Far and away: Longe e distante

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O baterista da banda de rock canadense Rush, Neil Peart, prefere utilizar uma motocicleta para se deslocar entre as cidades onde sua banda realiza os shows do que qualquer outro meio de transporte. Quando esteve em uma turnê na América do Sul no ano passado ele fez uma viagem com sua moto de São Paulo até Santiago no Chile, passando por Buenos Aires na Argentina. Esta viagem está relatada no artigo A fantástica viagem de moto do baterista do Rush. Além de músico e motociclista ele também é escritor e já lançou quatro livros sobre viagens de moto. No próximo mês ele lança o quinto livro, Far and Away: A Prize Every Time, que inclui a passagem dele pelo Brasil e a viagem citada acima. O site National Post publicou uma entrevista com Neil, que reproduzimos abaixo.

Neil Peart, do Rush, senta-se casualmente em frente a um conjunto de tambores cobreados, respeitosamente examinando cada um. “Tudo foi feito na medida”, diz ele, traçando os dedos sobre tambores Africanos, indianos, válvulas e blocos eletrônicos. “Eu era uma parte do processo de concepção. … Vi mais de duzentas amostras diferentes [antes] de escolher estes para o meu solo.”

Peart parece mais velho do que a maioria dos fãs do Fly by Night iriam se lembrar, mas ele envelheceu bem, estrutura sólida como sua bateria, com uma voz de barítono para combinar. Como profícuo baterista do Rush, uma das bandas de rock mais bem sucedidas do Canadá, Peart poderia facilmente falar apenas sobre o seu legado musical. Mas o rock é apenas uma das suas paixões. Em maio, após o lançamento de Far and Away: A Prize Every Time, Peart será autor de cinco livros.

Ele não é o primeiro músico a entrar no mundo editorial, mas ele é um dos poucos que têm escrito por conta própria, e fez isso muito bem. Peart revira os olhos quando fala sobre os músicos usando ghostwriters (escritores fantasmas). “Mas isso nem sempre é o caso – gente como Bob Dylan, Sting e Stuart Copeland, os seus livros eram todos bem feito, e feitos por eles mesmos. A diferença é que eu vinha aperfeiçoando a minha leitura por 20 anos antes de publicar o primeiro livro.”

Far and Away é um reflexivo, o estilo de diário de viagem de imersão detalhando as viagens de moto do músico pelas estradas da América do Norte, Europa e América do Sul. “Quando eu escrever sobre história, natureza ou geologia, é do ponto de vista da primeira pessoa”, diz Peart. “Sou eu passando em uma cidade [de moto] e descobrindo por que algo é do jeito que é.”

Como muitos livros escritos por celebridades, a percepção do leitor será inevitavelmente ligada com a percepção de Peart. Mas, com exceção do dia de trabalho do autor, este não é de forma alguma um livro sobre rock ‘n roll. Em vez de sexo e drogas, Peart usa Far Away para mostrar uma apreciação profunda pela natureza, através das Laurentian Mountains no inverno rigoroso, do pôr do sol e de desertos áridos do Death Valley, na Califórnia e de aldeias humildes da América do Sul.

“Eu fiquei terrivelmente perdido entre o Brasil e a Argentina, mas foi uma bela experiência. … Eu fiquei perdido numa pequena cidade no canto do Brasil e, basicamente, acabei encontrando um lugar para ficar um pouco antes do sol se pôr,” diz Peart. “Houve essa combinação da música do Oeste Africano música com a música brasileira, e eu nunca tinha ouvido essa combinação antes. Foi um momento transcendental para mim. … Eu estava perdido, e agora fui encontrado.”

A vida de Peart parece seguir um padrão semelhante de perdidos e achados. Aos 58 anos de idade vive em Port Dalhousie, Ontário. Ganhou um conjunto de percussão aos 14 anos e realizou seu primeiro solo de bateria com aquela idade. Mais tarde, tocou com bandas locais em pistas de patinação, escolas e salões de igreja, antes de se mudar para Londres, na esperança de tocar ao lado de bateristas lendários como John Bonham e Keith Moon. Mas não aconteceu como ele havia planejado. Incapaz de encontrar o sucesso no Reino Unido, voltou para o sul de Ontário para vender peças de trator na companhia de seu pai.

Em 1974, Peart fez um teste em Toronto para o Rush, que tinha perdido recentemente o baterista. Ele se juntou à banda duas semanas antes de sua primeira turnê pelos EUA. E o resto é história do rock.

O primeiro livro de Peart, The Masked Rider: Cycling in West Africa, foi publicado em 1996, e seu segundo, Ghost Rider: Travels on the Healing Road, em 2002. Este último se seguiu à morte de sua filha de 19 anos num acidente de carro, em Julho de 1997, e da morte de Jacqueline Taylor, sua esposa por 20 anos, apenas 10 meses depois. Ghost Rider introduziu otimismo em seus textos, discutindo seu casamento com a fotógrafa Carrie Nuttall em 2000. Os dois tiveram sua primeira filha, Olivia, em 2009.

Far Away segue a tradição de Ghost Rider, em que Peart detalha pensamentos e experiências pessoais e as aplica universalmente. “Não é uma herança, mas neste livro eu realmente trato de tudo que eu acho que é razão de viver, porque todos nós somos o que fazemos”, diz Peart. “Eu trabalhei neste livro por dois anos e está num ponto que eu não consegui achar nada de errado nele.”

Embora Peart escreva às vezes como se estivesse vendo o mundo pela primeira vez, a sua filosofia de vida é na verdade profundamente refinada. É como se seus pensamentos estivessem finalmente claros. “Quando estou dirigindo minha moto pela América do Norte, quando vejo essas pequenas cidades, esses pequenos comensais, postos de gasolina – o sonho de alguém, e posso me relacionar com isso”, diz ele. “Seria um sonho, e seria uma vida.”

Fonte: http://www.nationalpost.com/
Tradução livre por Rômulo Provetti


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