quando saímos em direção a Arica, nosso primeiro destino no Chile, a uns 25 km da fronteira, já estava escuro.
Na cidade, jantamos e fomos procurar um hotel. Pedimos informações no restaurante e achamos um ali por perto. Acho que foi o mais simples de toda a viagem, só tinha quartos individuais, sem estacionamento e sem café da manhã. Na procura por esse hotel, conversamos com um senhor, da casa quase em frente, que nos cedeu a sua garagem para guardarmos as motos. Combinamos o pagamento por um preço compatível e foi “uma mão na roda” para nós. Eu estava sentindo umas cólicas abdominais desde Ji-Paraná (RO), mas nessa noite elas ficaram muito fortes, e quase não deu tempo de entrar no banheiro. Após essa noite, graças a Deus não tive mais esse problema.
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