Great Falls (MT) – Gardiner (MT) – 18 de julho
Sai de Great Falls, onde fiquei um dia descansando para o desafio de amanhã da minha viagem de moto pelos Estados Unidos, e fui para Gardiner, onde consegui uma cama num hostel. Quase todos os hoteis da região estão lotados e os poucos que tinham vaga cobravam 300 dólares a diária. Por esse preço durmo no Cafe Photo com 2 “primas” me embalando, com todo o respeito, naturalmente.
Como eu tinha tempo de sobra, pois queria chegar no tal do hostel só na hora de dormir, fui mais devagar do que de hábito.




Passando por Shields River Valley, deparei-me com essa estátua à beira da estrada. Trata-se do “Thunder Jack”, uma escultura dedicada a todos aqueles que desbravaram e viveram nas montanhas da região. Aproveitei e auto-nomeei-me “Thunder Hélio” o que gostaria de desbravar e viver nas estradas. Um dia eu chego lá.

Chegando próximo a Gardiner, cerca de 40 ou 50 milhas, o rio Yellowstone corre paralelo à estrada que, por sua vez, corta a Gallatin National Forest formando paisagens lindas e que mereciam ser curtidas. O tempo sobrava e lá ia eu me deliciando. O problema é que tem coisas que só acontecem comigo e com o Botafogo. Na última parada que fiz, existia umaárea bem larga para colocar a Helô em segurança, descer com calma, tirar o capacete e até mesmo as luvas, beber um gole d’água já meio morna, escolher os ângulos adequados e fazer as fotos de praxe. Quanto terminei a sessão de fotos, vi que havia uma espécie de rebaixo um pouco mais distante da estrada e fui até lá na espectativa de ser um riacho. Quando cheguei perto havia apenas um filete deágua e um monturo que, de início, não entendi o que era, cheguei mais perto e tomei um susto, era a carcaça de um animal (não muito pequeno) e partes de um outro recém abatido. Meus amigos, os cabelos da sola do pé (e de outros locais) arrepiaram. Interrompi a refeição de alguém e isso é uma ofensa muito grave. Bati uma foto (não tive coragem de fazer outras) e sai numa desabalada carreira, nem sei como prendi câmera, capacete e luvas na bagagem ! Parei mais na frente, na entrada de um rancho, arrumei a bagagem e fui direto para o hostel. Melhor ficar sem fazer nada do que virar comida de urso.

Até que o hostel era maneiro, o pessoal da recepção supersimpático, roupa de cama e toalhas limpas e ainda me serviram um drink como cortesia (e depois do susto eu precisava mesmo de “firmar o caráter”) O quarto tinha duas beliches. Apenas uma cama estava ocupada por um baixinho com a cara toda arranhada. Depois vim saber que a mulher encheu-lhe de porrada, no que ela deve ter toda a razão. Baixinho é folgado pra cacete.
Para fazer hora fui até o centro da cidade a cerca de 10 milhas. Uma deliciosa estação de inverno, mas que no verão também tem um movimento muito grande, afinal é a entrada Norte para o Yellowstone National Park, destino de turistas e motociclistas de todas as partes. Aproveitei para saborear uma cerveja geladinha e descobri minha xará, uma cerveja chamada “Helio”…..coisas de botafoguense e motociclista….

Resolvi abastecer a moto e de repente vejo um grupo com um senhor de meia idade e umas 5 crianças, uma delas gritou para o adulto: “-Olha, brasileiro !”. O cara veio falar comigo e disse que a mulher dele era brasileira e o garoto, sobrinho dela, também. Batemos um papo rápido e nos despedimos, mas notei que o garoto (o nome era Pedro, e devia ter uns 8 a 9 anos) era introvertido e ficava de olho comprido na moto. Eles foram embora e eu continuei abastecendo. Quando terminei, liguei a moto e saí. Uns 2 quarteirões à frente vejo o grupo na beira da calçada, eu vinha no embalo, mas alguma coisa me fez dar uma reduzida, ficar em pé no estribo, bater a mão e gritar para ele: “- Fala Pedro !”. Ví os olhos do moleque brilharem, afinal um motociclista (não importa que seja um velho encarquilhado), numa Harley-Davidson, reconheceu-o no meio de um monte de gringos !




Hoje, durante a viagem pela Beartooth vinha pensando, a gente discute soluções mirabolantes para o mundo e não consegue fazer porra nenhuma. Por outro lado, uma ação pequena dessas pode dar uma alegria, mesmo que momentânea, para uma criança que está longe de casa. O engraçado é que parei para tomar uma cerveja e em pouco eles chegaram, a esposa e o sogro do cara também, ficamos batendo um papo muito gostoso, trocamos e-mails aumentando o círculo de energia positiva que envolve esta viagem. Muito bom isso.
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