Geração “top de linha”

O que num primeiro momento parece significar somente um estágio de evolução, com um diferente olhar podemos encontrar amarras que nos impedem de ter um novo entendimento do verdadeiro saber viver, e efetivamente praticá-lo.

O mundo moderno, sem apercebermos, se utiliza da construção de padrões de comportamento que nos induzem a pensar exatamente como outros e como alguns estrategicamente querem que pensemos. Numa espécie de direcionamento dos nossos anseios e expectativas, com pseudo-benefícios pra gente e total benefício$ pra eles.

Top ten, top five, top line, the best, de ponta, o melhor, …, ufa!!! Nada mais nos serve se não estiver acompanhado desses adjetivos. O bom não serve, queremos o melhor, sempre.

Passa pelo celular com tudo que se pode imaginar. “Saiu um agora com furadeira e parafusadeira!!! Eu quero!!!”

Passa pelo Iphone, Ipod, Ipad, tablet e netbook rumo ao infinito. “Deixe encomendado, também vou querer”.

Podemos tolerar uma provisória insatisfação com “aquilo” não muito bom, mas cegamente de olho e quase alcançando “aquele” objeto do desejo. Será a nossa redenção.

Passa pela TV de LCD, de Plasma, de LED, de Multi-LED, de nada, … “Epâ, de nada?” Aí, nem saiu ainda e já estão interessados.

E os tamanhos então? 29″, 32″, 40″, 42″, 50″, 52″, 60″, … Qualquer hora vai dar pra cobrir o quarteirão.

É certo que não vamos parar, mas onde a gente vai parar?

Estamos sendo induzidos a desenvolver continuamente o materialista e insensato desejo de querer tudo “top”. Automóvel, motocicleta, “life style”, …, querendo que fique fora dessa nossa lista, em prática, somente o nosso belo caixão de funeral.

E de toda essa lista, tenha certeza, embora não seja nosso objeto de desejo, ele é o mais certo de conquistarmos.

E neste dia, do que valerão o Ipad com 1 terabyte de memória, a câmera fotográfica com 20 megapixel, os sofisticadíssimos objetos desta falsa modernidade e os automóvel e motocicleta que passam fácil dos 200 km/h. Bom, talvez pra adiantar o último objeto de não-desejo e que será lhe dado de presente no seu funeral.

Esta insana e sempre constante busca pelo melhor de tudo não faz sentido.

Faz todo o sentido termos apenas um meio para enviar uma mensagem amiga e confortante pra alguém em que seu mundo neste dia está obscuro e frio, faz todo o sentido termos apenas um meio pra registrar aqueles momentos mágicos de pura beleza e mostrar ao mundo que apesar de tudo a vida ainda é maravilhosa, faz todo o sentido termos apenas um meio pra nos deslocarmos e levar nossa ajuda, amizade e companheirismo aos lugares mais longínquos, … Isto sim faz todo o sentido.

Não podemos nos desvirtuar no entendimento claro e verdadeiro de que os meios fazem sentido e servem somente pra nos proporcionar uma melhor qualidade de vida, nossa e de todos à nossa volta.

Não podemos fomentar a cultura do ter algo, e sim a do ser algo. Algo pra nós, pra alguém ou pro mundo.

Não estamos a digladiar com o sistema capitalista ou com o desejo das pessoas de ter algo de luxo ou que seja supremo na sua classe, muito pelo contrário, estamos a propor que nos desarmemos, que não passemos a vida nesta batalha e insana busca de tudo do melhor, que entendamos que algumas coisas “menos” são mais do que suficientes pra nós.

Que a sua casa possa não ser do tamanho do seu sonho, mas que possa ser do tamanho do seu coração quando receber os amigos e viver com sua família.

Que a sua motocicleta possa não ser aquela de quase 2 milhares de cilindrada e 2 centenas de potência, mas que lhe sobrará recursos para toda a indumentária pra sua segurança e estar presente em muitos encontros com amigos de fé e destino.

Que para algumas coisas possamos ser a geração “bottom line” e ainda assim elas nos serão mais do que suficientes.

Que não deixemos que esta busca continue a ser estressante e cegamente nos impeça de entender o sentido de desfrutar tudo de bom que já temos e podem nos permitir viver maravilhosamente bem.

Boa viagem.


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