Uma cidade chamada Savannah

Kingsland (GA) – Savannah (GA) – 3 a 5 de junho

Uma reta só e duas horinhas cravadas. Velocidade máxima de 70 milhas (com a tal tolerância que cismo ser de 10% chego a 80 milhas). Como fui direto sem parada, cheguei cedo a Savannah.

Entrei em uma estrada vicinal, densamente arborizada, na procura do hotel e reduzindo a velocidade para cerca de 45 milhas. A Helô seguindo a 1.800 giros, ronronando como se fora uma gatinha no cio, as árvores parecendo abraçar aquela língua de asfalto, a temperatura no ponto exato (um sol frio que nós, os motoqueiros, tanto curtimos) tudo isso levava-me a pensar: “A felicidade completa é uma miragem, mas muito poucos conseguiram chegar tão próximo dela como eu”. Empertiguei-me no banco adotando uma postura a altura do espetáculo e agradeci ao Criador pelo milagre de mais um dia e, principalmente, pela consciência do momento vivido.

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Finalmente encontrei o hotel, um Days-inn, que já na chegada me brindou com um belo visual, além disso o quarto é enorme e não fosse a escada, a Helô iria dormir ao meu lado. Além de ficar a 6 milhas de Downtown, ou por isso mesmo, tem um restaurante que cobra 6 obamas por um “rango”. Tenho que compensar o custo da troca de pneus da HD de qualquer forma.

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Coisas que só acontecem com o Botafogo e comigo

Fui jantar num tal de Applebee’s onde fui recebido por uma atendente muito simpática. Pela minha terrível pronuncia perguntou de onde eu era e respondi Brasil. Ai começou a melódia, ela, toda alvoroçada, disse que sua irmã namora um cara que fala espanhol e está aprendendo com ele (acho que ela está traindo a irmã, mas essa é outra história formada na minha mente devassa) desandando a falar alguma coisa onde todas as palavras terminavam em “ion”. De nada adiantou eu dizer que falava português (e mal).

Acabei fazendo meu pedido e cai na asneira de pedir um pouco de pão. Entendi-a dizer que teria algo parecido e mais adequado ao prato. Em seguida colocou-me em uma mesa vizinha a outra, ocupada por 4 motoqueiros. Os caras nem me olharam, embora eu estivesse com meu colete de carregar passaporte o qual não tiro nem para tomar banho (poucos, naturalmente). Eis que, em menos de 5 minutos, vem outra garçonete e coloca um prato com 8 bastões na minha frente (o da foto). Pensei que era a tal espécie de pão que me falaram. Embora achando um exagero, peguei um para comer. O treco é uma espécie de charuto com queijo derretido por dentro, na primeira dentada o queijo, quente adoidado, esticou e eu também estiquei o braço no limite causando espanto e indignação na mesa dos motoqueiros. Os tais rolinhos eram deles que ficaram putíssimos (foto 2) pois estavam esperando por eles há muito tempo. Foi o maior bafafá e na confusão acabei comendo outro bagulho daqueles. Veio gerente, garçonete chorando, o maior “micão” e eu só mandando o famoso “I’m sorry”. Propus pagar o prato, eles não aceitaram e as coisas foram se acalmando. Comi em silencio, envergonhado, com todos me olhando com cara de reprovação. Após pagar a conta e preparando-me para sair, um deles perguntou: “- Where are You from ?”. Lembrei-me então de um sábio conselho de meu sobrinho Mario Luiz para usar em casos de emergência e mandei na lata, bem alto e estufando o peito: ” ARRENTINA ! “.

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Como Savannah é uma cidade histórica, muito bonita e já tinha sido recomendada pelo meu amigo Bob Swap, resolvi ficar mais um dia para conhecê-la um pouco melhor e visitar alguns museus. Valeu a pena como mostram algumas

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Battlefield Memorial Park

Este memorial, inserido num parque em frente à antiga estação de trens, homenageia os mortos e feridos na batalha para tomar Savannah de mãos inglesas, em 9 de outubro de 1779. São 800 lápides representando cada um dos que tombaram na batalha. Soldados de outras nações tomaram parte no combate e seus países estão representados pelas suas bandeiras atuais.

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Georgia State Railroad Museum

Por mais de 100 anos este complexo ferroviário, com imensas oficinas de reparo, funcionou no centro de Savannah transformando-se num pólo de desenvolvimento. As atuais oficinas foram transferidas para fora da cidade, mas o antigo complexo foi preservado e transformou-se em um Distrito Histórico (National Historic Landmark District). Quando penso nas oficinas da Leopoldina de São Geraldo (MG) que hoje abrigam shows de “funk” sinto vergonha e dor no coração.

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Ainda o Georgia Railroad Museum

Sempre quis ver uma caldeira de locomotiva por dentro. Surpreendente, uma experiência única. Valeu a viagem. Já a locomotiva da segunda foto foi batizada de “Uncle Helio”, ainda não descobri o motivo, mas cada vez que olho começo a desconfiar. As outras fotos mostram o interior de UMA das oficinas e a descrição das ferramentas de “blacksmith” que eram utilizadas.

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Estação Ferroviária de Savannah

Em frente ao Railroad Museum e ao Memorial pela batalha de Savannah a estação ferroviária preservada. Você pode sentar-se nos antigos bancos e imaginar-se aguardando a hora do embarque. Cheguei quase na hora de fechar, estava vazio e foi melhor assim. Sentei-me e imediatamente lembrei de uma geração dos Rodrigues Silva que partiu antes da minha, ainda ouvia o eco de suas risadas e de suas brincadeiras. Uma família onde a alegria imperava, composta de anti-heróis que faziam pouco de suas conquistas, isso quando não as escondiam, porém jamais se curvando ante quem quer que fosse, não por valentia, mas pela nossa lendária teimosia muar. Artistas, músicos, escritores, compositores, boêmios, aventureiros e mulherengos. Eu ainda estava absorto nos meus pensamentos quando o vigia ma avisou que iria fechar. Levantei-me e sai falando com meus botões: “Pelo menos nos quesitos aventuras e mulheres não estou decepcionando os tios !”

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National Museum of the Mighty Eight Air Force

Embora não tenha muitas peças, o acervo de filmes e fotografias é impressionante. Existem várias cabines com exibições de filmes reais de combate de todas guerras, em especial a II Grande Guerra. Do lado de fora do museu um F-4 Phantom, originalmente desenhado para porta-aviões, mas mostrou-se muito superior ao F-106 e foi adotado pela USAF. O outro avião é um MIG-17A russo fabricado em 1951 e permaneceu em operação até os anos 80, lutando no Vietnam e na maioria dos conflitos da Africa.

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Ainda o Museum of the Mighty Eighth Air Force

Em alguma ocasião já participei disso, provavelmente na I Guerra Mundial pois quando ouço o nome do Barão Vermelho o sangue ferve.

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