Num primeiro instante pode parecer que estamos tratando de teoria científica, sobre a relatividade restrita e geral, passando pelas quatro variáveis do espaço-tempo e pelo paradoxo dos irmãos gêmeos, cujos postulados são atribuídos ao físico alemão Albert Einstein, apesar de historiadores e físicos atribuírem parte desta história ao físico italiano Olinto De Pretto, como tantos outros conflitos entre criações e criadores.
Tudo isso pode também parecer muito complexo, dada a profundidade de estudos pra seu entendimento, pra compreender eventos que não são óbvios, como por exemplo, que o tempo é uma variável nas comparações entre observadores movimentando-se a velocidades próximas à da luz e em repouso na terra, comprovada com experimentos na aplicação de relógios atômicos de altíssima precisão. Ou que o espaço se torna deformado quando a força da gravidade é muito alta.
Pois então, esta Teoria da Relatividade descreve um conjunto de teorias de difícil entendimento pra os não físicos, matemáticos e estudiosos do assunto, mas que é possível, mesmo com toda complexidade, entendê-la na sua plenitude com alguma dedicação.
Vamos adotar um homônimo da Teoria da Relatividade para algumas facetas da condição humana, onde embora não sejam nada complexas, não existe dedicação que possa compreendê-las.
Uma Teoria da Relatividade que trata do que é relativo pra nós, da nossa condicionalidade e contingência como pobres mortais que somos.
Com qual intuito?
O de demonstrar que para tudo, mais caracterizado quando temos um conflito ou insatisfação, existe algum significado quando comparado com algum outro ponto de referência, um outro ponto de vista.
Quantos de nós já não experimentamos, sem nos aperceber, dois momentos distintos, quando primeiro estávamos trafegando calmamente a passeio, sem nenhum compromisso de horário, e surge aquele apressadinho atrás piscando o farol, buzinando e colando na nossa traseira. Momento que ficamos tensos e perturbados pela dificuldade de permitir a sua passagem, e em muitos casos pensando alto. “Está com pressa? Passa por cima”.
Ou no segundo momento, daquele que já saímos atrasado de casa pra um compromisso importante, e damos de cara com aquele “tartaruga” trafegando em primeira marcha, parecendo que vai dar ré, quando ficamos tensos e perturbados, piscando farol e colando na traseira dele, e em muitos casos pensando alto. “Anda ou sai da frente, senão passo por cima”.
Dois momentos de iguais disparidades, alternando somente o protagonista e o coadjuvante, caracterizada por esta posição relativa, que pode formular uma teoria nada complexa, mas de difícil compreensão.
Pura relatividade, condicionalidade e contingência provocada pelo nosso psíquico.
Quantos abençoados motociclistas tupiniquins participam na sua plenitude dos encontros internacionais Sturgis Motorcycle Rally e Daytona Beach Bike Week? Que acontecem respectivamente na cidade de Sturgis na Dakota do Sul e em Daytona Beach na Flórida, nas terras do Tio Sam.
Para esta epopéia, estes afortunados motociclistas se mobilizam a pesquisar os diversos pacotes existentes, providenciar passaporte e visto caso não tenham, comprar dólares, providenciar um cartão internacional, promover um tímido e na maioria das vezes em vão upgrade no inglês e comprar uma nova bota, jaqueta e outras vestimentas pra ficar “bonito na foto”, literalmente. E outros mais, as custas de muito tempo e dinheiro.
“Bem, mas afinal estou indo para os maiores encontros de motociclistas do mundo”.
Sem dúvida são. E são com muitas motocicletas, muita gente, e lógico, tudo em dólares e com long neck de 250 ml das americanas Bud Light e Corona Extra, ou da igual a nossa Heineken, pelos “míseros” US$ 5. O equivalente a cerca de R$ 10 por “uminha” long neck, que merece ser tomada com “conta-gotas”.
Longe deste texto ser baluarte da esquerda fajuta, destes pseudo-proletariados pulsantes por aí, entendemos perfeitamente que quem tiver oportunidade de participar deste “easy rider turístico”, com todo o direito deve fazê-lo, como a grande maioria de nós gostaríamos e pretendemos um dia “gastar o nosso ingreis”, quem sabe.
O fato de tais citações é outro, e nos traz de novo na nossa recém criada Teoria da Relatividade, homônimo da outra.
Experimentamos por diversas vezes nos últimos tempos, momentos indescritíveis em grandes encontros neste Brasilzão, me referindo principalmente aos que foram arquitetados e realizados por moto clubes e motociclistas como os nossos e a gente, respectivamente.
Eventos que não podem ser comparados com os “tão bons” e “ianques” Sturgis e Daytona. Pelo o quê?
Vamos lá, pelo idioma oficial não ser o inglês, por não estarmos num outro país e num lugar mais longe do que qualquer outro aqui, por não ter um grande número de motocicletas tão fantásticas, por não ter mais Harley do que motociclista, por não ter “belas damas” em quase completa nudez e mais algumas pequenas coisas. E só.
De novo com essa teoria nada complexa, mas de difícil compreensão, procuramos entender o psíquico de muitos motociclistas deste grupo de abençoados, e de outros tantos do grupo que na primeira oportunidade se lançarão nesta dita epopéia.
Quando estes, e depois de desfrutar de uma festa do nosso motociclismo com boas bandas, boa infraestrutura, área de camping e café da manhã para os menos favorecidos, arrecadação de míseros reais ou alimentos pra uma importante ação social e toda a cordialidade e interação dos moto clubes anfitriões no idioma português, decidem por esbravejar em diversas mídias sociais e outros veículos de comunicação que é um absurdo a latinha de cerveja de 350 ml custar R$ 4 e circular num evento abarrotado de motocicletas e motociclistas.
Certo. Achas que exageramos um pouco?
Que nada, estas diferenças se tornam mais irrelevantes ainda, se considerarmos, como conhecido por muitos e muito bem exemplificado um dia por um amigo do American Veterans MC, que nestes encontros “ianques” praticamente não existem motociclistas com colete, pois dada a cultura reinante na sociedade e motociclismo americano, seria o equivalente a organizar aqui uma festa com as torcidas uniformizadas do Palmeiras, Corinthians, São Paulo, Santos, Flamengo, Fluminense, Botafogo, Vasco, Atlético Mineiro, Cruzeiro, Internacional, Grêmio, Bahia, Vitória, Sport, Náutico, Santa Cruz e de outros queridos times brasileiros devidamente trajados.
Não temos nada contra nenhuma delas, mas todo mundo sabe que seria um desastre. Imaginem só!!!
Existe uma demasiada valoração destes encontros internacionais, a ponto de motociclistas tupiniquins se sujeitarem a todas as condições deles, sem reclamar de nada e arcando com expressiva monta de recursos pra realizar este desejo. Nada contra isso.
Mas existe em contrapartida uma exigência demasiadamente excessiva com grandes eventos de motociclistas em terras tupiniquins, principalmente os arquitetados e realizados por moto clubes e motociclistas, que mesmo que façam muito, muitos exigem que façam muito mais, sem quererem em troca dispor de quase nenhum recurso.
Esta divertida criação da nossa Teoria da Relatividade, sugere aos interessados que pensem nisso.
E continuem com as motocicletas nas estradas.
E boa viagem.
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