Grande moçada, acabou o recreio. Enquanto estávamos trabalhando duro para dar condições mínimas de segurança para que as Goldwings encarassem uma Estrada, fazíamos pequenas incursões por cidades próximas a Charlottesville, tais com Orange, Staunton, Winesboro, Richmond e outras menos votadas para testar nossas modificações e verificar o grau de confiabilidade das maquinas.
A única viagem, até então, foi a minha trazendo a moto de Detroit, por sinal com sérios problemas de freio. Foi uma luta trazer a danada com o disco dianteiro esquerdo arrastando por 750 milhas.
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Aliás, freio é um assunto em que ficamos doutores, principalmente no que se refere à Goldwing. Como todo motociclista sabe, quando o freio bloqueia roda traseira a ação a ser tomada é manter o freio bloqueado, já quando o freio bloqueia a roda dianteira, a ação é inversa, ou seja solte o freio e volte a pressiona-lo em seguida. Se você tem um pedal que aciona o freio traseiro e o freio dianteiro (o disco da direita) simultaneamente, como é que você faz para segurar um e liberar outro ? Os japoneses, querendo auxiliar a grande maioria que não sabe utilizar os freios, criaram o pior dos mundos já que na época não existia o ABS. Bem mas esse é um assunto chato, o fato é que trabalhamos como uns condenados, as motos ficaram razoavelmente seguras mas obrigando-nos, em contrapartida, a adotar algumas ações que minimizam os riscos, por exemplo: aumentar a distancia para os veículos à frente, abusar de usar a redução de marchas e outras manobras que tem nos mantido incólumes.
Nessas andanças por perto participamos de 2 encontros de HD, um em Orange e outro em Staunton. Neste ultimo havia um lanche (barbecue with iced tea) que custava 5 dólares. Ao chegar perguntei à gerente da Harley se havia alguma “ATM machine” pois eu precisava de grana para pagar o tal de churrasco. Ela me pediu desculpas por não ter a tal maquina cuspidora de dinheiro e pediu-me para aguardar. Foi ate o escritório e voltou de la com uma nota de 10 dólares como cortesia da HD. Quando fui lá fora dar a noticia ao Cyro ele estava com um mecânico da Harley (que falava ao telephone) ao lado de sua Goldwing. Não é que ele foi pedir uma “dica” de como soltar a roda da moto e o mecânico, após olhar, ligou para uma concessionaria Honda (em outra cidade) para confirmar ! Ali eu tive a certeza de que estava no primeiro mundo.
Em Orange a recepção não foi menos amistosa. Após uma curta mas emocionante viagem por uma estradinha cheia de curvas e passando por inúmeras propriedades rurais, onde o risco de um trator ou um cavalo surgir à sua frente é considerável, chegamos ao dealer da HD. O próprio dono nos recebeu, um senhor de uns 80 anos mas entusiasta e praticante do motociclismo. Deu-nos inúmeras dicas para as viagens e convidou-nos para um evento anual da concessionaria (em junho) onde a polícia fara um mini-rodeio com seus competidores. Vou tentar inscrever o Cyro sem ele saber e depois digo que sou o instrutor dele, hehehehehehe.
Semana passada, com tudo pronto para largarmos, o motor de arranque da moto do Cyro pifa. Não vou entrar em detalhes mas conseguimos resolver com o auxilio de um velho corredor de motos que matou a charada e nos deu um solenoide usado que trocamos e o arranque ressuscitou. Logo resolvemos botar o pé na Estrada pois estávamos desconfiados que tudo isso era frescura das motos. O fato é que domingo, por volta das 11 horas, partimos céleres para a Blue Ridge Parkway e suas promessas de aventura. Foi entrar na Estrada e o desempenho das motos começa a melhorar.
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O sol nos obrigava a pilotar em mangas de camisa. O Cyro ofereceu-me bloqueador solar mas eu desdenhei: “- Quem pega o sol de Cabo Frio não tem medo desse solzinho daqui.” à noite arrependi-me amargamente disso. Torrado como um camarão e um principio de desidratação (além do mais, como todo velho, não tenho sede). Quando paramos no hotel em Roanoke só quis saber de dormir. No dia seguinte, já melhor e levando duas garrafas de Gatorade, apontamos a proa das maquinas em direção a Blowing Rock, nossa próxima etapa, e partimos com receio da chuva anunciada para a tarde. As paisagens se sucediam de uma maneira que é impossível cair na monotonia, por outro lado, a confraria dos motociclistas é incrível, todos fazem questão de se cumprimentar e se auxiliar, não importa a marca, o modelo e o valor da moto pois antes de mais nada são todos motociclistas.
Como nossas paradas são frequentes, para esticar as pernas e para tirar água do joelho (em consequência da idade, da péssima ergonomia das Goldwings e do remédio para hipertensão), acabamos por prejudicar nossa média horaria e, nesse momento, o meu amigo Cyro esquece o valor das multas e a nossa idade e enrosca o punho com vontade, naturalmente que tenho que fazer o mesmo para não perder o cara de vista. É um tanto arriscado mas lindo de se ver : duas Wings riscando o piso imaculado da Blue Ridge Parkway com as braçadeiras do escapamento, ainda por cima pilotadas por dois velhos que se comportam como dois adolescentes com pouco siso, como se dizia antigamente. Hoje seria: “dois velhos com bosta na cabeça”
Verdade seja dita, conseguimos chegar a Blowing Rock num horário decente e a chuva só nos pegou já no estacionamento do hotel.
Apos o jantar estudamos o percurso de hoje (22/05/2012) e chegamos à conclusão que pegaríamos chuva na parte mais alta da Estrada se saíssemos tarde. Não tínhamos muito o que fazer. Saímos o mais cedo possível para passear antes da chuva mas consertos na Estrada atrasaram-nos bastante, além disso paramos para almoçar em um restaurante mexicano com aquelas musicas de “mariaches”, aquilo dá um sono desgraçado.
Acabamos por sair tarde mas foi bom por termos a oportunidade de ver algo de que jamais me esquecerei. Estávamos parados para mais uma sessão de alongamento e xixizamento quando param duas motos: uma Honda speed e uma Touring, se não me engano Yamaha com um casal de coroas (mas bem coroas mesmo, assim como nós ). A senhora pilotava a Honda (linda a moto com motor em V), apos nos indicar onde parar para almoçar montaram na moto e saíram. Nós saímos imediatamente atrás. Só pela maneira como a coroa saiu pedi a Deus que o Cyro não tentasse segui-la pois a velha filadaputa tocava uma barbaridade e o velho pançudo não ficava para trás (esqueci de dizer que o coroa tinha uma barriga momesca). Qual o que, o Cyro saiu que nem um alucinado e eu tentando acompanha-los, a estrada naquele trecho lembra muito a Av. Niemeyer mas a velha estava possuída, você não via luz de freio em nenhum momento, ela sabia o que estava fazendo com aquela moto. Para mim era coisa de profissional. Depois de duas ou três curvas em que tive a sensação de ouvir o Ayrton Senna conversando com o Elvis Presley sobre a importância do rock na velocidade, entreguei os pontos: “- A velha é melhor do que eu e ela que vá para o diabo que a carregue com sua moto e com aquele pançudo gay”. Claro que o cara não era gay mas naquele momento me fez um bem enorme caluniá-lo. O Cyro, não sei se pensou o mesmo ou ficou preocupado comigo, também voltou ao ritmo normal. Entendam que ritmo normal não é daqueles que ficam murrinhando não, andamos numa velocidade acima da media da turma daqui, principalmente nas curvas mas a velha era o bicho. Mais à frente voltamos a encontra-los (ambos com um sorriso zombeteiro) e ela falou para o Cyro que sua vida era em cima de uma moto viajando. Despedimo-nos e tomamos nosso rumo com auto-estima um pouco avariada, mas fazer o que? O raio da velha pilota pra cacete e não posso fazer nada a respeito disso, apenas reconhecer e reverenciar uma verdadeira virtuose.
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Por tudo isso encontramos a chuva no caminho e quanto mais subíamos mais ela piorava e a temperatura caía, pois estávamos atravessando nuvens. Passamos a tomar muito cuidado com as condições da Estrada, pois neste trecho os tuneis se sucedem e as condições de entrada e saída deles variam enormemente.
Quando começamos a descer, já próximos a nosso destino, a chuva parou e assim chegamos a Cherokee, ponto de partida para inúmeras opções que ainda estamos avaliando. Quando o Cyro mencionou o Tail of the Dragon juro que pensei na velha me ultrapassando miseravelmente na curva mais difícil. Só me resta dormir e sonhar que estou atirando com uma 12 nos pneus daquela Honda com motor em V.
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