Andando na contramão

Não!

Não estou me referindo à condução da minha motocicleta desta maneira, em total desapego à vida e desrespeito às leis, colocando terceiros e eu próprio à riscos extremos.

Estou traduzindo esta minha colocação em função do sentimento de consternação com relação a uma porção de modernos dogmas de “sucesso” e suas frases de efeito, do tipo “o mundo exige sobremaneira que o profissional seja altamente competitivo”, “nasci pra comandar e não pra ser comandado”, “o mundo não tem lugar pra perdedores, somente pra vencedores” ou “que devemos sempre ter foco no nosso sucesso individual em primeiro lugar”.

Provavelmente, neste aspecto, sempre andei na contramão, pois aprendi e procurei ensinar que em vez de ser competitivo, vale muito mais a pena ser colaborativo. Que não importa se és comandado ou comandante, faça o que é certo, sem falar que até o presidente da empresa é comandado, pelo cliente, mercado e conselho administrativo. Que é possível ter uma justa vitória sem que existam necessariamente perdedores. Ou que conjugarmos um verbo utilizando “nós” depois de uma conquista é sempre muito mais coerente e justo do que utilizarmos “eu”.

Acreditando e procurando sempre mostrar que a riqueza está em ser uma pessoa de valor, não de sucesso.

Mais assustador ainda é ser testemunha viva do repentino sucesso em que se transformam alguns protagonistas destas frases, utilizadas na mesma oratória em palestras pra todos os cantos, e livretos com título do tipo “como ficar rico” ou “como ser um profissional de sucesso”. Completado pelo excesso das mídias pagas e subseqüente opinião pública, armadilha desta sementinha plantada por eles, que quando brota, todos passam a denominá-los gurus ou semideuses da administração moderna, gestão de negócio ou coisa e tal.

Se os discursos destes senhores fossem tão proféticos assim, o mundo deles, que passa a ser nosso quando não dá certo, não estaria mergulhado nesta crise econômica mundial e com dificuldade de discutir e encontrar um caminho mais esperançoso pra este modelo decadente de capitalismo.

Continuo na contramão, acreditando que ter mais às vezes significa ter menos. Ter menos remuneração, quando abdicamos das constantes e “viciantes” (sic) horas extras, pra ter em troca mais qualidade de vida, mais amigos e mais convivência com filhos e família.

Ter menos vontade de adquirir todos os itens de consumo da moda e dos sonhos, pra ter mais recurso pra nos dedicar ao que nos traz realmente alegria, e aos nossos familiares e amigos, lembrando sempre o quão numerosa são as coisas que possuímos e sem as quais poderíamos passar perfeitamente.

Deveríamos nos lembrar todo o dia disso, de que muito pouco é necessário para termos uma vida feliz.

De novo na contramão, proponho um desafio contado pela nossa história, por nós mesmos, influenciados certamente por pessoas singulares dela e que nem por isso chegaram a ser denominadas gurus ou semideuses do que quer que seja.

A história da humanidade é permeada de acontecimentos comprobatórios que a desobediência, por uma causa justa, é uma grande virtude do homem.

Em quantos e inúmeros momentos da vida, interrompemos a nossa caminhada por depararmos com portas colocadas à nossa frente, sem ao menos ir nos certificar que elas estavam abertas?

Um dos mais irreconhecíveis privilégios do homem é viver uma vida difícil, que nos transforma, e a ela também, em plena felicidade, por seus resultados e conquistas, mesmo que modestos.

Pois então, vamos em frente, vamos passar por estas portas e contar a nossa história.

O segredo da felicidade de um verdadeiro motociclista não está em fazer sempre o que se quer, mas em querer sempre o que se deve fazer.

E aí? Ande na contramão, conte-nos a sua história.

Aguardo-os na primeira oportunidade, quem sabe no próximo evento ou em algumas linhas como estas, publicadas em algum lugar.


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