Blue Ridge Parkway

Asheville (NC) – Sevierville (TN) – 15 de junho

Hoje desliguei o GPS que teimava em dizer que nunca tinha ouvido falar da Blue Ridge Parkway. Parei num posto de gasolina e pedi informações ao cara do caixa (um indiano – eles me perseguem). Juntando o inglês dele ao meu o resultado foi uma volta de mais de 40 milhas para sair no mesmo lugar.

Nao discuta com o GPS, você sempre está com a razão

Mas valeu a pena, conheci o entorno de Asheville que realmente é lindo e, o que é melhor, passando por estradas que atravessam bosques, cheias de curvas e com pouquíssimo trânsito.

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Estava muito bom, mas eu não poderia ficar fazendo aquele looping eternamente. Além disso alguém poderia desconfiar daquele velho maluco rondando sua casa e chamar a policia. Procurei um lugar seguro e à sombra de uma arvore estacionei a Helô.

Viagem de moto pelos Estados Unidos

Embora não tivesse nenhuma conexão, liguei o notebook onde mantenho um mapa dos gringos, que me deu uma noção de onde estava e pude traçar um “tramo de ruta”, como dizem os arrentinos. Coloquei-o em prática mantendo o GPS desligado e quase que juro, fazendo cara de deboche para mim.

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Consegui encontrar rapidamente a Blue Ridge e comecei a praticar meu esporte predileto: pilotar uma motocicleta com a maior “finesse” possível porém com a firmeza de quem se sabe comandando, levando-a tangenciar a curva exatamente nos pontos que determinei, sem permitir “reboladas” fora de hora e mantendo o motor falando na altura que se espera de um Harley Davidson. Esse exercício é ótimo, até mesmo minha postura corrijo e não relaxo, a Helô merece ser levada a sério e o resultado é que, em determinados momentos, executamos “solos” impecáveis, dignos de uma platéia maior do que aquela que normalmente nos brinda com sua presença: esquilos, pavões e veados. Por outro lado é impossível não perceber a beleza que cerca a estrada, seja aquela colocada pela mão do Criador seja pela do homem. Parei na região do Mount Pisgah pois o frio estava aumentando. Coloquei o casaco e não resisti à orgia de cores da vegetação à beira da estrada, principalmente após a chuva de ontem à noite, acentuando aquilo que já era belo.

Viagem de moto pelos Estados Unidos

Eu fazia as fotos e pensava: “-Será que o homem, algum dia, conseguiria fazer algo tão belo ?”.

Estava refletindo sobre isso quando ouço o inconfundível rugido de um motor V8 brutalmente exigido na entrada de uma curva. Foi o tempo de apontar a câmara para a saída da curva e ter a minha resposta:

“-Sim, o homem conseguiu: um Corvette !”

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Esses episódios acontecem a cada momento mas nem sempre, na maioria das vezes quase nunca, estamos disponíveis para eles. A pressa em chegar, a ansiedade, os recordes a serem quebrados, tudo isso impede curtir uma viagem como deve ser curtida. Por isso acho muito difícil, senão impossível, encontrar um parceiro que acompanhe meus delírios e minhas infantilidades. Paciência, isso me faz um bem enorme e por isso estou aqui tentando, da forma mais honesta e sincera, relatar as emoções que fazem disparar o coração um velho motoqueiro, a caminho do poente, fazendo aquela que sempre imagina ser a última viagem.

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Encontros da terceira idade

Mount Pisgah Campground

Eu já estava próximo ao ponto culminante da Blue Ridge quando passei pelo Mount Pisgah Campground. Ali é um ponto de parada quase que obrigatório pois, além de banheiros públicos, existe um dos raros comércios da Blue Ridge. É uma espécie de empório que vende de tudo, mas eu estava interessado apenas no chocolate quente para rebater o friozinho gostoso.

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Quando estacionei, notei um grupo de motociclistas conversando animadamente sentados em cadeiras de balanço que ficam do lado de fora, na calçada. Comprei meu chocolate e fui saboreá-lo do lado de fora. Os caras me convidaram para sentar e puxaram conversa. Começamos a falar de motocicletas, mulheres, viagens e por fim já dávamos risadas das tiradas de um deles (parecia o mais velho e o mais gozador). Eles quiseram saber tudo sobre minha viagem, sobre meu país, como minha família encarava minhas viagens, etc. Por fim, quase na hora de me despedir, todos me fazendo mil recomendações, perguntando se eu tinha gasolina suficiente já que teria mais 80 milhas à frente sem postos (eu tinha abastecido recentemente), se eu tinha roupa de chuva, se precisava de algo além de palavras de incentivo cheias de calor humano, que dizem, os gringos não as tem. Como estão enganados. Sempre fui muito bem tratado por todos. Quando me viram tirando fotos das motos convidaram para voltar a sentar-me junto a eles e fazer uma foto de recordação. Coisa de Motociclistas, coisa de quem conhece a Estrada !

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A gloriosa estrela solitária, melhor do que gps

À medida que nos aproximamos do ponto culminante da Blue Ridge, a temperatura caiu uma barbaridade. É muito comum você encontrar nuvens baixas (nem tão baixas assim já que estamos a mais de 2.000 metros de altitude). Hoje, o frio estava suportável, gostoso mesmo pois o sol não deixou de comparecer à festa. É uma sensação deliciosa atravessar túneis de arvores que, por impedir a passagem dos raios solares, mantém uma temperatura mais baixa do que os trechos ensolarados. Foi assim, entremeando trechos de sombra com outros de sol que chegamos ao “overlook” onde esta o marco do ponto culminante da Blue Ridge. Como não poderia deixar de fazer, encostei a Helô próxima ao marco, ajustei a câmera no tripé e comecei a fazer as fotos.

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Nisso alguns gringos foram chegando e, educadamente como sempre, ficaram esperando a vez de fazer as próprias fotos. Quando me viram empunhando o glorioso pavilhão alvi-negro se encantaram com o mesmo e quando eu, em rápidas palavras (imaginem o que saiu !), contei-lhes as glórias do Botafogo (inclusive antecipando que seria o único clube do Rio de Janeiro a ser convidado a participar do disputadíssimo e internacionalmente conhecido Campeonato Brasileiro da Série B ) todos pediram para ter a honra de tirar uma foto segurando a bandeira desse tal de “Put-Fire”, clube que mais cedeu jogadores para as seleções brasileiras que conquistaram títulos mundiais, fora os ovos …

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Hoteis lotados e caros em Cherokee, hoteis ótimos e baratos em Sevierville

A Blue Ridge nos deixa praticamente dentro de Cherokee, acontece que hoje (junho 15) é domingo, pleno verão e a cidade ferve. Consegui uma conexão de internet e através do site www.hotels.com consegui um Days-inn numa cidade chamada Sevierville (TN), próxima a Gatlinburg que conheço (e acho ótima). Como o preço era para lá de convidativo (40 obamas + cafe da manhã) e depois do rombo nas minhas finanças por causa do reparo na Helô, entrei num corte de gastos que deveria servir de exemplo para esses perdulários que nos governam (ou deveriam). Quando cheguei, um monte de surpresas: a cidade é uma loucura, parece uma mistura de Disney, Universal Studio e Las Vegas.

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O hotel é fantástico, foi de longe o melhor em que fiquei até agora, instalações novíssimas, 2 camas king size e aquele monte de travesseiros que até hoje não sei para que servem, além das guerras de travesseiros organizadas com as “primas” do Photo (bons tempos), micro ondas, cafeteira, geladeira, cafe, chá, ferro de engomar, tábua de passar roupa, etc…

Foi tão bom que fiquei mais um dia para tentar organizar meus escritos e lavar minha roupa, pois estava ficando chato um monte de abutres sobrevoando a Helô por onde passávamos.

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