Me imagino encostando a moto na porta do ceu (tomara não seja outro lugar senão junto a Deus), rebatendo o descanso de uma velha moto e desligando o seu motor cansado e quase fundido.
As botas pretas desgastadas, a jaqueta de couro desbotada pelas ações do sol e da chuva, a calça jeans de tecido puído com alguns remendos feitos à mão.
No corpo, as ações do tempo: a pele marcada pela velhice e algumas cicatrizes nas pernas e nos braços, denunciando que os erros e tropeços fizeram parte da longa jornada.
É quando, antes de caminhar até o grande portal iluminado, eu retiro as luvas de couro e bato com as mãos na jaqueta e na calça, tirando um pouco da poeira que toma conta de mim por inteiro, demonstrando os milhares de quilômetros percorridos em vários anos, as amizades conquistadas no caminho e ainda o cheiro da minha mulher e das minhas filhas misturado ao odor do meu suor, pois o cheiro delas se misturou ao meu em todos esses anos. Na verdade, não somos dois, três ou quatro; somos um único ser, dividido em vários corpos, guardados pelas mãos do mesmo Criador.
Enfim, ao bater o sino do portal e este se abrir vagarosa e solenemente, eu me ponho de joelhos diante de Jesus Cristo e lhe digo, com voz cansada e trêmula: “Obrigado, Senhor, por essa maravilhosa viagem; aqui estou junto de Ti, pois sempre soube que estiveste ao meu lado por todos esses anos. Obrigado, meu Senhor e meu Deus”.
Após a minha entrada, o grande portal se fecha e a vida segue adiante.
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