A caminho de Oshkosh

Westby (WI) – Green Bay (WI) – 26 de julho

Acordei hoje com bastante frio, a temperatura caiu muito à noite. Peguei a Helô, que estava debaixo da marquise na recepção e coloquei-a ao lado da porta do quarto para facilitar a arrumação da tralha.

O dia estava ótimo para uma viagem de moto: frio, nublado e sem sinal de chuva. Coloquei a segunda pele, jaqueta de couro, luvas compridas e parti para dar a famosa chance ao destino. Se bem que eu já tinha escolhido ir para Green Bay por ficar a 50 milhas de Oshkosh. Se não der certa a oferta do John em Appleton eu fico por lá mesmo, visto que consegui um hotel a preço terceiro-mundista.

A estrada me recebeu muito bem. Logo no início, em ambos os lados, flores silvestres azuis e amarelas demarcavam o acostamento.

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Viagem de moto pelos Estados Unidos

Rodei assim por um bom tempo, se bem que às vezes as flores mudavam, mas sempre dando um toque de leveza àquele ambiente de caminhões, motos, gasolina e óleo diesel.

Embora a velocidade fosse limitada a 60 milhas, era facilmente ultrapassado por todos os veículos, exceto duas charretes. Sim, duas charretes pilotadas por dois caras de camisa branca, suspensórios, barbas enormes e um chapéu de copa alta. Acredito que são de uma religião, não recordo o nome, em que as pessoas não usam luz elétrica, máquinas e outras modernidades. Eles usam um triangulo amarelo pendurado atrás para chamar a atenção dos carros. A maior loucura.

Algumas milhas após passar pelos malucos, ao final de uma reta vejo uns caminhões parados à beira da estrada e dois deles são vermelhos. Bombeiros, pensei. Reduzi, liguei a seta e entrei no pátio. Realmente tinham dois caminhões vermelhos, mas não eram carros de bombeiro. Não fiquei decepcionado pois um deles, um Ford 1938, trouxe recordações do meu pai e do tio Anélio. Meu pai largou 16 anos de Corpo de Bombeiros e a Orquestra Sinfônica Brasileira e se mandou com a família para Guiricema onde comprou, em sociedade com meu tio, um caminhão Ford 1938 para trabalharem com frete! Época de chuvas + estrada de barro + cachaça + violão = falência! Para nós, crianças, foi uma farra, mas levou tempo para estabilizar novamente, agora sem Corpo de Bombeiros, só OSB. Acho que meu primo tem uma foto desse caminhão ainda.

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Após fazer a foto dos três caminhões (o 1936 é o mais charmoso) continuei meu caminho.

Parei para fazer um lanche, esticar as pernas e abastecer a Helô. O consumo dela, transformando em quilômetros, está na casa dos 18 Km por litro. Acho alto, mas as velocidades também têm sido em torno de 75 a 80 milhas e a bichinha só tem 5 marchas.

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Segui em frente e quando estava quase secando outro tanque, me aproximo de um vilarejo, reduzi procurando um posto e vi um caminhão International igual ao do meu amigo Alan. Parei na hora e perguntei ao dono se podia fotografa-lo, ele não só concordou como abriu porta, capô do motor e me disse que o caminhão está na família há 22 anos e ainda trabalhando. Ele estava com dois tratores antiquíssimos na carreta.

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Despedimo-nos e segui em busca de um posto de gasolina quando cruza comigo um enorme carro de bombeiros amarelo, lindo. Mais adiante, uma pequena aglomeração, outro enorme carro de bombeiros amarelo parado, um bombeiro com o capacete tradicional e BERMUDAS correndo de um lado para o outro e eu sem poder acreditar na minha sorte: UM INCÊNDIO, que beleza! Mas que decepção! Foi um incêndio mixuruca, talvez uma lata de lixo ou coisa menor. Mas o carrão estava lá e tirei todas as fotos possíveis. A cidade chama-se “Wild Rose” e tem 750 habitantes. Os bombeiros são voluntários, mas achei o cúmulo o cara ir para um incêndio de bermudas. Por outro lado, dois caminhões daquele porte numa cidade de 750 habitantes já é sacanagem.

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Mas a viagem não tinha acabado e quando vou chegando próximo a Green Bay, meu destino, sou ultrapassado por uma Corvette conversível. Legal, pensei, bonito carro. Nisso, outra Corvette conversível me ultrapassa. Pô, que coincidência! Mal acabo de pensar isto, uma outra Corvette conversível. Agora chega. Isso é alguma pegadinha, por via das dúvidas passei a pilotar com uma das mãos e com a outra ia fazendo foto das cinco Corvettes, todas conversíveis. E eu sem nenhuma, injustiça. Vou fundar o MSCC – Movimento dos Sem Corvette Conversível.

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Cheguei ao hotel, descarreguei a bagagem e, após um belo banho e um lanche no restaurante em frente, resolvi testar minha sorte: telefonar para o John e ver se a oferta de estadia estava valendo ou foi apenas algo parecido com oferta de carioca. Tipo “passa lá em casa” porém o cara não lhe dá endereço nem telefone. Que nada meus amigos, o cara lembrou de mim na hora (também, com meu inglês de cais do porto, né?). Combinamos que eu iria no dia seguinte para sua casa, na cidade de Appleton a 35 milhas de Green Bay onde eu estava. Prestes a realizar um sonho, sabia que teria uma noite agitada sonhando com aviões e batalhas aéreas.

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