Nem 8, nem 80, nos eventos no motociclismo

Nem 8, nem 80.

Essa ladainha é antiga e sempre volta, com praticamente a mesma roupagem. Gerando um certo estresse entre alguns motociclistas e moto clubes, cujas discussões e alardes por fóruns e blogs são tão acaloradas, que acabam afetando a todos, ao menos um pouco. O que não é um grande problema, pois apenas brota uma cara feia daqui e outra acolá, uma inimizade “temporária” de uns aqui e de outros ali, e a gente sobrevive seguindo em frente. O tempo cura e sobrepõe tudo isso, ao menos até a próxima.

Não estamos aqui pra por lenha na fogueira ou apagar incêndio com gasolina, muito menos pra decifrar quem está certo ou errado, nesta sempre revivida história no nosso motociclismo.

Vamos nos ater aos fatos.

Uma grande verdade: não é fácil organizar um evento no motociclismo, e esta dificuldade é diretamente e exponencialmente proporcional ao seu tamanho. Independente do seu tamanho, eles se dividem em duas espécies de eventos, por princípios. Onde na primeira, realizado com maiores facilidades, quando empresas e pessoas do motociclismo os empreendam com o objetivo principal de ser um negócio que traga dividendos para eles e empresas participantes, já que esta é a razão da existência, trabalho e dia-a-dia delas em todo o ano. E a segunda, realizado com mais dificuldades, quando moto clubes, moto grupos e pessoas do motociclismo os empreendam tendo como objetivo principal o motociclista, porque em tese, deixem este “porém” pra daqui a pouco, os protagonistas destas iniciativas não vivem do motociclismo, vivem para o motociclismo, com todo o ônus que esta dedicação provoca na sua vida pessoal.

Com relação aos eventos empreendidos por empresas e pessoas do motociclismo, com fins meramente comerciais para potencializar ao máximo a lucratividade, esta viagem é escolha de cada um, e tenha certeza que nenhum verdadeiro motociclista ou moto clube irá ficar desapontado ou com inveja por teres ido. A escolha pra estar presente nestes eventos, que via de regra são os maiores, não são exatamente as melhores pra quem vive o nosso motociclismo de clubes e grupos. Entendemos que estes eventos são como ir ao Salão 4 Rodas ou 2 Rodas, onde se avalia quais são os benefícios em estar presente e decide em contrapartida arcar com os seus custos.

Nem 8, nem 80.

Mas a polêmica geral sempre aparece nos grandes eventos empreendidos por moto clubes e moto grupos, ou co-empreendidos por eles. Pra grande maioria deles, toda esta avalanche de críticas não é justa, no sentido que tudo de positivo que os moto clubes, moto grupos e seus integrantes fizeram ao longo de um ano para realização do seu evento, é posto à prova e subjugado por alguns comentários com pouco embasamento ou sustentabilidade.

Na real, a grande maioria destes eventos proporciona, se os interessados se mobilizassem previamente para encontrar hospedagem, uma boa condição de consegui-la com opções a preço justo, sem falar que em quase todos estes eventos são disponibilizadas áreas de camping satisfatórias, e acampar é coisa de motociclista também, certo? Ao menos deveria ser, de vez em quando ou na falta de opções.

Somos bons exemplos nesta vivência de procura prévia nos últimos eventos do Penedo Riders, Niterói Motofest e Ostras Cycle, além de mais alguns e de ter acampado em vários, por opção nossa ou na falta de hospedagem.

Existe outra estratégia que também já funcionou, pegando a lista de pousadas e imobiliárias, e ligando uma-a-uma um ou dois dias antes do evento com a seguinte proposição: “Estamos procurando desistência”. Com pouco empenho deu certo algumas vezes, e com diárias bem em conta.

Enfim, não dá pra passar toda esta carga de responsabilidade quanto a oferta de hospedagem e o abuso de preços, por parte do comércio de hotelaria e locação de casas e apartamentos, para os moto clubes e moto grupos anfitriões. Consegue-se no máximo o compromisso de apenas alguns estabelecimentos da rede hoteleira e proprietário de imóveis, em uns eventos mais e outros menos.

Na negação de um grande evento ainda existe uma verdade dita por alguns, quando se pronunciam que preferem participar de eventos menores. Esta é uma verdade pra grande maioria dos motociclistas de moto clubes e moto grupos, e a quase totalidade de eventos que participamos ao longo do ano. Verdade por eles nos proporcionarem condições excelentes para a socialização e comunhão do nosso jeito de viver o motociclismo com tantos outros. Nota-se ainda que estes eventos são cenários perfeitos e indutivos pra não gerar descontentamentos, pois partimos da premissa, muito antes de irmos pra eles, pelo próprio conhecimento de baixo orçamento e grande dedicação de seus protagonistas pra que tudo saia o melhor possível, que se algo não estiver bom, é certo que foi o que esteve no alcance deles de fazê-lo. Em suma, nestes eventos as nossa expectativa com relação aos seus proventos é baixa e a nossa tolerância pra tudo é mais alta. Praticamente zero de descontentamento.

A decisão na troca do comparecimento em um evento grande em prol de um evento pequeno é de cada motociclista, e ainda assim, muito boa para o nosso movimento e irmandade, porque entendemos, que ela é suficientemente grande pra fazer de todos os eventos, mesmo “concorrentes”, uma grande festa do motociclismo. Consideramos ainda que mesmo moto clubes e moto grupos com eventos “concorrentes” em termos de agenda, devem manter uma postura de apoio de um para o outro, e não a de fomentar uma disputa, chegando até se utilizar destas críticas em fóruns e blogs pra incitar esta polêmica.

Muitas das críticas aos grandes eventos empreendidos por moto clubes e moto grupos, se utilizam do princípio que define um copo com água até a metade como quase vazio, nós preferimos defini-lo como quase cheio, pois é uma forma muito mais otimista e positiva de ver a mesma coisa.

Entendemos que o cuidado com o motociclista ou triciclista passa por tudo que lhe pode ser oferecido pra sua segurança, subsistência, entretenimento e diversão, desde o momento que ele sai de sua residência, até o seu retorno pra ela. O quanto mais perto da perfeição pudermos atendê-lo neste contexto, maior será o retorno pra todos, para o motociclismo e pra nossa vida.

Considerem ainda que pregamos ser uma irmandade, e como tal, devemos ao menos respeitá-la mais, e aos nossos semelhantes, praticando um viver no motociclismo com maior tolerância e com foco no nosso objetivo principal, remanescente dos seus primórdios, cuja composição passa pela amizade, respeito, liberdade, responsabilidade, cumplicidade, solidariedade e amor ao próximo, de motocicleta por todos os lugares que se possa estar.

Nem 8, nem 80.

Que venham todos o eventos empreendidos para motociclistas. Em algum, seja pequeno ou grande, é certo que estaremos.

Boa viagem.


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