Pouco mais que cinco horas da madrugada fria…
Com um breve estalo o ronco grave do motor corta o silêncio… inspira confiança.
O vapor nevoento sai dos escapes condensando ao contato com a atmosfera, Minha respiração também.
Estamos prontos !
A bagagem bem amarrada foi planejada durante meses, bem como o roteiro. Cada quilômetro foi revisado dezenas de vezes, cada posto, cada pousada, todas as aventuras e pontos de interesse foram estudados, vividos na teoria, eleitos após pesquisa, sonhados… sim, estamos prontos !
Horário preciso, mapas atualizados, clima consultado. As velhas botas, companheiras de tantas aventuras, foram engraxadas antes de calçadas. A jaqueta de couro está encerada e suportará bem a brisa matutina, o Sol a pino, o orvalho do entardecer e até alguma chuva eventual até alcançar um abrigo. Sinto-me confortável.
Estranhamente, a ansiedade que predominou nos últimos dias se esvai por encanto dando lugar a um prazer entorpecente. Não há mais espaço pra dúvidas. O espaço foi minuciosamente organizado e utilizado de forma prática e funcional.
O aquecimento do motor é também o meu, enquanto limpo as lentes de meus óculos e a viseira do capacete. Como de costume, apalpo meus bolsos certificando-me da presença de minha carteira de documentos e dinheiro. Relembro do tanque abastecido, dos pneus calibrados, da revisão,,, estou seguro e a viagem que começou muito antes agora vai se realizar…
A rotação abaixa, a marcha lenta estabiliza. É o sinal.
Antes de colocar as luvas afago a cabeça de meu cão que, com seu olhar melancólico se despede entendendo a promessa de que logo nos veremos novamente, que voltarei com a bagagem mais repleta do que agora pois carrego sonhos e retornarei com realizações, que trarei o espírito renovado. Mas uma coisa ele sabe ao ver o portão se fechando e acompanhando com os olhos minha montaria na moto: Eu já não pertenço mais a esse lugar. Agora não pertenço a lugar nenhum. Meus pés já não estão mais no chão, acelero…
Estou livre !
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